No dia 20 de março, uma troca de mensagens deu início a uma série de declarações que abalam o apoio ao governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados , colocando em xeque a aprovação de pautas prioritárias, como a Reforma da Previdência.
As afirmações e alfinetadas entre os presidentes da República, Jair Bolsonaro, e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já ganhou ares de crise e preocupa o país. Veja os principais episódios que levaram a esse desgaste.
Entenda a crise do governo Bolsonaro com Rodrio Maia
Congelamento do pacote anticrime
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, determinou no dia 14 de março a criação de um grupo de trabalho para analisar o projeto de lei enviado por Sergio Moro para combater o crime organizado — o chamado pacote anticrime. Como o grupo de trabalho tem o prazo de 90 dias para debater as matérias, na prática, Maia suspendeu momentaneamente a tramitação da maior parte do pacote legislativo do ministro da Justiça.
Cobrança de Moro na madrugada
Na madrugada do dia 20, o ministro da Justiça, Sergio Moro, enviou mensagem cobrando que Maia desse celeridade no pacote anticrime, apresentado pelo ministro ao Congresso em fevereiro. No texto, o titular da Justiça teria acusado o deputado do DEM de descumprir um acordo. Em resposta ríspida, Maia pediu a Moro respeito e afirmou que era ele o presidente da Câmara, cargo que tem a atribuição de definir a pauta de votações da Casa.
Ira de Maia: "funcionário do Bolsonaro"
Irritado com as mensagens de Moro, Maia chegou ao Congresso na noite de quarta-feira (20) dizendo que Moro estava "confundindo as bolas" e que ele era um "funcionário do Bolsonaro". A aliados, o deputado disse que o ministro estava sendo inconveniente pelo gesto e que não havia descumprimento nenhum de acordo. Ele disse ter acertado com o Palácio do Planalto que priorizaria na pauta da Câmara a aprovação da reforma da Previdência, considerada crucial para a gestão de Jair Bolsonaro, e que na sequência colocaria o texto de Moro para tramitar.
É um "copia e cola", diz Maia
Quando questionado sobre se o ministro da Justiça estaria "se intrometendo" na Câmara dos Deputados, Maia disse o projeto "não tem nenhuma novidade". O deputado afirmou ainda que o projeto prioritário é o apresentado por Alexandre de Moraes, quando ele era ministro da Justiça, ainda no governo de Michel Temer.
— Eu fiz aquilo que eu acho correto (sobre a proposta de Moro). O projeto é importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro Alexandre de Moraes. É um "copia e cola". Não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele — disse Maia.
Moro rebate Maia e afirma que, para alguns, combate ao crime pode ser adiado
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, rebateu na noite de quarta-feira (20) as críticas disparadas por Rodrigo Maia, e disse esperar que o seu projeto anticrime "tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso requer." Em um comunicado, o ex-juiz da Lava-Jato afirmou que "talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais".
Grupo de trabalho com opositores
Rodrigo Maia indicou Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP) para participar do grupo de trabalho que vai analisar o pacote anticrime de Moro. Os dois são abertamente contra a proposta do ministro.
— O clima não foi dos melhores porque ele fala uma hora e escuta um minuto. Ele precisa entender que deixou de ser juiz da Lava-Jato — disse o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) durante a apresentação da proposta do ministro a deputados, na Câmara.
Lava-Jato prende "sogro" de Maia
Casado com a mãe da mulher de Rodrigo Maia, o ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco foi preso preventivamente na quinta-feira do dia 21 de março pela força-tarefa da Lava-Jato. De acordo com o MPF, Moreira Franco monitorava as supostas propinas da organização criminosa que seria liderada pelo ex-presidente Michel Temer, também preso na quinta-feira. Nos bastidores, havia rumores de que a decisão seria o verdadeiro pivô da briga entre Moro e Maia. O presidente da Câmara suspendeu sua agenda de trabalho ao saber das detenções.
Carlos Bolsonaro provoca: "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?"
O mal-estar envolvendo o ministro Sergio Moro e o deputado Rodrigo Maia levou o filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos, a perguntar no Instagram "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso". O questionamento foi publicado como legenda de uma notícia publicada no Twitter sobre a resposta de Moro às recentes declarações de Maia.
Maia manda recado em ligação a Paulo Guedes
Após fogo amigo com ministros deputados e senadores do PSL — que comemoraram na quinta-feira (21) a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco — e, principalmente, com Carlos Bolsonaro, filho do presidente, Maia ameaçou abandonar a articulação da reforma da Previdência. Irritado, o deputado telefonou para o ministro da Economia Paulo Guedes na sexta-feira (22) e disse que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.
Bolsonaro compara Maia a namorada que quer ir embora
Ao saber da ligação de Maia para o ministro da economia Paulo Guedes dizendo que deixaria as negociações políticas da reforma, o presidente Jair Bolsonaro disse que não deu motivos para o parlamentar sair e comparou a relação com o líder da Câmara a um namoro.
— Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis ir embora, o que você fez para ela voltar, não conversou? Estou à disposição para conversar com o Rodrigo Maia, sem problema nenhum — afirmou.
Líder do governo ataca Maia no WhatsApp e acirra crise
O Major Vítor Hugo, líder do governo na Câmara, acirrou a tensão no domingo (24), quando enviou mensagens a um grupo de WhatsApp da bancada do PSL criticando a velha política, com citação a Maia em negociações de cargo. Antes das mensagens, o líder do governo havia visitado Bolsonaro em sua casa, no Palácio da Alvorada, e falou sobre aproximação "após semana muito tensa".
PEC desengavetada
Na terça-feira (26), Maia pautou na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento Impositivo, que reduz o poder do Executivo sobre as despesas. O texto estava parado na Casa desde 2015 e não estava nem previsto para a pauta do plenário. A aprovação, em ampla maioria, representa uma derrota ao governo de Jair Bolsonaro e tem por objetivo de mandar um recado para o Palácio do Planalto.
Alfinetada sobre o "sogro"
O presidente Jair Bolsonaro deu entrevista na quarta-feira (27) ao programa Brasil Urgente, da Band e comentou sobre a crise entre o seu governo e o Legislativo. Além de afirmar que Maia foi "infeliz" ao comentar que o ministro Sergio Moro era seu funcionário, disse que o presidente da Câmara estaria abalado por questões pessoais — uma referência à recente prisão do ex-ministro Moreira Franco, padrasto da sua mulher.
"Brincando de presidir o país"
Questionado sobre a fala de Bolsonaro de que estaria abalado por questões pessoais Maia afirmou que o o governo ainda nem começou e que chefe do Executivo está "brincando de presidir o país":
— Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil — disse.
Bolsonaro rebate: "Não existe brincadeira da minha parte"
O presidente Jair Bolsonaro lamentou o posicionamento de Maia, sobre o governo ainda não ter começado e que presidente da República está "brincando de presidir" o país, e disse querer acreditar que o comandante da Câmara não disse essas palavras.
— Brincar? Se alguém quiser que eu faça o que os presidentes anteriores fizeram eu não vou fazer. Já dei o recado aqui.