Há mais de 50 anos, um grupo de 15 amigos costuma reunir-se, toda quinta-feira, em um bar no bairro Menino Deus, na Capital. Falam sobre vida, Grêmio e Inter e, claro, sobre política.
A amizade sobreviveu ao escândalo do mensalão, à eleição polarizada de 2014, à Operação Lava-Jato, ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas titubeia diante do racha entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
O advogado Victor Marona, 70 anos, explica a encrenca. No sábado, véspera do primeiro turno, ele postou um texto no Facebook intitulado “Os amigos, a eleição e o voto”, no qual, segundo ele, quase “pedia desculpas” por votar no candidato do PSL. E desfraldava seus argumentos, em tom irônico, para votar no presidenciável.
– Isso vem desde o mensalão, que a coisa aflorou, eleição de 2014, comportamentos, Queer Museu, tudo é motivo para bater boca, cada um dar seu pitaco. A gente é tão amigo que discute em alto tom – diz o advogado.
Mais ou menos. No calor do impeachment, um primo o bloqueou no WhatsApp.
– Culpado fui eu, nunca mais falou comigo. Mas não ofendi nem nada. Chamei de petista, ele não se dizia petista. Não consegui fazer as pazes – lamenta Victor, desejoso de uma paz duradoura.
Não foi o único. Outro primo também o bloqueou. E ainda duas sobrinhas, uma delas cientista política.
– Ficou feio – diz ele. – Sou muito aguerrido no que escrevo, sou meio brigão – admite.
Para pedidos de desculpas pós-eleições e retomada de diálogo, ele avisa: na próxima quinta-feira, estará ali. O endereço: Regina Bar e Restaurante, Rua Visconde do Herval, número 760, bairro Menino Deus, na Capital.