A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, disse que o uso do medicamento remdesivir pode não ser eficaz no tratamento de pacientes com o coronavírus. Há pesquisas conflitantes em relação ao antiviral.
— Não sabemos se é eficaz, mas o plano é continuar com as pesquisas, precisamos responder a questões como as taxas de mortalidade e de alta médica. Em algumas semanas, devemos ter mais resultados de estudos sobre taxas de mortalidade e altas médicas — afirmou Soumya, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (2).
Na última segunda-feira (29), o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) anunciou que os Estados Unidos compraram quase todo o estoque mundial de remdesivir. De acordo com o HHS, a administração de Donald Trump fechou um "acordo incrível" com o laboratório Gilead por 500 mil ciclos do medicamento nos próximos três meses. A compra dos Estados Unidos é equivalente a 100% da produção projetada pelo laboratório para julho e 90% do total a ser produzido em agosto e setembro.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou no fim de junho um estudo com remdesivir com 105 pacientes hospitalizados com pneumonia grave causada pelo coronavírus. A autorização foi solicitada pela empresa PPD Pesquisa Clínica.
No fim de maio, relatório preliminar publicado no New England Journal mostrou que o tempo de recuperação em pacientes hospitalizados por coronavírus foi menor para aqueles que tomaram o remdesivir em comparação com os que receberam placebo. A taxa de mortalidade também foi menor nos que receberam o antiviral.
Quem recebeu o remdesivir se recuperou, em média, após 11 dias, contra os 15 dias daqueles que tomaram placebo. Ao todo, participaram 1.063 pacientes, mas alguns desistiram no meio do estudo e outros morreram antes de concluir o período de avaliação. A taxa de mortalidade, analisada dentro do período de 14 dias, foi de 7,1% no grupo que recebeu o remdesivir, enquanto o grupo que recebeu placebo apresentou a taxa de 11,9%.
A cientista-chefe, porém, alertou que há outros estudos que mostram que o medicamento pode não ser eficaz no tratamento da covid-19.
Vacina
Soumya Swaminathan também falou sobre o avanço das vacinas contra o coronavírus. Ela pediu cautela para a população, apesar de ter admitido que há testes em estados avançados.
— Estamos aptos a comparar as vacinas que vêm sendo produzidas por diferentes farmacêuticas. Estamos ansiosos pelos resultados, mas é preciso ter consenso e muita colaboração. Não podemos acelerar o processo, temos que ter foco na ciência — disse.
A vacina em estágio mais avançado é a desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Na quarta-feira, Sarah Gilbert, professora de vacinologia da universidade, disse que a equipe tem obtido o tipo certo de resposta imune em testes, mas não afirmou quando ela estará pronta. Foram recrutados 8 mil voluntários para a terceira fase de testes da vacina, incluindo pessoas no Brasil.
Longo caminho pela frente
Líder da resposta da OMS à pandemia da covid-19, Maria Van Kerkhove afirmou que "ainda há um longo caminho pela frente" na pandemia. Kerkhove disse que a OMS espera que não seja mais necessário fazer lockdowns adiante, com os governos e as pessoas atentos para o equilíbrio entre os cuidados com a saúde e a necessidade de apoiar a atividade econômica.
Além disso, insistiu que já há instrumentos disponíveis para romper as cadeias de transmissão da doença, como o distanciamento físico, o uso de máscaras, a higiene das mãos, testes, rastreamento de contatos e o tratamento dos doentes.