A notícia que se espalhou logo após a apuração dos votos do primeiro turno é de que ocorreu uma divisão geográfica: o Nordeste ficou com Fernando Haddad, as demais regiões com Jair Bolsonaro. Uma análise mais cuidadosa dos dados revela que não foi apenas isso. A opção eleitoral, em todo o país, refletiu o mapa da distribuição da pobreza. Nos municípios com mais pobres, inclusive no Rio Grande do Sul, o petista foi o mais votado. Onde há menos pobreza, triunfou o candidato do PSL.
— O resultado foi marcado muito mais pela divisão entre classes sociais. O eleitor pobre sentiu uma mudança na qualidade de vida com os governos petistas. O de classe média, não. A partir do mensalão, a imagem do PT mudou na classe média. Para o eleitor mais pobre, até abalou um pouco, mas não é a principal consideração ao decidir o voto — diz Renato Francisquini, da Universidade Federal da Bahia.
Para perceber essa divisão, é instrutivo examinar o ranking da renda média por Estado. Nos 12 em que ela é menor, Bolsonaro ganhou apenas em um, o Acre. Haddad venceu em 10, incluindo o Pará, no Norte. Ciro Gomes (PDT) venceu no último, o Ceará. Quando se olha para dentro de cada Estado, o mesmo fenômeno se repete. Os maiores índices de Bolsonaro no RS foram obtidos em regiões ricas, como a Serra. Mas Haddad foi o mais votado em municípios que tradicionalmente aparecem com os piores indicadores socioeconômicos — concentrados no extremo Norte, na Fronteira Oeste e na Campanha. São cidades que tendem a depender mais das políticas de inclusão social em que os governos do PT apostaram.
Minas Gerais é outro exemplo marcante. Haddad venceu em toda a metade Norte, mais pobre. No Amazonas, Bolsonaro só conseguiu ganhar em duas cidades, uma delas Manaus, a mais rica — e que, mais populosa, garantiu-lhe a vitória geral no Estado. No Nordeste, o grande bolsão petista, Bolsonaro obteve vitória em várias cidades — geralmente capitais e grandes centros urbanos, onde há uma classe média mais numerosa. Em Maceió, por exemplo, fez 52% dos votos. Na Paraíba, ganhou nas duas cidades maiores, João Pessoa e Campina Grande.