Vitaminas são essenciais para o bom funcionamento do corpo. Contudo, para que esse mecanismo funcione corretamente, é preciso consumir as doses certas de cada uma delas.
— Ativadoras de enzimas e que trabalham no combate aos radicais livres, as vitaminas funcionam como os soldadinhos de uma guerra, que levam nutrientes de um lugar para o outro no corpo — diz Karina Hatano, professora de endocrinologia da Afya Educacional.
Uma alimentação correta já seria o suficiente para que uma pessoa saudável garantisse todas as vitaminas necessárias, mas médicos e nutricionistas explicam o quanto isso pode variar, pela idade, pela região que a pessoa vive, por suas condições socioeconômicas ou por seus hábitos.
— A dieta equilibrada já seria suficiente para obter todos os micronutrientes de um corpo saudável, como os carboidratos, proteínas, gorduras e sais minerais. No Brasil, porém, cerca de 60% da população não consegue se alimentar de forma completa — afirma Hatano.
Isso ocorre por questões socioeconômicas e também geográficas.
— A vitamina A, por exemplo, é muito consumida no Norte e Nordeste, porque há abundância de batata, de mandioca. Já quem mora no Sul tem deficiência de vitamina D por falta de sol — explica a médica.
Os sintomas de falta de vitaminas no organismo são muito variados porque dependem da vitamina que falta, por isso os multivitamínicos entraram na moda. A analista de inovação, Livia Lopes, 37, consome o produto vez ou outra.
— Cada dia eu como uma coisa diferente, equilibro legumes mais escuros, mais claros, saladas, frutas, peixe, carnes branca e vermelha. E uma vez por ano eu tomo um pote de multivitamínicos para caso esteja faltando alguma coisa. Nem sei se isso funciona — disse.
Fazer mal não faz, mas também pode não ter benefício nenhum tomar vitaminas por conta própria segundo Hatano.
— A diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva é que seja receitado suplemento vitamínico para atletas ou para quem tem carência. Na pediatria também, quando é preciso fortificar alguns elementos como cálcio e ferro — disse.
Hatano diz que as vitaminas não absorvidas pelo corpo serão liberadas pelo urina e não farão nenhuma diferença.
Para Matheus Sanrromão, endocrinologista da Central Nacional Unimed, o solo brasileiro não entrega todos os nutrientes aos alimentos e, por isso, a suplementação é bem-vinda.
— Por exemplo, a rocha vulcânica dá ao solo magnésio e o manganês. É bom porque não temos vulcão, mas isso deixa os alimentos pobres em alguns quesitos — afirmou.
A bibliotecária Juliana Calherani, 35, afirma que sente diferença no corpo ao tomar vitamiinas.
— Ano passado, comecei a tomar porque eu estava correndo bastante e achava que não tinha uma alimentação adequada o suficiente. Eu não tomava todos os dias, mas quando eu tomava, eu me sentia mais disposta — disse.
No caso de Calherani, a endocrinologista Karina Hatano afirma que o suplemento faz diferença, já que o corpo dela necessita de mais nutrientes para praticar corrida. A alimentação e a suplementação fará diferença de acordo com o organismo de cada um. Muda muito, por exemplo, a quantidade de vitamina necessária para o corpo de um adulto e para o corpo de um idoso, afirma a especialista.
O ideal é fazer check-ups anuais para saber como estão as dosagens de vitaminas no corpo e fazer essa análise de acordo com a idade e os hábitos do paciente. Se houver carência importante de alguma delas, o médico saberá dizer o quanto é preciso repor. Livia Lopes, por exemplo, diz que o médico já a diagnosticou com baixa vitamina D, mas não receitou a ingestão extra da vitamina.
— Ele apenas pediu para eu me expor mais ao sol — disse a analista.
Mas outros pacientes podem precisar ingerir uma dose maior de vitaminas, por cápsulas.
— Os multivitamínicos têm quantidades padronizadas de cada tipo de vitamina e isso varia em cada país — afirma Sanrromão.
