A falta de medicamentos anestésicos, que tem levado hospitais a suspenderem cirurgias eletivas, está no topo da lista de problemas no Rio Grande do Sul. Pior em outros Estados, a dificuldade para comprar ou receber os insumos está piorando no Estado gaúcho.
Os medicamentos sedativos e anestésicos são usados em procedimentos com anestesia e em pacientes entubados. Como pessoas infectadas por coronavírus podem passar muitos dias na UTI, o consumo é acelerado — um estudo da Anvisa identificou que o gasto durante a pandemia é semelhante ao utilizado durante todo o ano de 2019.
Apesar de a compra dos insumos ser responsabilidade dos hospitais, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) está preocupada com o assunto. Segundo a secretária Arita Bergmann, apesar de o Estado ter preparado a rede de saúde, a dificuldade envolvendo medicamentos apareceu inesperadamente e, hoje, é o principal problema no enfrentamento da pandemia.
— O problema número um do Rio Grande do Sul hoje, como do resto do país, é a questão do kit entubação e dos anestésicos. (...) Esse é nosso gargalo número um hoje. Porque o Estado preparou a rede, está fazendo todo o trabalho de orientação, tentando diminuir a velocidade do vírus, e aí aparece esse novo problema que é a questão da medicação. Muito preocupante — disse, em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (3).
A SES está fazendo um levantamento para verificar se as distribuidoras dispõem destes insumos no Rio Grande do Sul — alguns hospitais alegam que não conseguem comprar e que as empresas não garantem prazos de entrega, e outros alertam para a falta dos medicamentos no mercado interno. Ao mesmo tempo, o Estado manifestou interesse na ata de registro de preços do Ministério da Saúde.
— Esperamos que o Ministério da Saúde consiga importar medicação. (...) Estamos orientando remanejo da medicação para poder suprir as carências — afirmou.
Além da dificuldade para encontrar o produto, o sobrepreço afeta os hospitais, já sobrecarregados com o custo do enfrentamento à pandemia.
— Eu não sei se há falta, mas temos a informação de que alguns hospitais que compravam por R$ 5 um produto, hoje ele está em R$ 25. Então também tem isso. A questão do preço é real. (...) Não sei o que vai acontecer, mas estamos muito atentos, em contato com Brasília, para verificar se há uma solução — disse.
Arita Bergmann também comentou sobre os números alarmantes de crescimento na demanda por leitos de UTI no Rio Grande do Sul. Segundo ela, o Estado tem usado todos os recursos possíveis — na última semana, 140 respiradores recebidos do governo federal foram repassados aos hospitais. No entanto, a população também precisa fazer sua parte:
— É importante que se diga que essa estrutura nunca será suficiente se não tiver medidas fundamentais para que a população, gestores e empresas também possam cumprir aquilo que está no protocolo do distanciamento controlado. Nossa fala se centraliza muito em mostrar para a população que, se puder, fique em casa, porque aglomerações são vetores de transmissão do vírus.
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Suspensão de cirurgias
Pelo menos 10 hospitais suspenderam ou reduziram procedimentos eletivos por falta de insumos no Estado. O levantamento, feito pela Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Rio Grande do Sul, leva em conta os dados coletados nesta quinta-feira (2) (veja lista ao fim do texto).
Entre 19 e 22 de junho, um levantamento da SES identificou que, de 22 medicamentos pesquisados, dois estavam em falta. Outros dois tinham estoque para entre dois e quatro dias, e outros dois, entre 12 e 18 dias. A coleta de dados, repassada a GaúchaZH pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), levou em conta os hospitais incluídos no Plano de Contingência estadual.
São sedativos, anestésicos, bloqueadores neuromusculares e medicamentos adjuvantes na sedação, utilizados na intubação e na manutenção da intubação.
Instituições que reduziram ou suspenderam cirurgias eletivas no RS
- Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas
- Hospital de Caridade de Ijuí
- Hospital Vida e Saúde, de Santa Ros
- Hospital Leonilda Brunet, de Ilópolis
- Hospital Panambi, de Panambi
- Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Camaquã
- Hospital Vila Nova, de Porto Alegre
- Hospital Geral, de Caxias do Sul
- Hospital de Caridade, de Carazinho
- Hospital Montenegro, de Montenegro