A atualização do decreto estadual feita pelo governador Eduardo Leite nesta quarta-feira (15) abriu a possibilidade de que prefeitos flexibilizem as medidas de contenção social nos municípios. A principal mudança consiste na chance de reabertura do comércio observando precauções, exceto na região metropolitana de Porto Alegre e na região de Caxias do Sul, onde a disseminação da doença é mais intensa.
O prefeito de Caxias do Sul, Flávio Cassina, argumenta que o coronavírus está em situação "relativamente bem controlada" na região, e protesta contra a seletividade na autorização dos estabelecimentos comerciais.
— Esperávamos que neste momento o governador fosse um pouco mais sensível, principalmente no comércio e serviços — opina.
Ele compara supermercados, que nunca tiveram atividades restritas, e as demais lojas:
— O restante do comércio não difere muito desses (locais) que foram liberados. Pelo contrário, acredito que tenha até menos movimento. Então o setor (do comércio) está sendo penalizado de forma injusta, uma vez que os produtos que vendem também estão nos mercados.
A possibilidade de abrir o comércio agradou o prefeito de Bagé, Divaldo Lara. Ele reforçou, entretanto, a necessidade de cuidados com a cidade, que já foi um dos focos mais alarmantes de covid-19 no Estado.
— Revertemos um quadro inicial muito ruim e traçamos uma estratégia diferente da do Estado no que se refere às restrições, porque já estávamos antes em distanciamento — argumenta.
Com menos habitantes que esses dois polos regionais, Ametista do Sul conta com uma peculiaridade negativa. O prefeito Gilmar da Silva se mostra preocupado com os mil trabalhadores do garimpo — carro chefe da economia local de pedras preciosas — e os pelo menos 200 que sofrem de silicose, uma doença pulmonar. A enfermidade coloca uma parcela importante de população no grupo de risco.
— Temos essa grande preocupação porque, se tivermos um caso aqui, vamos estar em um momento difícil para nossos garimpeiros — confessou, após comentar que os mercados compradores de pedras no exterior pararam há cerca de dois meses, causando prejuízos à região.
A chance de reabrir o comércio representa uma esperança de que as finanças da cidade possam se recuperar aos poucos.
— Temos a entrada de quatro, cinco ou seis pessoas em cada comércio por dia, e sabemos que na capital entram quem sabe 200, 300 pessoas. Então nossa capacidade de cuidado e instrução para prevenção com cada um é muito maior — defende, e comemora:
— Acredito que a determinação do governador é importante neste momento. Vai nos ajudar e vamos conseguir avançar.
Também ao norte do Rio Grande do Sul, o prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, discorda da decisão de Eduardo Leite. Azevedo acredita que o governador deveria manter um padrão para todos os municípios, mas entende a situação dos que pressionam por reabertura.
— Acho que todo mundo deveria ser tratado da mesma maneira. Jogou para os prefeitos a responsabilidade de tomar decisões sem ter o mesmo grau de informação que o governador tem para embasar a decisão — protesta.
Ele vai avaliar a situação na cidade em reunião na marcada para a manhã de quinta-feira (16).
Na considerada região metropolitana de Porto Alegre que ainda precisa de mais cuidados e não deve reabrir o comércio, Nova Santa Rita tem na prefeita uma apoiadora da cautela. Margarete Ferretti enaltece a solidariedade surgida no "momento triste" pelo qual a cidade está passando, prega atenção aos conselhos das autoridades, mas admite que existem pressões para retomar a rotina.
— Aos poucos estamos tentando ver o que podemos fazer para que a cidade não pare. Porque as pessoas também querem trabalhar, mas estão ao mesmo tempo com medo — considerou.