BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A crise em torno do coronavírus e a possibilidade de saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, jogou os holofotes na atual equipe da pasta.
Dos sete secretários, quatro são médicos. A maioria tem experiência em gestões estaduais e municipais ou governos anteriores. Também há um enfermeiro epidemiologista, um administrador com foco em gestão hospitalar e um coronel do Exército.
Nesta quarta (15), um dos principais nomes da linha de frente do combate à pandemia, o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, pediu demissão em meio à possibilidade de exoneração de Mandetta. O pedido, porém, não foi aceito pelo ministro, que afirmou que ele continuará no cargo.
"Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde", disse.
A declaração é uma tentativa de mostrar unidade em torno das decisões da saúde em meio à tentativa do Palácio do Planalto de alterar o comando da pasta.
Em coletiva, o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, também disse que deixaria o cargo com a saída de Mandetta. Antes, porém, faria a transição para uma nova equipe.
"Sabe como escolhi minha equipe? Foi pelo currículo do que cada um fez. Depois foi olhando no olho. Hoje não é uma equipe, é uma família", afirmou Mandetta, acrescentando que já recusou pedidos para que demitisse parte de seus secretários ao longo da gestão. "Mas estamos juntos", disse.
Veja o perfil dos secretários.
João Gabbardo dos Reis
Médico e ultramaratonista, o atual secretário-executivo da pasta é descrito por Mandetta como seu braço-direito no ministério e "o cara que prevê e resolve as coisas". Passam por ele, por exemplo, decisões sobre gestão de recursos e assinatura de contratos para aluguel de leitos de UTI e compra de equipamentos de proteção em meio à crise do novo coronavírus.
Antes de assumir o cargo, foi secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, de 2015 a 2018, e passou pelo ministério na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Também foi secretário municipal de saúde de Santa Rosa (RS), na década de 1990, e presidente do Conass (Conselho de Secretários Estaduais de Saúde), que representa os estados nas decisões sobre o sistema de saúde.
Chegou ao ministério por indicação do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), com quem atuou em Santa Rosa, e do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, além do apoio de gestores da área da saúde. Nos últimos dias, seu nome chegou a ser cotado para o lugar do ministro. Gabbardo, no entanto, afirma que foi convidado por Mandetta e sairá com o ministro. "Tenho um compromisso com Mandetta. Ele me convidou, e o dia que ele sair, saio com ele."
Erno Harzheim
Médico de família e comunidade, é secretário de atenção primária em saúde, área que ganhou uma secretaria própria na gestão de Mandetta. Antes, foi secretário municipal de saúde de Porto Alegre e coordenador do Programa Telessaúde RS da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, usado como referência pelo Ministério da Saúde. Tem doutorado em medicina preventiva e saúde pública pela Universidade de Alicante, na Espanha.
Chegou ao ministério por indicação de Gabbardo, de quem é próximo. Na pasta, responde pela implementação de algumas das principais bandeiras da atual gestão, como o programa Médicos pelo Brasil, o Saúde na Hora e a mudança no modelo de financiamento da atenção básica.
Wanderson Oliveira
Enfermeiro e doutor em epidemiologia, lidera principais ações de controle do novo coronavírus, como secretário de vigilância em saúde. Pediu demissão nesta quarta-feira (15), em meio à expectativa pela exoneração do ministro. Mandetta, no entanto, disse que não aceitaria sua saída até que ele próprio deixasse o cargo.
No ministério, está à frente de uma das áreas de maior pressão do Palácio do Planalto. Desde o início da crise, coube à sua equipe definir os critérios para recomendação de medidas de distanciamento social e quarentena, criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
A área de Oliveira também era responsável por monitorar a circulação e propagação do vírus, critérios para notificação de casos da Covid-19 e oferta de testes. No cargo, costuma ser definido por Mandetta como seu "controlador de tráfego", "aquele que lê, que vê números e fica medindo".
Antes de ser secretário, passou pelo Ministério da Saúde em diferentes ocasiões -esteve à frente, por exemplo, da resposta à emergência devido ao zika e casos de microcefalia. É servidor de carreira do Hospital das Forças Armadas. Nos últimos anos, atuava como pesquisador e professor da Fiocruz Brasília. Sua escolha é atribuída a uma indicação de Agenor Álvares, sanitarista e ex-ministro da Saúde do governo Lula.
Denizar Vianna de Araújo
Médico cardiologista, é o atual secretário de ciência, tecnologia e insumos estratégicos do Ministério da Saúde. É próximo de Mandetta desde a época em que ambos faziam faculdade no Rio de Janeiro.
Formado em medicina pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), fez mestrado em cardiologia e doutorado em saúde coletiva na mesma instituição.
Na crise do coronavírus, ficou responsável por criar diretrizes para oferta de medicamentos e pesquisas, caso da cloroquina, tema alvo de embates com o Palácio do Planalto. Foi pesquisador do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Avaliação de Tecnologias em Saúde, do CNPq.
Francisco de Assis Figueiredo
Remanescente da gestão do presidente Michel Temer (MDB), é o atual secretário de atenção especializada do Ministério da Saúde, área que responde pela gestão de recursos e ações para a área hospitalar. Antes, foi secretário de atenção à saúde das gestões dos ministros Ricardo Barros e Gilberto Occhi, com foco semelhante.
Graduado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, tem especialização em administração hospitalar.
Foi diretor do Hospital Maternidade Therezinha de Jesus, em Juiz de Fora (MG), durante três anos e presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais. Também já atuou em outros hospitais e na Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.
Estava ao lado do ministro no dia em que ele anunciou, em coletiva de imprensa, que ficaria no cargo.
Mayra Pinheiro
Médica pediatra, é a atual secretária de gestão de trabalho e educação em saúde, área que responde pela formação e capacitação de profissionais. É tida como de uma ala menos próxima ao ministro e mais próxima das demandas de Jair Bolsonaro.
Formada pela Universidade Federal do Ceará, foi coordenadora técnica do Centro de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara. Ficou conhecida por ter participado de protestos contra a vinda de médicos cubanos para atuar no Brasil.
Em 2018, chegou a ser candidata ao Senado pelo PSDB do Ceará, mas não venceu. Na última semana, além de outro secretário, não esteve em coletiva chamada pelo ministro após especulações sobre sua saída. À reportagem disse que estava de plantão como intensivista pediátrica no mesmo horário. "Em tempos de coronavírus, sigo também fazendo o meu papel de médica, que é salvar vidas", afirmou.
Robson Santos da Silva
Coronel do Exército, é o atual secretário especial de saúde indígena. Antes, foi diretor do departamento de determinantes ambientais da área. Também trabalhou como assessor do ex-ministro da Educação Ricardo Vélez. É considerado como de uma ala menos próxima a Mandetta e mais próxima de Bolsonaro.