Anunciada na tarde desta quarta-feira (15), a decisão do governador Eduardo Leite de manter, até o dia 30 de abril, o comércio fechado nas regiões metropolitanas de Porto Alegre e da serra gaúcha, onde incidem cerca de 70% dos casos de coronavírus no Rio Grande do Sul, foi recebida com um misto de elogios e críticas entre lideranças empresariais e políticas.
Pela decisão do governador, o comércio poderá voltar a funcionar nas cidades do Interior, de fora dos dois eixos de restrição, desde que os prefeitos editem decretos determinando a retomada, com o cumprimento de regras de acesso, distanciamento e higienização dos ambientes.
— Entendo o fato como positivo. Atendeu os nossos anseios, porque estávamos preocupados com cidades do Interior sem nenhum ou com poucos casos, mas com comércio fechado. Agora, nossa expectativa é de que possamos caminhar para retomar o comércio a partir do dia 30 também em Porto Alegre e na Serra. Ou talvez antes disso, dependendo dos monitoramentos que estão sendo feitos — afirmou Luiz Carlos Bohn, presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS).
Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, foi mais crítico ante as medidas do novo decreto, que passam a valer a partir desta quinta-feira.
— A minha preocupação é com pequenos industriais e varejistas, que não dispõem do mesmo caixa das empresas maiores. Eles também não têm o mesmo acesso às linhas de crédito. Insistimos que deveria ser feita uma reabertura seletiva de lojas que empreguem no máximo 10 pessoas, onde possam ser vendidos uma blusa, um sapato, um pequeno móvel. No mercado você compra tudo isso, mas nas lojas de bairro não está podendo. Foge ao razoável — criticou Petry.
Ele alertou que a indústria já começa a sentir os efeitos do comércio fechado, indicando que não adianta manter a produção se não há onde vender.
Deputado estadual de atuação independente na Assembleia, Sebastião Melo (MDB) considerou o anúncio de Leite "acertado", sobretudo quanto à atribuição de algum poder decisório às prefeituras do Interior.
— Sempre achei que as prefeituras têm de assumir o seu papel, tendo alguma condição de decidir com a sua sociedade. Achei equilibrada a decisão, nem tanto ao céu, nem tanto à terra — disse Melo.
Para ele, é preciso que prefeitos da Região Metropolitana se organizem para a elaboração de protocolos de emergência para uma retomada breve das atividades. Caso contrário, Melo avalia que, em termos econômicos, "não se resiste por muito mais tempo com as cidades fechadas". O emedebista entende que setores como a construção civil já poderiam ter retomado atividades mesmo em Porto Alegre, observando protocolos de saúde.
Líder da maior bancada de oposição na Assembleia, Luiz Fernando Mainardi (PT) avalia que Leite deveria ter sido mais restritivo. O petista, ao analisar a pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que embasou a decisão do governador, destaca o dado revelado de que "cerca de 80% dos gaúchos estão respeitando a quarentena, o que é ótimo". Ao flexibilizar a retomada do comércio no Interior, Leite está dando um recado de afrouxamento do isolamento, entende Mainardi.
— Na posição do governador, eu teria sido mais cauteloso. As pessoas, desde o último final de semana, já começaram a sair do isolamento. Há movimentação grande nas ruas. Acredito que ele deveria manter a restrição de maneira uniforme até 30 de abril, mas ele voltou a jogar a responsabilidade para os prefeitos — avalia Mainardi, de Bagé, região que sofreu índices relevantes de infecção pelo coronavírus.
— A região da Campanha teve incidência importante. Qual o critério dessa decisão? — questiona o parlamentar.