Produtor de grãos, pecuarista e reflorestador, Luiz Nabhan Garcia é presidente da União Democrática Ruralista (UDR). Seu nome tem sido cotado como um dos possíveis candidatos a assumir a pasta da Agricultura em um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL). O dirigente também tem tido voz ativa nas conversas sobre a fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente. A iniciativa gerou intenso debate e críticas do próprio setor. Depois de encontro com o candidato, na noite de quarta-feira (24), afirmou que essa posição poderá ser revista. Confira trechos da entrevista à coluna.
Na visita a Bolsonaro, o que exatamente foi falado em relação à eventual fusão dos ministérios?
O que foi dito foi justamente a possibilidade de deixar isso até um pouco mais para se definir após as eleições. E após um debate maior, com a sociedade, com vários segmentos produtivos, inclusive de forma mais globalizada, a nível internacional, para que possamos avaliar e discutir um pouco mais sobre essa questão. Até porque, existe redução da ordem de 60% no quadro de ministérios. Teremos 15 ministérios. A vontade inicial do Bolsonaro era ter 12. Mas no plano de governo ficaram 15. E isso já é objeto de fusão da maioria dos ministérios. Alguns serão provavelmente extintos e outros incorporados em um único ministério. Agora, existem alguns críticos à fusão. E existem setores que querem muito essa fusão. A própria base produtora, o produtor rural, o agronegócio quer essa fusão. Quando eu digo o agronegócio não é o lado político, que diz representar o produtor. Não a Frente Parlamentar Agropecuária ou alguns deputados, candidatos. Mas se houver a necessidade de manter como está, com os ministérios separados, isso pode sim, acontecer.
Mas mesmo entre representantes do setor há contrariedade a essa fusão...
Existem alguns setores, a própria mídia, que fazem críticas, sem aprofundar o debate. Entidades existem algumas que representam o produtor e algumas pelegas que estão aí com outros objetivos, interesses políticos. Mas a base produtora anseia isso aí. Em abril fizemos uma manifestação de produtores, com mais de 20 mil pessoas, em frente ao Congresso Nacional, mais de 600 entidades e isso era um anseio, que houvesse essa fusão. Inclusive foi feito na época pelo pré-candidato Bolsonaro. Agora, se essa fusão, de certa forma, pode gerar controvérsias, atrito, é uma questão que será discutida de forma mais ampla, e se precisar ser revista, será revista. Não há problema nenhum.
O Meio Ambiente é uma pasta fundamental à produção, mas atende também outros setores. Não seria estranho ter esses segmentos atrelados à Agricultura?
Justamente por isso haverá um debate maior para ver se realmente continua separado ou se vai haver uma fusão. Seria um pouco mais complicado se a gente dissesse: "não, vai ser assim". Estamos vendo a possibilidade de rever, sim. Pode ser revista. Agora, se você analisar por outro lado, verá que 90% dos problemas ambientais estão em zonas rurais, até porque o território do país, a maioria absoluta está no meio rural. Se for somar, em metros quadrados da parte urbana e da zona rural, verá que é expressivamente maior a da zona rural. O Brasil é um país enorme onde 65% da sua cobertura florestal está na área rural. Aí tem as áreas agricultáveis e de pecuária. Ou seja, temos mais de dois terços do país em áreas efetivamente ambientais-rurais. Então, por que não essa fusão? O Mato Grosso do Sul é um exemplo. O governo lá fez a fusão da Secretaria do Meio Ambiente com a da Agricultura. É uma pasta única. Funciona muito bem. Eliminou aquelas questões ideológicas. O grande problema é justamente a pasta do Meio Ambiente se tornar uma pasta ideológica, de interesses escusos e isso não podemos aceitar. Dentro de uma instituição, de uma autarquia, uma indústria da multa em função de posições ideológicas e até comerciais. É um tema que exige mais discussão. Por isso foi declarado que pode ser revista a posição.
Seu nome tem sido cotado para ministro da Agricultura em um eventual governo Bolsonaro. Há de fato essa possibilidade?
Não foi divulgado ainda nenhum nome para ocupar o ministério em eventual governo do Bolsonaro. O próprio candidato disse que ficará para depois. Eu tenho uma amizade muito próxima ao Bolsonaro. Sou produtor, meu tataravô já era. Sou produtor de grãos, pecuarista e reflorestador, para produção de celulose. Eu não estou apoiando a candidatura do Bolsonaro ontem, aqueles apoios que caíram de última hora. Eu estou apoiando essa ideia mesmo antes de ele ser pré-candidato. Em função dessa amizade, desse apoio e desse conhecimento modesto que a gente tem sobre temas que envolvem o agronegócio, tenho sido uma espécie de conselheiro dele. O fato de eu ter sido conselheiro dele, não quer dizer que eu... em algumas situações o próprio Bolsonaro comentou isso aí lá atrás, que seria um possível ministro. Mas isso me constrange. É uma escolha do presidente. Estou como conselheiro, amigo e nada mais. Quem será ministro dependerá da escolha dele, e isso ele já disse que ficará mais para frente.