O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou na última quinta-feira (14) a criação de um grupo de trabalho para analisar o projeto de lei enviado por Sergio Moro para combater o crime organizado — o chamado "pacote anticrime". Como o grupo de trabalho tem o prazo de 90 dias para debater as matérias, na prática Maia suspendeu momentaneamente a tramitação da maior parte do pacote legislativo do ministro da Justiça.
Quando questionado sobre se o ministro da Justiça estaria "se intrometendo" na Câmara dos Deputados, Maia disse que Moro é "funcionário do presidente" e que o projeto "não tem nenhuma novidade".
— O funcionário do presidente Bolsonaro? Ele conversa com o presidente Bolsonaro e, se o presidente Bolsonaro quiser, ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu acho correto (sobre a proposta de Moro). O projeto é importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro Alexandre de Moraes. É um "copia e cola". Não tem nenhuma novidade, poucas novidades no projeto dele — disse Maia.
O deputado disse ainda que o projeto prioritário é o apresentado por Moraes, quando ele era ministro da Justiça, ainda no governo de Michel Temer.
Mais cedo, nesta quarta-feira (20), Sergio Moro havia lamentado o "congelamento" da proposta. Ele disse que "não via maiores problemas" de o projeto anticrime tramitar junto da reforma da Previdência e que estava conversando com Maia sobre o tema.
— O desejo do governo é que isso desde logo fosse encaminhado às comissões para os debates. Decisões relativas ao Congresso Nacional dependem dos parlamentares — disse Moro.
Segundo Maia, a votação do pacote se dará no futuro, após a Casa analisar a reforma da Previdência, considerada crucial para o governo Bolsonaro. O deputado negou estar irritado com Moro e disse que o ministro "conhece pouco a política".
— Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro funcionário do presidente Bolsonaro. O presidente Bolsonaro é quem tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as bolas, ele não é presidente da República, ele não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim para ele. Ele está passando daquilo que é a responsabilidade dele. Ele nunca me convidou para perguntar se eu achava que a estrutura do ministério estava correta, se os nomes que ele estava indicando estavam corretos — afirmou.
O presidente da Câmara também ironizou Moro, insinuando que o ministro busca destaque na imprensa ao querer aprovar a proposta apresentada.
— O projeto vai andar no momento adequado, ele pode esperar para ter um Jornal Nacional, um Jornal da Band, ou da TV Record, ele pode esperar.