Sacramentada a demissão do ministro Gustavo Bebianno e com a reforma da Previdência chegando ao Congresso, o governo prioriza agora a montagem de uma base capaz de garantir os 308 votos necessários na Câmara dos Deputados à aprovação das mudanças constitucionais. Por enquanto, os sinais enviados pelos líderes partidários sinalizam que não será tarefa fácil.
Embora publicamente as manifestações das siglas que simpatizam com o governo sejam de apoio à reforma, nos bastidores há cobrança explícita por maior destreza na articulação política e, sobretudo, mais agilidade nas acomodações de aliados em cargos de segundo e terceiro escalões. Diante de tema tão polêmico e com reflexos diretos na vida dos trabalhadores, os parlamentares desejam receber atenção do governo e protagonismo na discussão.
Deputados experientes criticaram, nesta terça-feira (19), o cancelamento de uma reunião na qual o presidente Jair Bolsonaro apresentaria aos líderes os principais pontos da reforma antes de o texto ser protocolado na Câmara. O Planalto preferiu marcar um café da manhã na quinta-feira (21), desagradando quem gostaria de ter acesso prévio ao teor das medidas.
Em retaliação ao que consideram descortesia do governo, já há quem defenda boicote. O líder do PP, Arthur Lira, anunciou que não vai. O DEM, partido dos presidentes da Câmara e do Senado e que tem três ministros, não garante presença.
Duas derrotas do Planalto nesta terça-feira (19) no Congresso indicaram que a fragilidade da coesão na base. No Senado, a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado aprovou por seis a cinco o convite para Bebianno explicar os repasses a supostas candidaturas laranjas do PSL.
Na Câmara, o placar foi ainda mais eloquente. Por 367 votos a 57, os deputados aprovaram regime de urgência para um projeto de lei que susta os efeitos do decreto que alterou as regras da Lei de Acesso à Informação. O texto permite que ocupantes de cargos comissionados classifiquem como ultrassecretas informações públicas do governo. Sete dos votos contrários partiram do PSL, partido de Bolsonaro, entre eles o do presidente nacional do partido, Luciano Bivar (PE). Na sequência, o decreto foi anulado, ampliando a derrota do governo.
Mais cedo, numa tentativa de transparecer otimismo com a aprovação da reforma, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo já teria 250 votos a favor da Previdência, e que somente “60, 70 votos terão de ser buscados”. Já o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL), não se arriscou a fazer estimativa.
Bolsonaro levará projeto ao Congresso
O porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, afirmou à imprensa na tarde desta terça-feira (19) que Jair Bolsonaro levará pessoalmente ao Congresso a proposta de reforma da Previdência elaborada pelo governo.
De acordo com Rêgo Barros, a proposta será enviada ao lado de outros membros do primeiro escalão do governo, como o ministro da Economia, Paulo Guedes. A entrega do projeto está marcada para as 9h30min.
— É a partir daqui que o Congresso, dentro das suas capacidades de análise, pode doar à sociedade aquilo que se espera para o alavancamento do país. Então, nós temos que olhar para a frente — disse o porta-voz.