A rotina do mundo inteiro mudou durante a pandemia do coronavírus. O distanciamento social, que segundo especialistas diminuiu a curva de contágio, também expôs pessoas vulneráveis. Apesar das dificuldades, voluntários de diferentes projetos agem para minimizar os efeitos da crise para quem mais precisa. Confira abaixo algumas boas ações.
ONG já serviu mais de 4 mil refeições na Vila Planetário
A ONG Misturaí criou uma força-tarefa para fornecer alimento a pessoas em situação de rua em Porto Alegre. Para isso, a rede uniu mais de 150 voluntários para arrecadar comida, cozinhar e entregar refeições diariamente na sede da instituição (Rua Luiz Manoel, 229, bairro Santana). Com três semanas, o projeto já serviu 7,3 mil refeições.
– A ideia da nossa ONG sempre foi conectar comunidades que pouco interagiam. Por isso, nos instalamos aqui na Vila Planetário e sempre tivemos uma população de rua muito próxima que nunca conseguimos atender muito bem. E nós sempre quisemos. Com a crise, fechamos a ONG e percebemos que a primeira população que sofreria seria a de rua. Imediatamente, a comunidade da Vila passou a ser protagonista no ajudar e não sendo ajudada. Começamos a servir comida para as pessoas mais próximas, e isso fluiu de maneira orgânica. Começamos a atender outras comunidades também e estamos com uma produção muito alta – destacou Gabriel Goldmeier, cofundador do Misturaí.
Do Centro Histórico para as comunidades carentes: o hambúrguer solidário
O Butcher Burger também preocupou-se com a falta de comida para pessoas de vulnerabilidade social. Por meio da sócia-proprietária Viviane Ruskowski, a hamburgueria uniu-se ao projeto Cozinheiros do Bem para atender a Associação Vila Mariana da Conceição. Assim, do custo próprio, a empresa faz de 100 a 300 hambúrgueres semanais para colaborar com a comunidade. Através do perfil do Instagram, a rede começou a aceitar doações em dinheiro para aumentar a produção de alimentos e ampliar o apoio. A sede, que fica no Centro Histórico (Rua General Lima e Silva, 119), também é ponto de coleta de doações de cestas básicas e kits de higiene.
– Nós sempre tivemos vontade de fazer algo pró-ativo para agregar mais para a sociedade. Conseguimos fazer cerca de 100 a 300 hambúrgueres com o nosso próprio custo. Por isso, nos disponibilizamos a virar um local de arrecadação de cestas básicas ou doações em dinheiro para que façamos mais hambúrgueres, cachorros-quentes, cestas ou dinheiro para o gás. Com essa corrente, muita gente chegou até nós. Fazemos a prestação de contas e está sendo um trabalho incrível. É muito agregador. Estamos em um momento em que todo mundo está pensando mais no próximo, tomara que consigamos ajudar nisso - contou Viviane.
Quando a crise dentro de casa vira renda e atendimento para a comunidade
Nilana Negreiros Mitida é engenheira civil e viu o negócio de hortifruti dos pais ruir com a pandemia. Assim, ela juntou o negócio da família a cerca de 10 agricultores e montou um "kit básico" de frutas, legumes e verduras para fazer entregas domiciliares. Hoje, a venda que antes envolvia um casal ajuda a ampliar a renda de quase 20 pessoas na Região Metropolitana através do perfil no Instagram @telefeira.
– Meus pais são agricultores, e a principal fonte de renda era para restaurantes. Por conta da pandemia, a demanda diminuiu abruptamente. A plantação segue lá, ela precisa ser colhida. Se a gente não vende, a gente não recebe. Por isso, criamos um kit de itens básicos para se ter na cozinha. A renda ainda é um pouco menor do que a que recebíamos anteriormente, mas ainda fico muito mais feliz por estarmos ajudando outras pessoas – destacou Nilana.
Auxílio para as diaristas desempregadas
O movimento de mulheres Olga Benário encontrou uma demanda na casa de acolhimento e abrigamento de mulheres vítimas de violência doméstica, a Casa Mulheres Mirabal. Afinal, as voluntárias viram diaristas perderem o emprego da noite para o dia. Através do link apoia.se/apoioadiaristas, o projeto já reuniu mais de R$ 10 mil para comprar cestas básicas, kits de higiene e demais necessidades. A nova meta espera bater R$ 20 mil.
– São mulheres diaristas que estão desempregadas. No momento em que as quarentenas começaram, elas foram demitidas. Elas trabalhavam em cinco, seis lugares para garantir cerca de dois salários mínimos. Por isso, fizemos esta campanha para ajudar as mulheres da casa. Em pouco tempo, nós vimos que isto aconteceria não só aqui, mas no Brasil inteiro. Sabemos que a economia vai demorar a se recuperar e enquanto tivermos apoio e demanda, vamos seguir ajudando – comentou Nana Sanches, coordenadora da Casa Mulheres Mirabal.
Em tempos de isolamento, surge o Plantão Psicológico
Bruna Marcelino, psicóloga e integrante do Departamento de Socorro e Desastre da Cruz Vermelha do Rio Grande do Sul, ajudou a colocar em prática o "Plantão Psicológico" na última terça (15). Através do site cruzvermelha-rs.org.br/plantao-psicologico, aproximadamente 15 profissionais voluntários se revezam para atendimentos psicológicos diariamente. Qualquer pessoa pode ser atendida, sob sigilo, virtualmente em período de distanciamento.
– Esse projeto surge pensando em situações extremas. Criamos o Plantão Psicológico para auxiliar as pessoas que estão neste isolamento e acabam sofrendo com isso no Brasil inteiro. Mesmo que de forma remota, conseguimos criar este espaço de acolhimento tão importante para as pessoas que precisam – destacou Bruna.