É necessário seguir as orientações do médico sobre a alimentação, já que certos tipos de nutrientes podem ajudar na absorvição de uma vitamina ou podem contribuir para que ela seja eliminada.
— É preciso ingerir as vitaminas e as gorduras que ajudam nessa absorção. Não basta, por exemplo, só comer frango com alface — afirma a nutricionista Ana Cecília, da academia By Edu Gusmão.
Sabe aquela máxima de que consumir laranja (vitamina C) durante a refeição ajuda a absorver o ferro da carne que está no prato? É verdade. Bebida à base de cafeína também podem prejudicar na absorção de ferro.
— Café, por exemplo, possui alguns compostos, como os taninos, que podem inibir a absorção de ferro e outros minerais, e a cafeína (alcaloide) pode aumentar a excreção urinária de cálcio — explica a nutricionista.
E o consumo em excesso do cálcio, na forma de suplemento, pode diminuir a absorção de magnésio, zinco, cobre, manganês, além do ferro. Os multivitamínicos também têm esse problema.
— Esses produtos são compostos por vitaminas e minerais, com dosagens e fórmulas diferentes, que nem sempre atendem às necessidades individuais — explica Ana Cecília.
Ingerir vitaminas e outros micronutrientes sem necessidade, prescrição ou acompanhamento profissional podem, sim, trazer malefícios, segundos os especialistas ouvidos pela reportagem.
— A vitamina D entrou na moda, e as pessoas tomam doses altas e passam do limite necessário do corpo. Descobriu-se que o déficit dela pode prejudicar a perda de peso, pode ter relação com a osteoporose, mas sua superdosagem por gerar um processo inflamatório no organismo — afirma Hatano.
O endocrinologista Renato Zilli lembra que as vitaminas em cápsulas não têm o mesmo efeito da vitamina que é consumida com as frutas e outros alimentos e que o excesso pode gerar sintomas simples até a morte.
— É um processo demorado e por ter dezenas de sintomas diferentes, mas é preciso tomar cuidado com o consumo exagerado — alertou.
Imunidade e quarentena
Com a crise do coronavírus, tudo mudou na vida da maioria da população. A atriz matogrossense Denise Dias, 27, adora tomar sol e se preocupa em manter as doses de vitamina D em dia.
— A sacada da minha casa foi adaptada até para eu me sentir melhor em casa. Tem uma cadeira, uma caixinha de música, tomo uma água de coco e entro no clima, como se eu estivesse na praia — contou.
Dias trabalha como garota propaganda de bronzeamento artificial e está sempre com a malhação em dia. Para ela, o médico receitou suplementação de vitamina C e D, e zinco.
— Nunca tenho gripe, mas sei que também é preciso se alimentar bem, dormir bem, evitar o stress — disse.
Para se exercitar em casa, ela usa cabo de vassoura, embalagens de produto de limpeza e até sacos de arroz e feijão. Essa combinação ajuda o corpo a ter uma melhor imunidade, sem precisar ficar na receita da vitamina C, tão usada pela população.
— A vitamina C é muito conhecida como antioxidante e por dar imunidade respiratória, mas ela ajuda no antes, na prevenção, e não no durante, Já a vitamina D tem a função hormonal e tem sido estudada para muitas coisas. Uma das delas é fortalecer a imunidade — diz Hatano.
O ideal mesmo é garantir a dieta equilibrada.
— No isolamento, as pessoas estão comendo mais congelados e processados, sofrendo de estresse e depressão. Frutas e legumes estão ficando de lado. E isso é o mais importante — lembrou Zilli. — Nada substitui uma alimentação bem feita — defendeu.
Para sair desse ciclo, é importante manter a rotina, afirma a nutricionista Ana Cecília.
— Mantenha a organização dentro de casa e o planejamento das tarefas que precisam ser feitas. Isso tudo auxilia a diminuição da ansiedade e consequentemente, minimiza as chances do paciente se alimentar mal — disse.