O cerco ao presidente Michel Temer e seu grupo de amigos — que culminou com a prisão de dois dos interlocutores mais próximos do presidente nesta quinta-feira (29) — começou quando a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar a edição de um decreto que renovava por até 70 anos, sem licitação, os contratos de arrendamento do setor portuário.
Os primeiros indícios de que havia algo suspeito na iniciativa presidencial surgiram após a delação da JBS, quando o diretor jurídico do grupo, Ricardo Saud, afirmou que Temer recebia propina de uma empresa beneficiada pela medida. Desde então, as investigações se aproximam cada vez mais do presidente. Nesse caminho, o diretor da Polícia Federal foi demitido após indicar que o inquérito seria arquivado e Temer teve o sigilo bancário quebrado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Confira a linha do tempo do caso:
10 de maio de 2017
Em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer assina o decreto dos portos, renovando por até 70 anos as concessões ao setor. "Estamos trazendo o Brasil para o século 21", disse ao assinar o documento, salientando investimentos de R$ 23 bilhões da iniciativa privada.
25 de maio de 2017
Após o escândalo da delação da JBS, surge o áudio de uma conversa entre o diretor da empresa, Ricardo Saud, e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer. Durante a conversa, Rocha Loures sugere que um diretor da Rodrimar, empresa beneficiada pelo decreto, poderia receber da JBS propina endereçada a Temer.
13 de setembro de 2017
O ministro do STF Luís Roberto Barroso instaura inquérito para investigar a edição do decreto. "Os elementos colhidos revelam que Rodrigo Rocha Loures, homem sabidamente da confiança do presidente da República, menciona pessoas que poderiam ser intermediárias de repasses ilícitos para o próprio presidente", escreveu Barroso na decisão.
3 de janeiro de 2018
A Polícia Federal envia um questionário com 50 perguntas para Temer. Entre as questões, há indagações diretas sobre eventual propina: "Vossa Excelência recebeu alguma oferta de valor, ainda que em forma de doação de campanha eleitoral, formal ou do tipo caixa 2, para inserir dispositivos no novo decreto dos portos?"
18 de janeiro de 2018
Temer responde por escrito ao interrogatório da Polícia Federal. No documento entregue ao STF, o presidente é evasivo e reclama do teor das perguntas, por colocar em dúvida sua "honorabilidade e dignidade pessoal". "Peço vênia para realçar a natureza ofensiva de algumas delas. Na verdade, denotam absoluta falta de respeito e de urbanidade", diz Temer.
9 de fevereiro de 2018
Em entrevista à agência de notícias Reuters, o então diretor da PF, Fernando Segóvia, diz que não há indício de crime na investigação contra o presidente e indica que o inquérito será arquivado. Ele também sugere que o delegado Cleyber Lopes, responsável pelo caso, será punido.
27 de fevereiro de 2018
Após ser intimado pelo ministro Luís Roberto Barroso a explicar as declarações sobre o suposto arquivamento do inquérito, Segóvia é demitido. Foi a primeira medida tomada pelo novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Segóvia, contudo não caiu em desgraça: foi nomeado adido especial na Itália.
5 de março de 2018
Surge a informação de que o ministro Luís Roberto Barroso quebrou o sigilo bancário de Michel Temer. Reunido com assessores, Temer demonstra irritação com a medida, mas anuncia que irá divulgar à imprensa seus extratos bancários como forma de que não tem nada a esconder. Os extratos, porém, jamais foram divulgados.
10 de março de 2018
Em encontro fora da agenda oficial, Michel Temer se reúne com a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. O encontro ocorre após a quebra do seu sigilo e uma semana depois que o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato, incluiu o presidente em inquérito que apura propina de R$ 10 milhões ao PMDB.
13 de março de 2018
Revoltado com as medidas de Barroso — além da quebra de sigilo, o ministro também modificou um decreto de indulto natalino a presos assinado por Temer —, o titular da Secretaria de Governo, Carlos Marun, anuncia a intenção de pedir o impeachment do magistrado. Marun verbaliza a revolta do Planalto com Barroso, mas é uma voz solitária e não chega a formalizar a denúncia.
29 de março de 2018
Por determinação de Barroso, a PF prende um grupo de pessoas vinculadas diretamente a Temer. Foram detidos o advogado e ex-assessor José Yunes, o coronel aposentado da PM de São Paulo João Baptista Lima Filho, amigo pessoal do presidente, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, além de Celso Grecco, dono da empresa Rodrimar, e de Celina Torrealba, uma das donas do grupo Libra, que também teria se beneficiado com o decreto.