A pandemia de coronavírus que assola o mundo deixará aprendizados nos âmbitos da ciência e da sociedade. Essa é a avaliação do médico Gustavo Faulhaber, preceptor da residência médica em Medicina Interna do Hospital de Clínicas e diretor da Unimed Porto Alegre. Em conversa com o apresentador do Grupo RBS Daniel Scola na série As Respostas da Ciência, Faulhaber diz que a história da humanidade já mostrou esse avanço após outras crises e pandemias.
— Dessa pandemia, o que a gente vê? Uma resposta coordenada entre países. Um esforço muito rápido no desenvolvimento de drogas, no desenvolvimento de vacinas. É uma doença onde a gente teve uma produção de milhões e milhões de kits de diagnósticos com dois meses. Imagina se isso no passado seria possível — analisou.
Em relação à civilização, o médico cita o desenvolvimento e a consolidação da telemedicina, e estudos online como pontos positivos que vão permanecer após a crise sanitária ser superada.
Criação de vacina contra o coronavírus
Faulhaber estima que estamos a pelo menos um ano de distância da criação de uma vacina contra o coronavírus. Citando o fato de diversos países estarem em fase de estudos sobre a imunização, o especialista destaca que o processo de elaboração de uma vacina é demorado e precisa respeitar uma série de etapas.
— A gente já tem o desenvolvimento. Só que testes para a gente avaliar a eficácia da vacina são demorados. Leva pelo menos um ano, um ano e meio para que a gente tenha a liberação de uma vacina eficaz e testada para o uso.
Cloroquina
Questionado sobre o uso de cloroquina no combate à covid-19, Faulhaber ponderou que estudos sobre a efetividade ou não da droga no tratamento contra os sintomas da doença ainda estão em curso. O médico destacou que a cloroquina já mostrou ser um “potente inibidor” de uma série de vírus em testes in vitro, mas que esse resultado não pode ser levado em conta para a utilização em seres vivos.
— Entre a gente ter uma resposta in vitro e in vivo existe uma distância muito grande. Pega a própria cloroquina, essa mesma sensibilidade que se viu in vitro não se comprovou ser útil para o tratamento de outras doenças infecciosas — explicou.
Atendimento a outras doenças
Em relação ao atendimento a outras doenças diante do combate ao coronavírus, o diretor da Unimed Porto Alegre afirma que é necessário ter um equilíbrio nas restrições impostas dentro das casas de saúde. Faulhaber destaca que isso garante serviços, como emergências cirúrgicas e tratamentos de câncer. Por outro lado, o profissional entende que atendimentos eletivos e de menor complexidade podem ser remanejados.
— Do ponto de vista de gestão de saúde, é importante, principalmente nessa fase onde não houve a sobrecarga do sistema, a gente determinar níveis de necessidade, de urgência de atendimento de outras condições de saúde e seguir o atendimento dessas pessoas ao longo da pandemia. A gente não pode simplesmente parar tudo — pontuou.
Segundo o diretor, a recomendação aos pacientes que estão tratando doenças mais graves, como câncer, ocorre no sentido de manter esse acompanhamento, sempre avaliando os riscos e benefícios de eventualmente adiar algum procedimento.
Testagem
Faulhaber avalia que o Brasil está muito atrás de outros países na questão de testagem em massa da população. Reforçando que essa medida é um dos pilares do controle do coronavírus e uma recomendação mundial, o diretor afirma que esse processo tem se mostrado eficaz em alguns países:
— Em vários países, principalmente no Oriente e também ali junto à Ásia, a gente tem uma estratégia que vem dando certo, fazendo isso de forma muito agressiva e isolando essas pessoas. Isso consegue de fato reduzir a transmissão e controlar melhor a doença em nível populacional.
Em relação aos testes mais eficazes, Faulhaber cita o PCR, que identifica a doença com melhor precisão. Segundo o médico, os chamados testes rápidos, que detectam apenas os anticorpos do paciente, são eficientes para verificar quantas pessoas tiveram a infecção e adquiriram imunidade, como ocorre no estudo desempenhando pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).