Pontos do bairro Praia de Belas voltaram a alagar nesta segunda-feira (3) em razão da elevação do Guaíba. Conforme medição das 6h15min, o nível na Usina do Gasômetro marcava 3m85cm, 25 centímetros acima da cota de inundação.
Na Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto a água chegava até a altura do joelho. A Avenida Borges de Medeiros também apresenta pontos com água sobre a pista. A Aureliano está bloqueada para trânsito entre a Borges de Medeiros e Edvaldo Pereira Paiva.
Problema recorrente
Na quarta-feira da semana passada, 29 de maio, o bairro voltou a registrar alagamentos. Na Aureliano entre Edvaldo Pereira Paiva e Borges de Medeiros o nível da água atingiu a metade de um veículo estacionado.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou que naquela região, o escoamento das águas pluviais é por meio da gravidade para o Arroio Dilúvio. Como o nível do Guaíba segue elevado, o arroio também está com a capacidade comprometida, o que faz com que a água que deveria escoar, retorne pelas bocas de lobo.
No último dia 23 de maio, os moradores de diversos bairros de Porto Alegre registraram rápida ascensão da água e alagamentos em diversas vias. Entre os registros de aumento do volume estão vias de áreas como Menino Deus, Praia de Belas, Cidade Baixa, Santana, Centro, São Geraldo, Restinga e Floresta. O Dmae atribuiu o transtorno ao acúmulo de lixo e restrições no funcionamento de casas de bombeamento.
Sem casas de bombas
Conforme o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), parte dos trechos alagados não é atendida por nenhuma casa de bombas. A explicação da prefeitura é que, como o nível do Guaíba segue elevado, o Arroio Dilúvio também está com a capacidade comprometida "o que faz com que a água que deveria escoar retorne pelas bocas de lobo".
— Ali a água escoa por gravidade e não é direcionada por casa de bombas. Então, acaba variando com o nível do Arroio Dilúvio e do Guaíba, que ocorre de subir e descer por vezes ao dia. Como o nível ainda está alto, acaba represando durante o dia. Eu tenho recebido alguns relatos e já pedi para uma equipe verificar ali se há alguma alternativa diferente pra gente fazer naquela região para tentar drenar aquela água — explicou o diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss.
— Por conta da gravidade, a água vai sempre dos pontos mais altos para os mais baixos. Com o Guaíba alto, o trecho final do Dilúvio (na região do bairro Praia de Belas) também fica alto. Tubulações que não estão conectadas a uma casa de bombas podem gerar essa reversão de fluxo e alagar as partes baixas — pontuou — Essa é a situação na qual só conseguimos tirar a água das partes baixas com o uso de uma casa de bombas. Não tem outra maneira, porque esse fluxo só vai se inverter quando o Guaíba estiver mais baixo — diz Dornelles.
Um mês da enchente na Capital
A pior enchente da história de Porto Alegre completa um mês nesta segunda-feira (3). Com elevações e recuos do Guaíba, a cidade segue imersa no desafio de recompor os danos provocados pela maré barrenta que invadiu ruas e cercou prédios. O trabalho será árduo e prolongado: montanhas de móveis, roupas e lama retiradas de casas e empresas ocupam calçadas e canteiros da Zona Sul à Zona Norte, do Centro Histórico ao 4º Distrito. Há mil residências sem luz e o abastecimento de água segue intermitente em alguns bairros.
A prefeitura estima perdas de até R$ 8 bilhões em razão da catástrofe e mobiliza equipes para tentar desmontar as pilhas de lembranças de uma vida que já não existe mais. Até a noite de sábado (1º), foram retiradas 25,6 toneladas de resíduos e lodo das ruas pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). No domingo, as equipes estavam em sete bairros tentando restituir à cidade sua antiga forma. Na Vila Farrapos, uma retroescavadeira erguia restos de mobília e os lançava dentro de um caminhão.
O desastre climático afetou de alguma forma 39 mil edificações e 157 mil pessoas — o equivalente à população de um município como Cachoeirinha e superior ao número de habitantes de 97% dos municípios gaúchos. No ápice da enchente, havia 14,3 mil moradores alojados em 135 abrigos. Um total de 86 praças foram alagadas, 1.081 quilômetros de vias públicas ficaram obstruídas, 41 escolas municipais e 31 estabelecimentos de saúde foram atingidos, entre eles dois hospitais.