Cinemas fechados, shows cancelados, novelas interrompidas, campeonatos esportivos paralisados, bares e boates suspensos em Porto Alegre. A diversão como a conhecíamos mudou. Durante a pandemia de coronavírus, ganham força entretenimentos solitários – há quem esteja redescobrindo a leitura, por exemplo. Mas mesmo esses, em algum momento, buscarão a coletividade. Postam nas redes sociais os livros que estão lendo, dão indicações, pedem outras.
— Tem aquele ditado, quem não é visto não é lembrado. Não queremos desaparecer. O ser humano só se acredita vivo quando alguém sabe de sua existência. Pensar que alguém se importa com o que fizemos é o que nos move às redes — comenta a psicanalista Diana Corso, coautora, com o marido, o também psicanalista Mário Corso, dos livros Fadas no Divã e A Psicanálise na Terra do Nunca.
Sem os palcos, sem as ruas, artistas como Chris Martin, da banda Coldplay, Miley Cyrus e John Legend têm usado o Instagram para entreter seus fãs. Diana vê com ressalvas:
— Onde é que está escrito que a gente tem de se divertir o tempo todo? Estamos ingressando num tempo que se compara ao de uma guerra. Vamos sofrer privações. Entre elas, a das diversões, públicas ou não. Não adianta se atirar no chão da loja de brinquedos que não vamos ganhar a boneca.
Colunista de GaúchaZH, Mário Corso entra na conversa para arrematar:
— As pessoas andam infantilizadas, mas o mundo é duro. Há uma mensagem maravilhosa que vem circulando, aquela que diz que nossos avós foram chamados para a guerra e, a nós, só estão pedindo que a gente fique em casa, no sofá. É isso. Está na hora de crescer e deixar de ser criança. Não dá para ficar fazendo festinha o tempo inteiro, como o (presidente) Bolsonaro fez no domingo (quando, com suspeita de que pudesse estar com coronavírus, não seguiu a orientação de evitar aglomerações e contato físico, cumprimentando manifestantes e posando para selfies). Eis alguém que pensa que ninguém tem o direito de opinar sobre seu gozo.