As férias de uma família argentina em Itapema, Santa Catarina, foram interrompidas pela morte de um de seus integrantes, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. O alento para a dor da perda surgiu da decisão de doar os seus órgãos. Os pulmões e os rins vieram para o Rio Grande do Sul.
Na última sexta-feira (23), o turista de 42 anos foi encaminhado para um hospital local com o diagnóstico de AVC. Como a unidade não contava com UTI, logo ele foi transferido para o Hospital Municipal Ruth Cardoso (HMRC), em Balneário Camboriú.
Na manhã do domingo (25), sua morte encefálica foi detectada e a família, informada.
— Completado o protocolo de morte encefálica, avisamos a família e em uma segunda etapa ofertamos a doação de órgãos —explica Rafael Lisboa, coordenador-adjunto da Central de Transplantes de Santa Catarina.
Segundo o enfermeiro coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do HMRC, Grey Filippi, esse foi o terceiro caso na instituição de turista estrangeiro que morre e tem seus órgãos doados para brasileiros.
Após o consentimento dos parentes, por volta das 11h, a corrida contra o tempo começou: são necessárias, em média, cerca de quatro horas para retirada dos órgãos que podem ser doados. No caso do argentino, houve captação das córneas, do fígado, dos rins e dos pulmões.
A equipe também precisa ser ágil para manter os órgãos intactos —pulmões devem ser transplantados dentro de quatro horas após sua captação, enquanto os rins podem esperar por até 36 horas.
Depois que a análise dos pulmões e rins foi concluída e assim que a compatibilidade com pacientes que aguardavam na fila de transplantes do Rio Grande do Sul foi confirmada, uma equipe médica gaúcha se deslocou em voo fretado até o aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina, onde um helicóptero os esperava. De lá, foram levados ao HMRC, para coletar os órgãos doados.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o receptor já se preparava para receber os pulmões. De acordo com Lisboa, a transferência dos órgãos para o Rio Grande do Sul se dá em função de o Estado ser referência nesses tipos de transplantes — assim como São Paulo — e pela proximidade geográfica, que agiliza o processo, que deve ser concluído em quatro horas. Como a lista de espera prioriza, além da compatibilidade sanguínea e condições favoráveis do receptor (ele deve estar com a saúde em dia), esses dois órgãos vieram para cá.
Apesar de todo o procedimento ter sido feito no Estado, não é possível afirmar que o receptor é gaúcho. Por dois motivos: primeiro, porque todos os trâmites dos transplantes são mantidos em sigilo — por questões éticas, nomes de doadores e receptores nunca são divulgados —, e segundo porque, como é referência nessas cirurgias, o Rio Grande do Sul também atende pacientes de outros Estados, que passam a viver aqui tão logo se aproximam do topo da lista.