Em solo gaúcho para agenda política, e também para celebrar o aniversário do Colégio Militar de Porto Alegre, o vice-presidente Hamilton Mourão concedeu entrevista ao programa Gaúcha Atualidade na manhã desta sexta-feira (22). Por telefone, direto do Palácio Piratini, onde se encontraria com o governador Eduardo Leite (PSDB), o presidente em exercício — o general está à frente do Executivo nacional enquanto Jair Bolsonaro (PSL) está em viagem ao Chile — falou sobre a prisão do ex-presidente Michel Temer, a impetuosidade dos filhos de Bolsonaro nas redes sociais, a reforma da Previdência e os ataques que tem sofrido de Olavo de Carvalho, guru intelectual do governo.
Ouça a íntegra da entrevista:
O senhor está no Rio Grande do Sul, está em Porto Alegre, onde vai tratar sobre segurança pública com o governador Eduardo Leite.
Hamilton Mourão — Também, né. Vou falar com o governador sobre assuntos diversos, sobre a questão da Previdência e também essa parte relacionada a segurança pública. São vários eventos que eu terei hoje e, amanhã (sábado, 22) de manhã, é o aniversário do Colégio Militar de Porto Alegre, que eu fui aluno. Normalmente é o dia que os ex-alunos comparecem para se encontrar.
O senhor chega ao Rio Grande do Sul em um momento bastante tumultuado no país, com a prisão do ex-presidente Michel Temer. Como o senhor avalia a detenção e o fato de nós termos hoje dois ex-presidentes da República na cadeia: um condenado, o outro preso preventivamente?
Hamilton Mourão — A prisão do ex-presidente Temer, eu até comentei ontem (quinta-feira, 21), considero lamentável para o país. Exatamente como você disse, pois já temos um presidente preso e, agora, o Temer. Mas, por outro lado, passa uma mensagem muito forte, muito significativa, de que finalmente a lei é para todos. Acho isso importante também.
Em Brasília, repercutiu mal junto ao presidente da Câmara uma mensagem colocada nas redes sociais pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL) que deixou Rodrigo Maia (DEM) irritado. E ele teria dito que não iria participar mais da articulação política da reforma da Previdência. Como o senhor vê essa situação acontecendo, de novo, envolvendo uma mensagem nas redes sociais de um filho do presidente?
Hamilton Mourão — Olha, eu vi a respeito disso agora de manhã (sexta-feira) cedo, mas não vi o teor completo da mensagem. Mas, se por acaso o presidente Rodrigo ficou incomodado com isso, compete a nós do governo lançarmos as pontes e conversarmos com ele. Lembrar que rede social não tem nada a ver com a opinião que todos nós, do Executivo, temos sobre ele como presidente de uma das casas do Legislativo. Eu considero, particularmente, um apoiador incondicional das principais ideias que nós temos, e conto, assim como todos nós do governo, com o apoio dele.
O senhor acredita, general Mourão, que se os filhos do presidente opinassem menos nas redes sociais a vida do governo seria um pouco mais fácil?
Hamilton Mourão — Essa questão dos filhos eu já respondi algumas vezes, né. É uma adaptação. Eu, por exemplo, te digo: não dou bola para rede social. Porque se for dar bola para rede social a gente não faz outra coisa. Temos de ter foco e nos concentrar em nosso trabalho. Buscar ter a resiliência necessária para implementar as reformas que o país precisa e olhar menos para essa questão de rede social.
A rede social, hoje em dia, mexe até com o mercado financeiro. E aí estamos falando de um assunto importante para o governo, que é a reforma da Previdência. Não há uma comunicação melhor dentro do governo para que esse tipo de mensagem não acabe atrapalhando de alguma maneira?
Hamilton Mourão — Entre nós, membros do primeiro escalão, a gente procura manter uma posição bem equilibrada a respeito desse assunto. E, junto com o ministro Paulo Guedes, eu e ele, temos mantido esse foco em todos os lugares em que estamos falando sobre isso. Consideramos que é preciso ter a perseverança necessária e a paciência para levar esse assunto e convencer o conjunto, não só da população, como do parlamento, da necessidade dessa reforma. Agora é óbvio que, de vez em quando, ocorrem esses ruídos que causam algum estranhamento.
