O clima tenso que marcou a volta do recesso na Câmara Municipal nos últimos dias se estendeu para o WhatsApp no último sábado (10). Uma discussão sobre o IPTU em grupo que reúne todos os parlamentares virou bate-boca com troca de acusações entre o vereador Valter Nagelstein (MDB), ex-presidente da Casa, e a atual presidente, Mônica Leal (PP).
O emedebista criticava a demora na apreciação do requerimento do vereador Adeli Sell (PT) para que o projeto que altera a planta de valores do IPTU de Porto Alegre, aprovado em abril, seja votado novamente pelos parlamentares. Mônica Leal chamou o vereador de "desinformado" e argumentou ter seguido os trâmites previstos no regimento. Nagelstein reagiu:
"A senhora não decide pq não quer. Desinformada é a senhora, presidenta!", escreveu vereador, que disse ter decidido sobre a mesma questão quando presidiu a Casa, no ano passado. O comentário desencadeou uma troca de acusações:
"Mônica Leal: Absurdo teu comentário. Me surpreendo que tenha sido presidente da casa, conhecendo o Regimento da mesma.
Valter Nagelstein: A senhora já ameaçou o Cassiá de processo, publicamente. Agora o Mauro Pinheiro tb. Comigo não!!!! Eu sou ex presidente, já decidi esta questão e afirmo com propriedade o que estou dizendo. A senhora não decide pq não quer.
Mônica Leal: Não fui eu que levei diretor para o Japão (em outubro de 2018, Nagelstein viajou acompanhado do então diretor-geral da Câmara, Omar Ferri Júnior).
Valter Nagelstein: Hahahah. Sim, a senhora não levou, nem fez nada até agora.
Mônica Leal: Nada irregular, é verdade. Cumpro a lei na íntegra.
Valter Nagelstein: Levar um diretor consigo era tanto um direito do presidente quanto é do prefeito levar secretários ou até assessoria. Ambos são chefes de poder. E minha gestão foi marcada pela austeridade e transparência, inclusive com o processo eletrônico disponível na internet, que a senhora desfez.
Mônica Leal: Vamos aguardar o tempo.
Valter Nagelstein: Sim. Sua gestão aguarda o tempo passar. Inclusive na questão do IPTU."
Na segunda-feira (12), Mônica Leal foi alvo de acusações do líder do governo, Mauro Pinheiro (Rede), de fazer manobras para postergar a decisão a respeito do imposto — o que pode adiar a aplicação dos novos valores — e de que sua atuação está "beirando a improbidade administrativa". Mônica rebateu chamando o colega de "imaturo, inconsequente e irresponsável" e afirmando que ele será responsabilizado pela fala.
Por telefone, a presidente da Casa confirmou que houve discussão no grupo dos parlamentares e voltou a reiterar que tem seguido o regimento na apreciação do requerimento para uma nova votação do IPTU. Na avaliação da progressista, os colegas têm adotado uma postura "machista" nos embates recentes. Ela afirmou ainda estar "desconfortável" com a forma como os debates têm se desenrolado, tanto na plenária quanto no ambiente virtual.
—Me impressiona muito que alguns vereadores são corajosos com as mulheres e falam diferente com os homens: dizem "meu amigo", "eu te admiro", enquanto eu sou taxada de irresponsável por estar seguindo o regimento. Nunca vi uma forma tão desrespeitosa e agressiva de realizar debates e embates. Isso é machismo — disse.
Também por telefone, Nagelstein afirmou que contestou a versão de Mônica porque já havia precedente sobre o requerimento na casa. Durante sua gestão na presidência, em 2018, o emedebista indeferiu um requerimento com teor semelhante apresentado por Mauro Zacher (PDT) e teve a decisão confirmada pelo plenário. O vereador também negou ter sido desrespeitoso com a colega.
— Foi ela (Mônica) quem, de saída, disse que eu não sabia o que estava falando e que, como ex-presidente da Casa, deveria conhecer o regimento. Quem me agrediu foi ela. Eu em nenhum momento a agredi — disse Nagelstein.
Esse não foi o primeiro atrito entre Mônica e Nagelstein. No início do ano, uma disputa pela concessão de homenagens também motivou disputa entre os vereadores.