Uma das principais ações apresentadas por Jair Bolsonaro (PSL) em relação à corrida deste ano ao Palácio do Planalto foi o compromisso em anunciar os nomes de seus futuros ministros antes de ser eleito. A ideia foi abandonada ainda na fase de pré-campanha. Segundo ele, alguns escolhidos para a Esplanada pediram para não ter o nome divulgado, por medo de retaliação.
Cinco nomes do primeiro escalão foram confirmados. O economista Paulo Guedes ficará responsável pelo superministério que reunirá as funções da Fazenda e do Planejamento. A pasta também iria absorver o setor de Indústria e Comércio Exterior, mas Bolsonaro voltou atrás após pressão de empresários.
Na Casa Civil, quem fará a interlocução do Planalto com o Legislativo será o deputado federal reeleito Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O preferido do presidente eleito para a vaga de vice em sua chapa, general Augusto Heleno, ficará com a Defesa. A dobradinha não foi possível porque o então partido do oficial da reserva, o PRP, não se coligou com o PSL.
Na quinta-feira (1º/11), o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba Sergio Moro foi confirmado como ministro de uma nova pasta, que unirá Justiça, Segurança Pública e outros órgãos, como Corregedoria-Geral da União e Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Outro nome confirmado é o de Marcos Pontes para a área de Ciência e Tecnologia. Bolsonaro chegou a afirmar que o convite estava feito e só dependeria da vontade do astronauta em assumir o posto na Esplanada. Ele aceitou.
Refratária à imprensa, a equipe que acompanhou o então presidenciável evitou especulações durante a campanha. Ainda assim, militares que atuam na coordenação dos 20 grupos de técnicos que se reúnem diariamente em hotel de Brasília para discutir o plano de governo são cotados para o Executivo, além de apoiadores de setores técnicos.
O objetivo, segundo Bolsonaro, é reduzir o número de ministros dos atuais 29 para 15. Algumas fusões deverão ser realizadas, embora a lista das pastas remanescentes ainda não tenha sido divulgada. Para evitar desgastes, o presidente eleito chegou a recuar de ideias anunciadas, como a junção da Agricultura e do Meio Ambiente em um mesmo ministério. Também mandou recados a aliados, dizendo que “oportunistas” que mencionaram possíveis convites não fariam parte do futuro governo.
Casa Civil
Onyx Lorenzoni
Deputado federal eleito para o quinto mandato, Onyx Lorenzoni recebeu mais de 183 mil votos neste ano, o segundo mais votado do Estado. Aos 64 anos, é médico veterinário formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e sócio de um hospital veterinário em Porto Alegre, onde atuou como clínico e cirurgião por 20 anos. Ingressou no PFL em 1997 e seguiu no partido após a troca de nome para DEM. Apesar da sigla não pertencer à aliança de Jair Bolsonaro, Onyx apoiou o capitão desde o início da campanha. No Congresso, foi o relator do projeto das 10 Medidas Contra a Corrupção, aprovado na Câmara e parado no Senado. Modificações feitas pelo parlamentar ao texto original, sem acordo com os colegas de plenário, causaram mal-estar. Apesar de defender a criminalização do caixa 2, admitiu ter recebido de forma irregular R$ 100 mil da JBS em 2014. Nenhum inquérito foi aberto para investigar o caso.
Economia
Paulo Guedes
Coordenador do plano econômico, é chamado de "Posto Ipiranga" pelo presidente eleito. Ficará à frente da Economia, que vai aglutinar as funções da Fazenda, do Planejamento e do Programa de Parceria de Investimentos.
Com viés liberal, aposta na privatização de todas as estatais, o que poderia render cerca de R$ 1 trilhão, que seriam utilizados para abater a dívida pública. Promete zerar o déficit primário no primeiro ano de governo, a partir de mudanças na Previdência, nos gastos com juros e em despesas com pessoal. Durante a campanha, em evento com empresários, defendeu a criação de um imposto nos moldes da CPMF, além de alíquota única para o Imposto de Renda, sendo desmentido por Bolsonaro. Desde então, não falou mais.
Guedes tem 69 anos e é PhD em economia pela Universidade de Chicago. A especulação no mercado financeiro é uma das marcas de sua trajetória. É um dos fundadores do Banco Pactual e do grupo BR Investimentos, hoje parte da Bozano Investimentos. Durante a campanha, virou alvo de investigação que vai apurar a suspeita de gestão fraudulenta em operações financeiras.
Justiça
Sergio Moro
Natural de Maringá (PR), Sergio Fernando Moro, além de magistrado, é escritor e professor universitário. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, tem mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Paraná e é juiz federal desde 1996. Moro ficou famoso por condenar o ex-presidente Lula, quando liderava as pesquisas de opinião para a Presidência da República, a nove anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Em julho de 2017, o juiz ordenou a detenção do petista.
