Apesar de ser a quarta unidade da Federação que mais vacina seus habitantes, o Rio Grande do Sul é afetado pelo baixo repasse de doses em virtude dos poucos acordos firmados pelo governo federal com farmacêuticas no ano passado. Como consequência, se o Estado mantivesse o ritmo de aplicação de doses em que conseguiu chegar no seu melhor dia de imunização, ainda assim só terminaria de vacinar os 5 milhões de gaúchos que fazem parte dos grupos prioritários em agosto.
A média de aplicação de doses no Rio Grande do Sul desde janeiro é de apenas 20 mil por dia, devido à escassez de vacinas. Mas, em 25 de março, o Estado conseguiu aplicar 62,8 mil doses.
São necessárias 10,16 milhões de injeções para os 5 milhões de gaúchos em grupos prioritários (45% de toda a população do Estado). Se, com maior envio de vacinas, os municípios aumentassem a velocidade de aplicação para 62,8 mil doses diárias, ainda assim seriam necessários 162 dias para terminar a cobertura apenas dos grupos mais vulneráveis definidos pelo Plano Nacional de Imunização (PNI).
Se ocorrer de finalizar a vacinação de grupos prioritários em agosto, o Rio Grande do Sul, assim como outros Estados, quebraria a projeção elaborada pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de que o Brasil vacinaria todos os grupos prioritários em maio e que, no mesmo mês, já começaria a imunizar a população em geral.
O aumento no repasse de doses por parte das farmacêuticas ao governo federal é, portanto, essencial para que o Rio Grande do Sul dê conta de vacinar sua população a tempo. No entanto, diversos empecilhos vêm se apresentando, como problemas na importação de vacinas e recusa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em aprovar alguns imunizantes – caso da Sputnik V ou da planta de produção da indiana Covaxin.
O efeito é que, após Pazuello prever 48 milhões de doses para o Brasil em março, a previsão caiu para 38 milhões e, no fim do mês, ficou em apenas 20,3 milhões, segundo levantamento do jornal O Globo.
Para abril, o baixo ritmo deve se manter. Apesar de o cronograma oficial do Ministério da Saúde prever 46,9 milhões de doses a serem enviadas aos Estados, o novo ministro, Marcelo Queiroga, declarou na quinta-feira (1º) que a previsão deve cair para 25,5 milhões. O motivo é o atraso na entrega da CoronaVac por parte do Instituto Butantan e da vacina de Oxford/AstraZeneca da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Ou seja, como o Brasil deve contar, em abril, com apenas 5,2 milhões de doses a mais do que em março, a velocidade da campanha de vacinação para este mês deve seguir semelhante à do mês passado em todo o país. Outro fator que deve influenciar no ritmo da vacinação contra a covid-19 é campanha contra a gripe, já que a orientação é espaçar no tempo ambas as imunizações.
A estimativa do governo do Estado é de que seja preciso vacinar de 60% a 70% da população para controlar a pandemia. Na prática, como o Rio Grande do Sul vacinou, até agora, 1,1 milhão de habitantes, faltaria aplicar a injeção, em estimativas gerais, em 5,7 milhões de pessoas para se aproximar da imunidade de rebanho.
— Nesse último mês, acelerou um pouco o repasse. De toda forma, a vacina muda o cenário, mas não resolve tudo. É uma das armas, junto com máscara, álcool gel, lavagem de mãos e distanciamento — destaca Ana Costa, diretora do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde.