O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta sexta-feira (22) que está a disposição para conversar com o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre a articulação da reforma da Previdência. Maia teria ligado para Paulo Guedes mais cedo dizendo que deixaria as negociações políticas da reforma.
— Queria saber o motivo pelo qual o Rodrigo Maia está saindo, estou aberto a diálogo, qual o motivo? Eu não dei motivo para ele sair — afirmou Bolsonaro, que está em Santiago, no Chile.
Questionado sobre como tentaria convencê-lo a voltar, o presidente comparou a relação com o líder da Câmara a um namoro.
— Só conversando. Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis ir embora o que você fez para ela voltar, não conversou? Estou à disposição para conversar com o Rodrigo Maia, sem problema nenhum.
O deputado do DEM tem se queixado de estar sendo atacado nas redes sociais por apoiadores do presidente e do ministro da Justiça, Sergio Moro, que o chamam de representante da velha política.
O presidente entende que as críticas do filho Carlos Bolsonaro a Maia em razão do adiamento do projeto anticrime não é motivo para a iniciativa do comandante da Câmara. Bolsonaro disse que o Brasil está indignado com a demora para o texto de Sergio Moro ser apreciado no Congresso.
Em tom moderado, Bolsonaro disse que será possível acertar a situação com Maia na base da conversa. Essa linha menos belicosa e buscando o diálogo foi adota por membros e aliados do governo na tentativa de pôr panos quentes na situação.
Maia fez chegar a Bolsonaro que poderia deixar a articulação da reforma, medida crucial para o governo, por se sentir abandonado.
Ele trocou mensagens na quinta-feira (21), com o ministro da Economia, Paulo Guedes, reclamando de publicações feitas por outro filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) nas redes sociais.
Na visão de Maia, ele está apanhando sozinho por defender a reforma enquanto o governo não para de atacar a "velha política". Irritou o Congresso o fato de Bolsonaro ter feito nas últimas semanas declarações em tom crítico à política e que está sofrendo "pressão" por ceder à prática de troca de cargos por apoio político.
Interlocutores de Maia afirmaram à colunista da Folha de S. Paulo Mônica Bergamo que o presidente da Câmara, em contato com Paulo Guedes, disse que a partir de agora fará a "nova política": "não fazer nada e esperar por aplausos das redes sociais". Questionado pela colunista, Maia negou que tivesse feito afirmações no tom relatado. Mas disse que, sim, a responsabilidade de buscar votos para a aprovação da reforma é de Bolsonaro.
— O papel de articulação do executivo com o parlamento nunca foi e nunca será do presidente da Câmara. Eu continuo ajudando. Sei que a reforma da Previdência é fundamental e não abro mão dela. E concordo com o presidente (Bolsonaro): é preciso construir uma maioria de uma nova forma. Essa responsabilidade é dele. Quando ele (Bolsonaro) tiver a maioria e achar que é a hora de votar a reforma, ele me avisa e eu pauto para votação. E digo com quantos votos posso colaborar — afirma.
Para apaziguar os ânimos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), saíram em defesa do deputado em suas redes sociais, no início da tarde desta sexta-feira (22).
— Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é fundamental na articulação para aprovar a Nova Previdência e projetos de combate ao crime. Assim como nós, está engajado em fazer o Brasil dar certo! — escreveu o senador.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente da República em Exercício, Hamilton Mourão, disse que o papel do governo no caso é o de lançar "pontes" e conversar com Maia. Sobre os comentários de Carlos Bolsonaro, Mourão destacou que a rede social não tem a ver com a opinião do Executivo.
Outra integrante do núcleo duro do governo federal, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder no Congresso Nacional, afirmou que Maia é vítima de uma campanha mentirosa, que tenta colocar o colega de Casa como personagem contra a reforma. Joice disse que Maia é um dos mais engajados no trabalho para aprovar o texto.