A conclusão da primeira etapa de uma pesquisa inédita sobre a prevalência da covid-19 na população gaúcha indica que o Rio Grande do Sul tem uma estimativa de 4,9 mil pessoas infectadas que não tiveram contato com o sistema de saúde.
São, portanto, pessoas que não têm sintomas da doença, mas são transmissoras do vírus. Conforme estimativa da pesquisa, o Estado teria, portanto, 5,6 mil infectados — oficialmente, apenas 762 constam das notificações oficiais.
O trabalho, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foi apresentado na tarde desta quarta-feira no Palácio Piratini durante entrevista coletiva do governador Eduardo Leite. O material vinha sendo analisado desde a terça-feira (14) para ajudar a embasar a renovação do decreto estadual que determina restrições de circulação e do comércio.
O coordenador-geral da pesquisa, o epidemiologista e reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, começou a falar explicando que era possível fazer uma analogia com o iceberg, numa referência ao fato de que no mundo, todos os governos enxergam apenas a ponta do problema, o que está visível. E foi assim que apresentou o dado da infecção na população: a ponta do iceberg são os 747 casos notificados e monitorados pelo governo. Mas a base do problema, invisível, esconde outros 4,9 mil infectados desconhecidos das autoridades.
— O epidemiologista é aquele pesquisador cujo laboratório é a rua. Um pesquisador da epidemiologia precisa ir a campo para conhecer a realidade — destacou Hallal.
O total de infectados é feito por estimativa. Das 4.189 pessoas que se submeteram a testes na primeira etapa da pesquisa em nove cidades, apenas duas testaram positivo para a covid-19. Isso significa, conforme o estudo, que há uma pessoa infectada a cada grupo de 2 mil pessoas. A pesquisa estima que a cada 1 milhão de habitante há 500 infectados, dos quais só 65 casos notificados e com 1,2 mortos.
Para cada caso notificado nas cidades pesquisadas — Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Ijuí e Uruguaiana — há em torno de quatro não notificados.
Hallal explicou que o resultado do trabalho representa uma realidade de duas semanas antes do dia da coleta dos testes. Em 1º de abril, havia 384 casos confirmados no Estado. A pesquisa aponta que o contágio é 15 vezes o número de casos confirmados ou 11 vezes o número de casos coletados.
Nas entrevistas, os pesquisadores também buscaram dados sobre o distanciamento social. Dos 4,1 mil entrevistados, 20% disseram que saem todos os dias de casa. Os que afirmam ficar em casa são 21%. Já 58,3% alegam só sair para atividades essenciais. Conforme Hallal, os números encontrados pela pesquisa podem ser considerados dentro do "previsto, absolutamente normais para esse estágio da pandemia".
A pesquisa
- O levantamento, com entrevistas e coleta de exames, ainda terá mais três etapas, chamadas de "inquérito populacional": 25-27/4, 9-11/5 e 23-25/5.
- O trabalho é feito nas mesmas nove cidades, mas sorteando os participantes. A meta é de aplicar exames em 4,5 mil pessoas em cada etapa.
- A pesquisa custará R$ 1 milhão, pagos por três empresas: Unimed Porto Alegre, Instituto Cultural Floresta e Instituto Serrapilheira.
- Depois de encomendada pelo governo do Estado, a pesquisa ganhou alcance nacional: o Ministério da Saúde solicitou que seja aplicada em todo o país, o que deve começar nos próximos dias.