Fala-se muito da importância da solidariedade durante a pandemia de coronavírus, mas também bate-se bastante na tecla do distanciamento social. Como encontrar o equilíbrio? Um dos caminhos é, ironicamente, transformar em aliada a tecnologia, que volta e meia é acusada pelo afastamento das pessoas.
— O isolamento é físico, não social — aponta a psicóloga Giuliana Chiapin.
— É possível estar próximo, em contato, sem estar fisicamente presente — reforça o psicanalista Paulo Gleich.
Isso vale especialmente para a postura frente a um dos grupos de risco: os idosos. Por um lado, eles precisam de carinho e de cuidado, inclusive dos netos, mas, por outro, devem ser protegidos do contato — como o das crianças, que podem ser assintomáticas.
— Provavelmente os idosos solitários e/ou negligenciados por seus familiares seguirão sem ser cuidados, bem como aqueles que contam mais com a presença de seus próximos seguirão sendo amparados, embora de outras maneiras — comenta Gleich.
Evitar contato presencial não significa abandono. São infinitas formas de continuar cuidando. É possível seguir telefonando, mandando mensagens, demonstrar interesse e preocupação, auxiliar nas tarefas fora de casa. Netos podem enviar desenhos, fazer videochamadas...
GIULIANA CHIAPIN
Psicóloga
— Evitar contato presencial não significa abandono, desamparo. Assim como com as crianças, é preciso explicar a eles o que se passa, quais os riscos e o porquê das mudanças de rotina no convívio, temporariamente — diz Giuliana. — São infinitas formas de continuar cuidando. Enquanto isso, é possível seguir telefonando, mandando mensagens, demonstrar interesse e preocupação, auxiliar nas tarefas foras de casa, verificar se possuem os mantimentos necessários. Netos podem enviar desenhos, fazer videochamadas... Enfim, uma das principais capacidades do ser humano é a de manter-se emocionalmente conectado.
A velhice, para muitos, é o momento da "descoberta do tesouro dos vínculos", define a psicanalista Diana Corso:
Depois de muita luta, de tantas conquistas e fracassos, acabamos concluindo que nossa família e nossos amigos são o único valor que realmente faz diferença. Por isso, impor um isolamento que priva os idosos desse valor maior pode equivaler a uma desertificação insuportável. É preciso convencer nossos mais velhos de que isso é imprescindível, temporário e que, paradoxalmente, não visitá-los é uma forma de amá-los.
DIANA CORSO
Psicanalista
— Depois de muita luta, de tantas conquistas e fracassos, acabamos concluindo que nossa família e nossos amigos são o único valor que realmente faz diferença. Por isso, impor um isolamento que priva os idosos desse valor maior pode equivaler a uma desertificação insuportável. É preciso convencer nossos mais velhos de que isso é imprescindível, temporário e que, paradoxalmente, não visitá-los é uma forma de amá-los.
O psicanalista Abrão Slavutzky sentiu na própria pele esse distanciamento. Recentemente, a família tomou a decisão de interromper sua rotina com o neto caçula, a quem ele buscava na escolinha todas as terças e quintas.
— Tenho de encarar como se eu fosse viajar — ri Abrão. — Agora estou rindo enquanto te digo isso, mas na hora foi um baque.
Como uma espécie de compensação material para o neto, Abrão pediu que ele escolhesse um brinquedo.
— Ele respondeu que queria um Homem-Aranha com garra. Nunca vi, mas ele disse que tem! Vou atrás, será o representante meu e da minha esposa nessa quarentena. E esse Homem-Aranha com garra tem uma dimensão simbólica: é de garra que todos nós vamos precisar.