Transportes
General Oswaldo de Jesus Ferreira
Coordenador dos 20 grupos temáticos que discutem as ações do futuro governo em um hotel em Brasília, Oswaldo de Jesus Ferreira foi convidado diretamente por Jair Bolsonaro para a função. Após 45 anos nas Forças Armadas, o general de 63 anos é próximo ao vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão. Estudioso da matriz energética e da infraestrutura brasileira, comandou o Departamento de Engenharia e Construção do Exército antes de entrar para a reserva, no último ano. O militar causou polêmica ao criticar o Ministério Público e o Ibama.
Ao falar sobre a construção da BR-163, no Centro-Oeste, disse que derrubou “todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco”.
Ciência e Tecnologia
Marcos Pontes
Primeiro sul-americano a ir para o espaço, Marcos Pontes, 55 anos, poderá ser mais um militar a integrar o primeiro escalão de Bolsonaro. Ex-piloto de caça, é mestre em engenharia de sistemas em Monterrey (EUA). Em 1998, foi selecionado para a Agência Espacial Brasileira por meio de concurso público.
Em 2014, se candidatou a deputado estadual em São Paulo, mas não se elegeu. Filiado ao PSL, Pontes chegou a ser sondado como vice na chapa do capitão reformado. Setores militares criticam o nome do astronauta por ter se aposentado aos 43 anos para atuar na iniciativa privada.
Defesa
General Augusto Heleno Ribeiro Pereira
General quatro estrelas, a mais alta graduação do Exército, Augusto Heleno Ribeiro Pereira tem 70 anos e está na reserva desde 2011, depois de atuar por 44 anos nas Forças Armadas. Filiado ao PRP, chegou a ser cogitado para ser vice na chapa do capitão da reserva, possibilidade rechaçada por seu partido que queria apostar em candidaturas ao Congresso. O movimento fez o militar pedir a desfiliação da sigla. Foi chefe do Comando Militar da Amazônia, de 2007 e 2009. No período, envolveu-se em polêmica ao afirmar que a política indígena brasileira é “caótica” e “lamentável”.
Agricultura
Tereza Cristina
Deputada federal reeleita para o segundo mandato, Tereza Cristina, 64 anos, é engenheira agrônoma e coordenadora da bancada do agronegócio no Congresso.
O acordo incluiu a apresentação de uma lista de ministeriáveis ao presidente eleito. Produtora de soja em Mato Grosso do Sul, iniciou na vida política filiada ao PSB, partido que deixou em 2017. Entrou para o DEM. Além da parlamentar, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia, e o senador eleito pelo Rio Grande do Sul Luis Carlos Heinze (PP) também foram lembrados na campanha.
Educação
General Aléssio Ribeiro Souto
Ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, Aléssio Ribeiro Souto coordena o plano de Bolsonaro para a área da educação. O general considera a revisão da bibliografia utilizada nas escolas brasileiras. Em relação à ditadura militar no país, entre 1964 e 1985, quer que os professores digam a “verdade” sobre o período, destacando que houve mortes “dos dois lados”. É contrário à política de cotas e ao ensino de orientação sexual. Defende incluir o criacionismo no currículo. A tendência é de que o ministério acumule os assuntos ligados à Cultura e ao Esporte. O nome do integrante da Associação Brasileira de Educação a Distância Stavros Xanthopoylos, também é cotado para a pasta.
Saúde
Henrique Prata
Aos 65 anos, o pecuarista Henrique Prata administra o Hospital do Amor de Barretos (SP). Também é responsável por outras instituições de saúde no país. Fã de country e de música pop, convive com artistas que vão até a instituição para prestar apoio. Chegou a ganhar competições de rodeio e ainda participa na tradicional festa que ocorre anualmente na cidade. Desde 2011, administra uma faculdade de Medicina. É próximo à família Bolsonaro há, pelo menos, quatro anos. O oncologista e presidente do Instituto COI, Nelson Teich, também é cotado.
Relações Exteriores
A pasta terá importante papel na mediação diplomática com países vistos como estratégicos por Bolsonaro, como EUA, Israel e Itália. Há dois cotados: a representante do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Maria Nazareth Farani Azevêdo, e a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP).
Trabalho
A criação de uma carteira de trabalho verde e amarela, com adesão opcional e mais força em alguns pontos do que a CLT é uma das prioridades. Ainda não há cotados.
Indústria, Comércio Exterior e Serviços
Apesar de anunciar que a pasta seria fundida ao superministério da Economia, a pressão de setores produtivos fez Bolsonaro recuar. Não há nome sugerido para a pasta.
Minas e Energia
A privatização da Eletrobras é uma possibilidade. A pasta pode integrar o guarda-chuva de Transportes e Infraestrutura.
Meio Ambiente
A fusão da pasta com a Agricultura foi abandonada. Segundo Bolsonaro, o comando ficaria com alguém sem “vínculo com o que há de pior neste meio”.
Integração Nacional/Desenvolvimento Social/Cidades
A possível junção das três pastas criará mais um superministério na Esplanada. Nenhum nome foi especulado para a área.