Mesmo diante da flexibilização do uso de máscaras, com a liberação em espaços abertos em Porto Alegre e outros municípios gaúchos, e anúncio semelhante feito pelo governo do Estado, infectologistas, epidemiologista e virologista ouvidos por GZH acreditam que a pandemia de coronavírus deixará o uso da proteção como um legado, mesmo que não seja unanimidade entre a população.
Os especialistas ressaltam que a máscara deveria continuar, principalmente, em ambientes específicos, como hospitais e consultórios médicos, e ser usada por pessoas com sintomas gripais ou respiratórios, inclusive na rua, como medida de precaução e proteção aos demais.
Para o presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, Alessandro Pasqualotto, a pandemia de covid-19 deixará o uso de máscara como o legado mais evidente. Mesmo com um futuro controle da doença, o infectologista acredita que algumas pessoas continuarão usando máscara por questões higiênicas, por se sentirem mais seguras ou mesmo, socialmente, mais preservadas em relação à comunidade.
— No passado, víamos os orientais circulando em várias cidades pelo mundo usando máscara e achávamos um pouco estranho. Mas acho que, cada vez mais, será uma opção pessoal — opina.
Pasqualotto cita outros legados da pandemia: a agilidade dos hospitais para atender situações de epidemia e dos laboratórios para diagnósticos rápidos, a facilidade da comunicação online e a valorização da vida.
Já o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry lembra de legados de situações anteriores à pandemia que acabaram se tornando hábitos no Brasil, como o uso do cinto de segurança, mesmo diante de uma resistência inicial, e a proibição do fumo em locais fechados, considerada uma mudança de paradigma.
— Usar a máscara se tornará uma questão cultural, como já ocorre com os orientais. Nós, embora forçosamente, vamos adquirir (o hábito). Uma visita a um hospital, por exemplo, exige uma máscara, uma etiqueta respiratória importante. Pessoas mais idosas e imunocomprometidas, na época de inverno com ambientes menos ventilados, continuarão usando porque é, realmente, uma proteção efetiva. É um hábito que veio para ficar — acrescenta Petry.
A médica infectologista Andréa Dal Bó destaca que a máscara foi uma grande salvação no início da pandemia, e, nos dois anos mais recentes, acabou contribuindo para a redução da circulação de outros vírus respiratórios. Até por isso, ela acredita que muitos continuarão aderindo à máscara.
— Outro legado que a covid-19 trouxe, se é que podemos chamar assim, foi a questão da vacina. Houve uma verdadeira revolução com relação à produção de vacinas em tempo recorde, com novas tecnologias, como a vacina de RNA, que é algo que já vinha sendo estudado, e da vacina de vetor viral. Arrisco a dizer que evoluímos em dois anos o que evoluiríamos em dez anos, em termos de ciência — aponta Andréa.
Ainda que queira ter uma visão otimista, o virologista Fernando Spilki, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Universidade Feevale, percebe que apenas uma pequena porção da população seguirá usando máscara quando necessário.
— Acho que há uma descrença de alguns profissionais e até a não recomendação. Nos países asiáticos se usa a máscara no inverno, nas regiões mais populosas. Temos que lembrar que há povos mais ao Norte do planeta usando balaclava ou mantas para protegerem o rosto do frio e também com o intuito de evitarem problemas respiratórios durante o inverno. Me parece ser uma questão de proteção que deveria chegar para ficar. Vamos torcer que haja este entendimento ao longo do tempo — comenta Spilki.
O virologista acrescenta que uso da máscara poderia funcionar da seguinte forma: em surtos confirmados de resfriado, gripe ou covid-19, ao longo dos próximos anos, as pessoas deveriam lembrar do efeito benéfico da máscara e utilizá-la em ambiente fechado.