O governo mantém ainda a previsão de aprovação da reforma da Previdência nesse primeiro semestre? A pergunta é porque ainda não se tem o relator escolhido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e tem agora esse desconforto do presidente da Câmara com o filho do presidente da República. Existe todo um ambiente político que está bastante acirrado em razão da prisão do ex-presidente Michel Temer. O senhor acha que é possível votar primeiro semestre? Ou no primeiro na Câmara e no segundo no Senado?
Hamilton Mourão — Na minha avaliação é que a reforma estaria votada nas duas casas final de julho ou início de agosto. Essa é minha avaliação desde o começo. Não acho que até o final de junho a gente conseguiria essa aprovação. Acho que precisa mais uns 30 ou 40 dias após o término do segundo semestre.
O senhor tem sido bastante elogiado por ter sido a voz ponderada do governo em momentos de maior exacerbação. Está sendo difícil lidar com as peculiaridades da política? O senhor que passou toda a vida no Exército...
Hamilton Mourão — A gente vai se adaptando. É aquela história: política, na minha visão, se faz no dia a dia. Seja dentro de casa ou no edifício em que mora. Aí quando você chega neste momento em que estou, tendo acumulado experiência de várias funções dentro do Exército, fora do Brasil, não achei tão difícil de me adaptar. É uma questão muito de diálogo e de, principalmente, ouvir as opiniões.
Às vezes o senhor se vê no papel de bombeiro?
Hamilton Mourão — Não considero que seja isso que eu esteja fazendo. O papel que eu me reservei a cumprir é exatamente de ouvir as demandas e conversar com os ministros, com o presidente, sobre aquilo que as pessoas estão me trazendo.
O senhor está no RS e terá reuniões com o governador Eduardo Leite. Uma das pautas é segurança pública. O Estado teve, nos últimos anos, mais problemas do que os que tem hoje na área de segurança. Temos Força Nacional atuando aqui, mas há uma questão muito forte que é a penitenciária. De que maneira o governo federal pode ajudar o Estado nessa situação, para criar mais vagas, por exemplo, no sistema penitenciário?
Hamilton Mourão — Os chefes de facções que já foram transferidos para presídios federais, isso é um aspecto. E outra situação muito clara que o governo pode auxiliar é melhorar o aparato policial. E, óbvio, na legislação. O pacote que o ministro Sergio Moro colocou e que está na Câmara, avançando com alguma dificuldade, está submetido a um grupo de trabalho, é importante que ele fosse aprovado.
Essa dificuldade frustra, de alguma maneira, o andamento do trabalho? Causa alguma angústia isso?
Hamilton Mourão — Eu não fico angustiado, porque a gente que acompanhou a vida política do país ao longo dos últimos anos já entendeu que o nosso sistema é complicado, multifacetado, pela quantidade de partidos e pelo grande número de parlamentares. Então, as coisas não andam na velocidade que a gente deseja.
Além desses percalços no Congresso, há uma área do governo que nos causa preocupação que são esses desencontros no Ministério da Educação (MEC). O senhor, de alguma forma, está desconfortável por estarmos chegando no fim de março e haver tantos desentendimentos em um ministério tão estratégico?
Hamilton Mourão — O MEC tem de tomar um freio de arrumação, como a gente diz. Julgo que o presidente já conversou com o ministro Ricardo Vélez e vai ser organizado isso nos próximos dias.
Há poucos dias, nos Estados Unidos, o guru ideológico do governo, Olavo de Carvalho, ofendeu o senhor. E não vimos manifestação do presidente em sua defesa. Como vê essa críticas do Olavo de Carvalho à sua figura?
Hamilton Mourão — Não dou bola para isso aí. Olavo de Carvalho, acho que ele atingiu um limite em termos de ofensa pessoal. Acho que você pode rebater ideias com argumentos convincentes, mas as ofensas mostram que a pessoa não tem argumento. É dessa forma que eu vejo.