O ex-presidente Jair Bolsonaro, que participa de uma série de eventos em Porto Alegre, concedeu entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta sexta-feira (23). Bolsonaro voltou a defender o voto impresso e a questionar o sistema eleitoral brasileiro. Disse que desde o tempo em que era deputado federal fala da votação em cédula.
Segundo ele, chegou a apresentar um projeto, no passado, junto com o PDT, partido que atualmente é o autor da ação no TSE, onde Bolsonaro é réu, correndo o risco de ficar inelegível por oito anos.
— Por que você não pode criticar o sistema de votação, meu Deus do céu? Que democracia é essa? Que se você falar em votação, falar em vacina, ou em falar naquele projeto da censura agora, que tá em discussão no Congresso, você pode ser preso.
De acordo com Bolsonaro, o Supremo derrubou o projeto aprovado na Câmara (votação impressa) dizendo que ia atentar contra a segurança.
Bolsonaro seguiu com indagações acerca de liberdade de opinião.
— Que democracia é essa que só derrubam (tiram do ar) a página da direita e não derrubam página da esquerda?
OUÇA A ENTREVISTA DO EX-PRESIDENTE NA ÍNTEGRA
Sobre o julgamento no TSE, Bolsonaro respondeu que acredita que não será condenado e explicou os motivos.
— Em um julgamento justo, serão mantidos meus direitos políticos, este é o meu pensamento. Em 2017, quando julgaram a chapa Dilma-Temer, houve uma jurisprudência o TSE, que não aceitou novas provas anexadas ao processo. E ficou valendo apenas para o julgamento a ação inicial do PSDB em 2015. Num julgamento justo serão mantidos os meus direitos políticos. Esse é o meu pensamento. Por exemplo, houve uma jurisprudência em 2017, quando julgaram a chapa Dilma Temer e o tribunal não aceitou outras provas anexadas ao processo. E ficou valendo apenas para o julgamento a ação inicial do PSDB em 2015. Dessa forma, a chapa foi mantida legal, se bem que naquele momento a senhora Dilma Rousseff não era mais presidente, ela havia sido cassada no ano anterior, e teve os direitos políticos dela mantidos. E dessa forma o senhor Michel Temer continuou presidente da República. E quando acontece uma coisa dessa, cria-se uma jurisprudência. E a mesma coisa deverá ser feita por parte do TSE, não aceitando outras possíveis provas inseridas. Então, entendo que ocorra o mesmo comigo —destacou.
JULGAMENTO NO TSE
O julgamento da ação que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível teve início na quinta-feira (22) e foi suspenso no começo da tarde. Nesta primeira sessão, foi feita a leitura do relatório da ação movida pelo PDT pelo ministro Benedito Gonçalves, que também é o corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A ação proposta pelo PDT acusa Jair Bolsonaro de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O motivo é a reunião com embaixadores realizada no Palácio do Alvorada em julho de 2022, quando o então presidente levantou, sem provas, suspeitas sobre o sistema eleitoral. O evento foi transmitido pela TV Brasil.
Em seguida, manifestaram-se o advogado de acusação, que representa o PDT, Walber Agra, o advogado de defesa da chapa Bolsonaro- Braga Netto, Tarcisio Vieira de Carvalho Neto, e, por fim, o vice-procurador eleitoral, Paulo Gonet. Veja o que cada parte falou.
Bolsonaro acredita que é possível um ministro pedir vista ao processo.
— O primeiro ministro a votar, após a apreciação do relator, é o Raul Araújo Filho. Ele é conhecido por ser um jurista com bastante apego a lei. Há uma possibilidade de ele pedir vista e isso ajuda a clarear os fatos. Somente há dois dias tivemos a autorização do TSE para mostrar o que está no processo. Somente eu e os meus advogados sabíamos do processo. Qual o motivo disso? É que novos fatos foram inseridos —concluiu.
Na sequência, o ex-presidente falou sobre a suposta minuta do golpe, peça anexada ao processo, e uma suposta participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
— Estavam me colocando como golpista por conta de um decreto de Estado de Defesa, sobre um papel que não tem nenhuma digital minha. Nosso advogado transformou em poeira essa acusação. Além do mais, documento só é documento quando é assinado.
Sobre o 8 de janeiro, botaram na minha conta isso aí tudo. Mas que golpe é esse dado num domingo e sem ninguém ser deposto? Que golpe é esse sem arma, sem Exército? Com senhorinhas com bandeiras e bíblias embaixo do braço?— questionou.
Questionado sobre uma eventual condenação, sobre qual seria o seu futuro, Bolsonaro refutou a ideia de ficar sem direitos políticos.
— Eu não quero discutir essa possibilidade, eu acho que só deixarei o cenário político do país quando a mente e o corpo não permitirem mais. Ou então porque eu fui dessa para melhor.
Movimento de Direita
Não vão acabar com a direita, com o que chamam de bolsonarismo, até acho que não tem sentido vincular ao meu nome, pois, na verdade, são pessoas que acordaram, que voltaram a cantar o Hino Nacional com lágrimas nos olhos, que defendem a família e a propriedade.
Eleições 2022
Considero as eleições uma página virada. Mas, ao mesmo tempo, pergunto se é justo o TSE indeferir uma petição do meu partido na época questionando alguns pontos, e ainda por cima, nos multar? É justo eles me proibirem de fazer uma live na minha casa? É justo eles não deixarem usar as imagens do sete de setembro na campanha? Ou usar falas antigas do Lula falando sobre aborto e coronavírus?
Bolsonaro em Porto Alegre
O ex-presidente desembarcou em Porto Alegre ontem no final da manhã e foi recebido por apoiadores no aeroporto Salgado Filho. De lá, seguiu para a sede da Fiergs e visitou a Transposul, feira de transporte e logística.
Em um rápido discurso a empresários e políticos, no mesmo dia em que a Justiça Eleitoral julgava uma ação que pode torná-lo inelegível por oito anos, o ex-presidente voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Mais tarde, questionado por jornalistas, Bolsonaro negou conhecer a minuta encontrada no celular de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, apreendido pela Polícia Federal e periciado.
À noite, jantou com deputados e empresários em um restaurante da zona norte de Porto Alegre. Bolsonaro chegou ao local de carro, por volta de 20h, e não conversou com a imprensa.
A partir das 10h Bolsonaro participa de um evento no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, em um ato do Partido Liberal (PL). Depois, o ex-presidente ainda terá uma almoço com aliados do partido. Ambos os eventos são fechados ao público em geral.