GaúchaZH perguntou a cinco psicólogos e psicanalistas: como abordar a pandemia de coronavírus com as crianças e os adolescentes? Como explicar a gravidade sem escorregar para o pânico? Veja o que eles responderam.
Julio Cesar Walz, psicólogo e psicanalista, autor do livro Aprendendo a Lidar com os Medos: A Arte de cuidar das Crianças: "Informações claras e precisas não geram pânico. Ou melhor, não geram o sentimento de 'sem saída'. Com informações honestas e verdadeiras, podemos fazer algo e sair do pânico. Além disso, normalmente geram boas ações de autocuidado. O medo não ensina, ele apenas domestica. O pânico é gerado porque já antes estamos em pânico ou porque somos nervosos naturalmente diante das dificuldades. Isso não é um problema, cabe ressaltar. É apenas o jeito que conseguimos construir para viver. Mas precisamos saber que, se somos assim, assustados, mais vulneráveis somos para buscar milagreiros. E quando somos assim, é importante termos o cuidado conosco para não enveredar pelo caminho da onipotência ou da busca de soluções mágicas. Existe uma máxima, da psicanalista Françoise Dolto, da qual tenho profunda convicção: 'As crianças suportam a verdade melhor do que os adultos'. Isso não significa falar no assunto de qualquer forma, do tipo largar a bomba e sair correndo, ou falar num tom de terror. Apenas a verdade é suficiente. Na verdade e na clareza, não há drama. E, nesse tom, as crianças vão interagindo, fazendo perguntas e inclusive nos propondo soluções para que elas também não se sintam sem saída, e até podem ter ideias que nunca teríamos por nós mesmos".
O que diz Giuliana Chiapin, psicóloga e mestre em saúde mental e desenvolvimento infantil pela Tavistock Clinic/Londres: "É essencial que crianças e adolescentes entendam o que está acontecendo. Jamais instigar o medo. Crianças são muito mais atentas do que parecem ser, com a dificuldade de que elas não têm o repertório, a maturidade ou acapacidade cognitiva muitas vezes de darem sentido às informações/palavras que ouvem, criando assim suas próprias teorias. Dessa maneira, quanto mais amparadas, informadas e confortáveis estiverem, menos fantasias e temores são criados. Da mesma forma, menos em risco se colocam. Crianças e adolescentes têm papel fundamental em não disseminar o vírus, e é importante que elas possam ser informadas, possam ter a oportunidade de entender e fazer parte desta rede de prevenção e cuidado. É também uma bela oportunidade para entenderem que nem tudo está sempre garantido e que, com coerência, é possível enfrentar os obstáculos e o desconhecido. Elas devem se entender como parte de um sistema e que o cuidado delas promove o cuidado ao outro, que o interesse delas às vezes precisa ser deixado temporariamente de lado".
O que diz Diana Corso, psicanalista e coautora dos livros Fadas no Divã e A Psicanálise na Terra do Nunca: "As crianças miram-se em seus adultos e, para se tranquilizar, imaginam que eles são muito poderosos. Evidentemente, é assustador vê-los tão impotentes frente a um fenômeno verdadeiramente poderoso como uma epidemia. Isso falando apenas na ameaça, imagine quando isso se torna real: as pessoas em volta adoecem e morrem. É momento de tranquilizá-las, dentro do possível, para que elas possam voltar a sentir pelo menos um pouco de confiança. Faremos isso explicando o que sabemos sobre o que está acontecendo, as providências que estamos tomando, lembrando-as que tem muita gente trabalhando junta para que tudo volte ao normal. Elas precisam ser lembradas de que temos algum conhecimento e capacidade de solidariedade para nos ajudar a sobreviver".
O que diz Paulo Gleich, psicanalista e jornalista: "Algum medo é inevitável de ser transmitido, afinal de contas, é o motor que, nesse momento, nos leva a todos a renunciar a eventos, encontros, etc. O medo é uma função normal, nos preserva de nos expormos a riscos desnecessários. Isso as crianças e adolescentes já devem ter aprendido antes com outras coisas, como não brincar com fogo ou eletricidade, não fornecer informações pessoais a estranhos. Como as informações serão transmitidas a eles varia muito de como cada responsável lida com a situação. Vale mostrar que, mesmo o vírus não oferecendo grande perigo de morte a crianças e adolescentes, faz muita diferença o número de pessoas contagiadas simultaneamente. Então, ao evitar se expor ao contágio, se está ajudando muitas outras pessoas, mais vulneráveis, a se protegerem. Novamente, está se praticando a solidariedade, a relação com o coletivo".
O que diz Abrão Slavutzky, psicanalista e autor do livro Quem Pensas tu que eu Sou?: "Crianças sofrerão mais, mas já há filminhos explicando o que é o ataque do vírus e como se proteger. Há muita coisa ótima nas redes, é preciso buscar. Jornalistas podem investigar e divulgar. Adolescentes já têm mais recursos e são craques na realidade virtual. Importante as escolas darem aulas via internet. Os desafios geram surpresas. A TV pública argentina, por exemplo, vai oferecer quatro horas diária de programação para essas faixas etárias. Os artistas e os cientistas, tão atacados ultimamente, são mais importantes do que as armas no momento atual. As artes têm uma função terapêutica, aumentam o mundo imaginário".