Os táxis de Porto Alegre ganharam uma nova opção para fugir dos congestionamentos da cidade. A partir desta segunda-feira (28), os veículos têm direito a usar as faixas azuis, antes utilizadas exclusivamente por ônibus e lotações — com exceção das chamadas "vias de contrafluxo" das avenidas Cristóvão Colombo e Independência, no sentido único do bairro para o Centro. Os corredores de ônibus, que têm muretas de concreto para separar os automóveis, continuam restritas aos coletivos.
Desde o início da manhã, o espaço já estava sendo usado por taxistas na Independência, onde desde 21 de outubro a faixa da direita é dedicada ao transporte público, das 6h às 9h e das 16h às 20h.
— O brasileiro está sempre atrasado e na hora da tranqueira podemos ganhar mais passageiros — disse o taxista Neri Higino Coelho, 70 anos, 35 deles no ponto da Praça Dom Sebastião.
A avaliação de Coelho vai ao encontro do entendimento da prefeitura da Capital. "A redução nos tempos de viagem possibilita a atração de novos passageiros, menos consumo de combustível e emissão de poluentes dos veículos", citou o prefeito Nelson Marchezan, nas redes sociais, ao comentar a nova orientação.
Vera Duso, 60 anos, trabalha no transporte de passageiros há duas décadas. Acostumada aos congestionamentos, disse já ter sido beneficiada pela liberação da via.
— Eu fiz em cinco minutos o que certamente levaria mais de 20 — relatou, apontando para o congestionamento próximo à esquina da Rua Sarmento Leite.
A novidade também foi comemorada por alguns usuários. O médico Felipe Pinto, 41 anos, elogiou a iniciativa.
— Sempre uso o táxi, e com isso vai melhorar sim.
Os táxis poderão usar a área com ou sem passageiros, em qualquer horário. A liberação da circulação é em caráter experimental.
A cidade perdeu cerca de 37% dos taxistas nos últimos cinco anos. Em 2014, aproximadamente 10 mil motoristas tinham o chamado carteirão. Atualmente, são pouco mais de 6,3 mil cadastrados para conduzir os veículos.
De acordo com o secretário extraordinário de mobilidade urbana de Porto Alegre, Rodrigo Mata Tortoriello, não houve qualquer incidente entre táxis e coletivos.
Polêmica
O diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), Gustavo Simionovschi, teme pela decisão da prefeitura de Porto Alegre. A entidade pretende fazer um apelo à gestão para reconsiderar a decisão que "deixa de favorecer o transporte coletivo". O diretor argumenta que, além de atrapalhar o fluxo e a agilidade, a entrada e saída dos táxis na faixa pode causar acidentes.
— O risco aumenta. O ônibus, pelo seu tamanho, é um veículo muito mais difícil de parar. A faixa permite que o coletivo se desloque em maior velocidade e a entrada inesperada de um táxi pode causar um grave acidente. Temo pelo motorista do ônibus, do táxi e pelos passageiros — diz Simionovschi.
Apesar do entendimento da ATP, o motorista de ônibus Marcelo Toledo, 39 anos, não crê em impacto, pela experiência de quem trabalha na categoria:
— Os táxis são rápidos no embarque e desembarque. Não acho que vá trancar o trânsito.
O presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintaxi), Luiz Nozari, acha o argumento da ATP frágil. Segundo ele, a categoria está aberta a avaliar o uso da faixa durante os três meses de teste, e chegar a uma posição sobre o que é melhor para a comunidade ao fim do período. Nozari acredita, no entanto, que o uso não deve aumentar, mas, sim, diminuir os acidentes.
— Hoje os ônibus trafegam em faixas com carros atrás e na frente, e esses motoristas não são profissionais. Os táxis são conduzidos por pessoas que trabalham com isso e têm experiência, sabem o momento certo de entrar na faixa, por exemplo — argumenta.
Atualmente, há faixas exclusivas para ônibus e lotações nas vias: Cristóvão Colombo, Júlio de Castilhos, Independência, Voluntários da Pátria, Cavalhada, Nonoai, Brasil, Bento Gonçalves, Assis Brasil, Icaraí, Ipiranga, Rodoviária (Rua da Conceição), Independência e Mostardeiro.