
A fumaça branca que ganhou os céus de Roma na tarde desta quinta-feira (8) anunciou a escolha de um novo líder para a Igreja Católica. Sob o nome de Leão XIV, o norte-americano Robert Prevost se tornou o primeiro representante dos Estados Unidos a assumir como pontífice. Entre os principais desafios do sucessor do papa Francisco (1936–2025) está a missão de seguir aproximando a Igreja da juventude.
É por isso que o anúncio do novo pontífice era especialmente aguardado pela parcela mais jovem da Igreja Católica, que via na figura de Francisco uma espécie de "defensor".
É o que explica a estudante de psicologia Isabela Danzmann, 19 anos, catequista e integrante do CLJ da paróquia Divino Espírito Santo, de Cachoeirinha. Para ela, a expectativa é de continuidade:
— O Papa Francisco era alguém que intercedia pela juventude. Ele sempre gostou de estar no meio dos jovens, de ver essa face de renovação da Igreja, e espero que o novo papa também seja um defensor da juventude. São João Paulo II dizia que "a Igreja só será jovem quando os jovens forem a Igreja". Acho que isso é o que qualquer pontífice deve buscar.

A esperança é compartilhada pelo produtor de eventos Nickolas Brum, 26 anos, integrante da Paróquia Mãe do Perpétuo Socorro, de Porto Alegre. Para ele, é grande a responsabilidade de suceder Francisco – alguém que viu na juventude católica uma prioridade e buscou romper a rigidez que, por vezes, distancia a Igreja dos mais jovens.
— A missão do novo papa será manter essa proximidade com a juventude. Temos a esperança de que ele também reconheça que os jovens são a continuidade da Igreja — ressalta o jovem, citando a especial atenção de Francisco para as questões que mobilizam a juventude contemporânea:
— O papa Francisco se mostrou aberto à inclusão da diversidade e abraçou grupos tradicionalmente excluídos. Ele foi alguém que ensinou na prática o que é o amor de Cristo, sempre através das ações e da humildade, não do autoritarismo. É isso que espero do sucessor dele.
A estudante de administração Gabriela Pereira, 24 anos, da paróquia Santo Inácio, de Esteio, também vê no pontificado de Francisco uma abertura valiosa. Contudo, a jovem pondera que os posicionamentos do antecessor de Leão XIV nem sempre eram bem interpretados.
O papa Francisco foi alguém que ensinou na prática o que é o amor de Cristo, sempre através das ações e da humildade, não do autoritarismo. É isso que espero do sucessor dele.
NICKOLAS BRUM
Ao projetar como serão tratados daqui para frente alguns dos temas considerados sensíveis dentro da Igreja Católica, a exemplo da união de casais homoafetivos, a jovem acredita que o novo pontífice seguirá a mesma linha de seu antecessor:
— É preciso entender que a verdade da Igreja não muda. Aquilo que está determinado, está determinado. O que Francisco trouxe foi uma abertura à pessoa humana. Ele abriu as portas da Igreja a todos, pois queria que todos estivessem próximos de Deus. Não era sobre ser a favor ou contra a homossexualidade, era sobre ser a favor das pessoas. Nesse sentido, acredito que o novo papa continuará entendendo que todos são filhos de Deus.
Missão atemporal
A redatora Maria Luiza Rodrigues, 24 anos, participante da paróquia Nossa Senhora das Graças, de Gravataí, acredita que o grande desafio de Leão XIV não está na administração de questões políticas, mas em conseguir atrair os jovens para dentro da Igreja.
São João Paulo II dizia que "a Igreja só será jovem quando os jovens forem a Igreja". Acho que isso é o que qualquer pontífice deve buscar.
ISABELA DANZMANN
A jovem pondera que esta não é uma missão nova. Ainda assim, é algo que ganha cada vez mais importância e que exigirá atenção do novo pontífice:
— Em cada momento da história, a Igreja teve os seus desafios, mas atrair os jovens é uma missão de qualquer tempo, porque o povo de Deus precisa seguir se renovando. O evangelho nos diz: "Ide e ensinai a todas as nações". Essa pauta vai ser sempre uma pauta prioritária.
A jovem observa que Francisco conseguiu se tornar uma espécie de consenso – um "papa pop", como costumava ser definido. Isso também contribuiu para aumentar a simpatia dos jovens pela Igreja, mas não necessariamente será uma característica de Leão XIV.
— O papa Francisco conseguiu ser muito querido entre muitas pessoas. Ele rompeu totalmente a bolha, virou uma figura simpática até mesmo para quem não é católico. É difícil saber se o novo papa será tão carismático quanto Francisco foi, mas ele demonstra também ser disposto ao diálogo e defensor da paz e da caridade — projeta Maria Luiza.
E o santo millennial?
Um dos primeiros acenos de Leão XIV para a juventude pode estar na concretização da canonização de Carlo Acutis. O italiano, que morreu em 2006, aos 15 anos de idade, estava prestes a se tornar o primeiro "santo millennial". Contudo, a cerimônia de canonização, prevista para 27 de abril, acabou adiada diante do falecimento de Francisco.
Isabela Danzmann projeta que o novo papa dará continuidade ao processo de canonizar Carlo Acutis o mais rápido possível. O novo santo tem potencial para se tornar uma figura representativa, que ajudará a mostrar que a Igreja também é lugar da juventude, detalha a jovem:
— Carlo Acutis adorava videogame, futebol, era um jovem que viveu plenamente sua geração, que agora será canonizado. Ou seja, para ser santo, não é preciso abdicar da juventude. Podemos continuar jogando bola, usando calça jeans, bebendo refrigerante e comendo cachorro-quente. A santidade está mais próxima do que muitos jovens podem imaginar, o céu é logo ali, sabe?
Vulnerabilidades da juventude
Isabela observa que o avanço do movimento neopentecostal também é um obstáculo à missão de atrair mais jovens para a Igreja Católica. Nesse sentido, ela acredita que um caminho para o novo pontífice possa estar na valorização da figura de Maria.
— Nossos irmãos evangélicos não veem Maria como uma pessoa santa, e acho que o nosso caminho pode contagiar os jovens com esse amor que sentimos por Ela. Se a terra em que Jesus pisou foi santa, imagine só o ventre em que Ele foi formado — destaca.
Já Nickolas observa que, além de atrair os jovens, o novo pontífice precisa conseguir voltar os olhos da Igreja às camadas mais vulneráveis da juventude.
— Por mais que tivéssemos uma liderança progressista, as igrejas individuais não aderiram 100% ao seu propósito. O pensamento generalizado ainda é excludente e deixa de lado, principalmente, a juventude negra, pobre e periférica, que mais se assemelha ao próprio Cristo. Tivemos avanços importantes nesse sentido, mas ainda precisamos avançar muito na construção de uma Igreja realmente próxima de quem mais precisa dela — opina o jovem, que é morador do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre.