Candidata a vice na chapa do presidenciável Fernando Haddad (PT), Manuela D'Ávila (PCdoB) afirmou nesta segunda-feira (22), em entrevista à Rádio Gaúcha, que as manifestações de apoio ao adversário Jair Bolsonaro (PSL), ocorridas pelo país neste domingo (21), não interferem diretamente nas estratégias da chapa na reta final da campanha eleitoral.
— O que muda nesta semana é que nós estamos, em primeiro lugar, mostrando ao povo brasileiro, e mostraremos com mais intensidade o que pensa o candidato a presidente, esse que não aceita a liberdade de imprensa, a liberdade de opinião e sequer um pensamento crítico ao seu — afirmou Manuela, se referindo à fala de Bolsonaro de que "marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria", dita durante transmissão ao vivo para apoiadores que protestavam na Avenida Paulista.
Manuela D'Ávila ainda rebateu as afirmações de que o PT não fez uma autocrítica após os escândalos de corrupção que permearam os governos Lula e Dilma.
— Não sou petista, então eu respondo pelo meu partido. Do ponto de vista da nossa candidatura, nós acreditamos que a autocritica é algo que se faz na prática — pontuou a candidata e vice.
A seguir, ouça e leia a entrevista completa:
Ontem vimos demonstração de força de Jair Bolsonaro pelo país, inclusive em Porto Alegre. Foram numerosas manifestações em favor da candidatura dele. Isso muda alguma coisa na estratégia da reta final na sua campanha?
Eu estava em Porto Alegre no sábado, durante as manifestações gigantescas que aconteceram aqui no Estado e em todo o país em favor da nossa candidatura, assim como estava ontem (21), já que a manifestação a favor do candidato Jair Bolsonaro foi do lado da minha casa, eu garanto que a nossa mobilização no sábado foi muito maior.
O que muda? Não diante da manifestação dos cidadãos que se envolvem, mas diante das manifestações absurdas do deputado há 26 anos Jair Bolsonaro que exterminará ou mandará para fora do país ou prenderá aqueles que pensam diferente. Então, o que muda nesta semana é que nós estamos, em primeiro lugar, mostrando ao povo brasileiro, e mostraremos com mais intensidade o que pensa o candidato a presidente, esse que não aceita a liberdade de imprensa, a liberdade de opinião e sequer um pensamento crítico ao seu.
Além disso, nós também encaminharemos ao conjunto de autoridades do país esse conjunto de ameaças que ele faz de maneira reiterada. Ontem, ainda, durante uma chamada telefônica sobre manifestação que acontecia em São Paulo, mas que ele fez questão de amplificar em suas redes sociais, fazendo ameaças concretas de perseguição aos que pensam diferente dele (Bolsonaro fez transmissão em vídeo transmitido ao vivo para apoiadores que protestavam na Avenida Paulista, na qual disse que "esses marginais vermelhos", referindo-se aos adversários petistas, "serão banidos de nossa pátria").
Durante a campanha, a senhora teve de mudar ou parou de falar em alguns assuntos sensíveis, como legalização das drogas e aborto, porque essa é uma campanha em que se discute muito essas questões de costumes. Mudou a senhora ou esses assuntos foram retirados estrategicamente da campanha?
Nem uma coisa nem outra. Eu sempre abordo os temas que são me perguntados. Infelizmente, há algum tempo eu já tenho alertado, inclusive, alguns jornalistas na coletiva que eu dei no primeiro turno, no momento em votava no colégio Santa Inês, aqui em Porto Alegre, não compreenderam, que a minha fala foi absolutamente toda sobre as fake news e do financiamento dessas notícias falsas.
Então, infelizmente, eu passei uma parte grande do primeiro turno desmentindo noticias absurdas, montagens esdrúxulas, que ameaçavam algumas fisicamente a mim, outras minha filha de três anos, o meu marido, o meu enteado, um conjunto de mentiras envolvendo questões particulares ou relacionados à religiosidade ou às crianças do nosso país. Eu nem retirei assuntos nem deixei de falar sobre eles, sempre que perguntada, falo. Mas creio que nós perdemos uma energia muito grande, não só a nossa chapa, mas a imprensa e o conjunto de interessados no processo eleitoral, com o esclarecimento das mentiras. E no final da semana que passou nós tivemos a comprovação de algo que eu levanto, particularmente, há muito tempo, há mais de ano, de que há dinheiro não declarado financiando a amplificação dessas noticias (falsas) em rede.
Como eu trabalho há muito tempo com redes sociais, eu sempre me lembro que no ano de 2005, quando eu era vereadora de Porto Alegre, a RBS fez uma matéria sobre o comportamento dos parlamentares e falava que eu usava redes sociais para prestar contas do mandato como algo inusitado. Então, eu uso há muito tempo. E eu sei que uma fake news não vai de um a 19 mil compartilhamentos em dois minutos — como eu vi acontecer com uma concretamente no meu celular, olhando aquela página aos milhares e milhares de compartilhamentos por minuto — se não tiver financiamento, robô. E como a campanha do nosso adversário não declara o uso disso, certamente é dinheiro não declarado, como, ao fim e ao cabo, o TSE já está investigando.
Domingo (28), na agenda que fez, o candidato Fernando Haddad fez duas promessas: teto de R$ 49 para o preço do botijão de gás no país e um aumento de 20% no Bolsa Família a partir de janeiro. Sabemos que o orçamento de 2019 tem um rombo imenso. É promessa eleitoreira? Se não é, como colocar em prática caso Haddad seja eleito presidente?
Nós temos um conjunto de propostas que são antagônicas ao do nosso adversário como caminho para enfrentar a crise, porque nós não acreditamos nesse caminho que contingencia e que ajusta os gastos e que diminui os investimentos públicos.
MANUELA D'ÁVILA
Em entrevista à Rádio Gaúcha
Acho excelente que vocês façam perguntas sobre a crise, porque o nosso adversário não apresenta sequer um caminho pra nós enfrentarmos aquele que deveria ser o grande assunto da eleição, que é a crise da economia, que são os 14 milhões (na verdade, são quase 13 milhões) de desempregados, que são a 1,5 milhão de moradias que cozinham sem gás, já usando álcool ou com lenha. Em São Leopoldo, recentemente, o prefeito Ary Vanazzi (PT) me disse que há um aumento de 10% no numero de queimaduras em função do uso de lenha e álcool para cozinhar. Então, essas duas propostas têm relação com isso: com o aumento da pobreza novamente no Brasil, com os índices elevados de brasileiros e brasileiras na miséria e o não uso de gás para cozinhar.
Temos um conjunto de propostas que são antagônicas ao do nosso adversário como caminho para enfrentar a crise, porque nós não acreditamos nesse caminho que contingencia e que ajusta os gastos e que diminui os investimentos públicos. Esse foi o caminho adotado por Temer, aumentando o déficit público. Nós retomaremos os investimentos públicos revogando a emenda constitucional 95. Queremos submeter isso ao Congresso, porque, retomando os investimentos públicos, e fazendo a reforma tributária que Haddad tem falado de forma bastante repetitiva, cremos que o povo vai ter mais dinheiro na mão, consumir mais e, com isso, a arrecadação do governo vai aumentar.
Então essas duas medidas não seriam colocadas em prática imediatamente, dependeriam dessas reformas?
Não, não é isso que eu falei. Eu falei que nós temos um conjunto de medidas para retirar o país da crise e garantir a execução de medidas como essas.
A longo prazo?
Não necessariamente. O tema do gás de cozinha...
A partir de janeiro daria para colocar em prática?
Sim, daria. Evidente que sim.
O terceiro colocado do primeiro turno foi o PDT, candidato Ciro Gomes. Ciro Gomes se distanciou da campanha, viajou para o Exterior. A vice dele ficou aqui, a Kátia Abreu, deu uma declaração em que atribui a culpa da eleição do Bolsonaro ao PT. Disse que o PT não soube deixar cicatrizar as feridas e apoiar uma candidatura de esquerda. O ex-governador do Ceará e senador eleito Cid Gomes, na semana passada, foi a um comício do PT e fez um estardalhaço sobre o PT, dizendo que o Lula está preso, chamou um eleitor de "babaca", inclusive, e disse que o PT não teve a capacidade de fazer uma autocrítica. A senhora não é do PT, mas é do PCdoB e desde sempre esteve aliada ao PT. No caso, é candidata a vice pelo PT. Faltou essa autocrítica...
Sou candidata pelo PCdoB.
Sim, a senhora é candidata à vice pela chapa do PT. A senhora sempre foi do PCdoB e sempre apoiou o PT de certa forma. E apoia agora...
Eu concorri duas vezes a prefeita de Porto Alegre também pelo meu partido, tu deves de recordar, a gente tem mais ou menos a mesma idade.
Acho que sou um pouquinho mais velho do que a senhora. Mas, é o seguinte, a autocrítica do PT. Ontem, nessas manifestações, o que se viu foi apoio ao Bolsonaro, mas, fundamentalmente, o movimento contra o PT, atacando o PT, criticando o PT. Não faltou uma autocrítica pelo partido em relação a tudo que aconteceu, Lava-Jato, envolvimento com corrupção, desvio de dinheiro, caixa 2?
Do ponto de vista da nossa candidatura, nós acreditamos a autocritica é que algo que se faz na prática.
MANUELA D'ÁVILA
Candidata a vice de Haddad
Não sou petista, então eu respondo pelo meu partido. Do ponto de vista da nossa candidatura, nós acreditamos que a autocritica é algo que se faz na prática. O que tu perceberás é que o Haddad tem falado de forma bem constante que nós não tivemos mecanismos de controle e combate à corrupção adequado ao tema das estatais. Que nós garantimos o controle da corrução dos ministérios.
Por exemplo, ele mesmo, no Ministério da Educação, nunca teve sequer um episódio investigado. Mas nós garantimos que o primeiro colocado na lista da procuradoria-geral da República fosse um indicado (para comandar a PGR). É bom lembrar que Temer não garantiu essa tradição nossa, dos governos do presidente Lula, do primeiro colocar ser o indicado.
Mas o Lula está preso, candidata.
Querido, estou tentando te responder. Posso tentar? Ah obrigada, obrigada. Como tu lembras, também sou jornalista. Qualquer coisa eu te pergunto. Estou tentando concluir um raciocínio depois de uma pergunta de uns quatro minutos que tu me fizeste. Posso? Obrigada.
Então, nós garantimos que, além da PGR ter seu indicado, a Polícia Federal fosse equipada para que conduzir um conjunto de investigações que são necessárias. As estatais não têm esse mecanismo, portanto, é preciso pensar em mecanismos de controle e combate à corrupção também nas estatais. Nós estamos diante, é essa a interpretação que eu faço, de uma candidatura que não faz autocrítica sequer dos bárbaros crimes de tortura que o Brasil viveu na década de 60. Nós estamos diante de declarações permanentemente absurdas dum cidadão que foi deputado por 26 anos e nunca aprovou, sequer, um projeto (na verdade, aprovou três projetos).
Sempre me parece estranho a repercussão dada a uma fala do Cid, por exemplo, no interior do Ceará, um aliado nosso, alguém que já declarou seu voto e que tem esse comportamento mesmo, intempestivo, de falar , todos conhecemos Cid, mas que não está concorrendo nas eleições presidenciais, e a absoluta invisibilidade que se dá a frases absurdas em relação ao Brasil do principal adversário da nossa chapa. Então, sim, acho que muitos pontos da autocrítica foram feitos na prática, estão incorporados no nosso programa, sobretudo esses que tu referes, relacionados ao combate da corrupção nas estatais. Mas eu sempre vejo uma dimensão muito elevada dada às declarações do Cid, que não concorre a presidente, e um esforço para tentar subestimar declarações de desrespeito ao STF, do filho do candidato. A ministra Rosa Weber ontem disse "o candidato já desautorizou o filho", ora, mas não sou eu falando da minha filha Laura, é um deputado federal. Como que um deputado federal diz que o Supremo, para fechar, basta um sodado e um cabo, que manda prender o ministro Gilmar Mendes e a ministra fala, assim, "o candidato desautorizou" e trata-se como se fosse um episódio de família.
Não, não é um episódio de família. É um deputado falando sobre o seu pai, que no caso é candidato a presidente da República. O candidato a presidente da República fala numa manifestação que vai prender ou mandar para fora do país todos os que pensam diferente. Então, como tu colocas, "eu vi no Parcão muito do anti-petismo", é bom que as pessoas reflitam o quanto do anti-petismo das pessoas pode ser maior do que o amor ao que nós construímos depois da Constituição de 88.
Candidata, um dos objetivos com as entrevistas é falar de propostas. Nós temos um tema que é muito caro na Rádio Gaúcha, que é a educação. Caso a chapa Haddad-Manuela seja eleita, qual é o foco de vocês para a educação, já que temos atualmente índices de educação vergonhosos em relação a países do mesmo porte e no Ideb estamos muito longe da meta?
Tu tens a vida dedicada a fazer com que os políticos debatem a educação, Rosane, tu sabes que o Haddad foi o ministro da Educação que mais investiu naquilo que é obrigação originária e constitucional do Ministério da Educação que é o Ensino Superior. Nós garantimos a abertura de cem escolas técnicas no país, isso é mais do que tínhamos feito em toda a história do Brasil. As escolas técnicas de Ensino Médio têm um papel relevante, porque ofertam o melhor Ensino Médio do Brasil. Isso tem relação com uma das nossas propostas: nós garantimos que os estudantes mais pobres entrassem nas universidades públicas, dobrando as vagas e também nas universidades privadas com o Prouni.
Além disso, e eu falo isso pra justificar de onde nós partimos para as propostas que temos para o novo período, nós garantimos a aprovação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). O Fundeb foi inovador, porque garantiu, pela primeira vez, que a educação infantil, que é uma das nossas maiores lutas, fosse contemplada no repasse da União aos municípios. O Fundeb vence no ano que vem, pouca gente sabe disso. Então, primeiro, temos a proposta de renovar o Fundeb, garantindo esse conjunto de investimentos para a educação infantil.
Particularmente, essa é uma obsessão minha, porque quando nós olhamos o desemprego das mulheres, a ausência da participação desequilibrada das mulheres no mercado de trabalho, tem muita relação com a ausência de vagas na educação infantil. Além disso, nós temos um outro gargalo no país que é o Ensino Médio. Financiamos o Ensino Fundamental, que é de responsabilidade dos municípios, com o Fundeb, ampliamos o investimento em educação infantil... já é comprovado que a criança estimulada nos primeiros anos de educação infantil tem menos risco de evasão no Ensino Fundamental, porque ela chega mais apta, mais preparada para o primeiro ano do Ensino Fundamental.
A proposta de adoção pelas escolas de Ensino Médio federais das escolas de Ensino Médio do Estado, daquelas que têm o pior resultado por aqueles que têm o melhor resultado.
Como funcionaria na prática essa adoção?
O Haddad tem se dedicado a explicar nisso, porque ele elaborou a proposta com muito cuidado. As escolas com melhor desempenho são as públicas federais, porque recebem mais investimento. Às vezes, as pessoas falam "é porque é militar" ou "porque é técnica". Na vida real, elas recebem mais dinheiro e isso tem um impacto no desempenho dos seus estudantes, porque tem impacto na vida do professor, na biblioteca, nos equipamentos.
Então, a partir de um pacto com os governadores, que têm responsabilidade pelo Ensino Médio, se observaria quais escolas têm o resultado pior. A partir daí, professores e corpo técnico adotariam prática de gestão escolar e compartilhamento de conteúdos para fazer com que aquela escola pior chegue a um patamar similar à escola pública federal. Acho que essa proposta é bastante inovadora, porque nós temos uma evasão que ainda é elevada no Ensino Fundamental, sobretudo entre o 5º e o 7º ano. Também tenho uma explicação para isso, porque é a idade em que as mães começam a deixar os filhos sozinhos. Quando (eles) têm 11, 12 anos a mãe que trabalha já começa a dar um jeito, porque os meninos já conseguem cuidar um pouco de si.
O compromisso do Haddad é de, como presidente, ter olhar atento para essa situação para impedir a evasão que é gigantesca, que faz o que nós chamamos dos jovens "nem-nem", que nem estudam no Ensino Médio, que deveria ser o seu compromisso, nem conseguem trabalhar, porque não tem qualificação.
Candidata, outra questão é a reforma da Previdência. Fizemos essa pergunta ao candidato Haddad e também fazemos à senhora. Qual é a reforma da Previdência que seria encaminhada ao Congresso Nacional caso houvesse a vitória da chapa? Com idade mínima, sem idade mínima, ou não haverá reforma da Previdência. Qual é a sua opinião sobre isso?
Eu tenho uma opinião, que é minha, já expressei algumas vezes publicamente. O Haddad já disse que no primeiro momento suas reformas prioritárias são a tributária, a fiscal e a do sistema bancário, não é a da Previdência. Como eu atribuo o déficit da reforma da Previdência ao aumento do trabalho informal no país, porque à medida que aumenta a informalidade, as pessoas contribuem ainda menos e, portanto, há um aumento do déficit da Previdência. Eu acredito que com a criação de empregos formais e com a revogação da reforma trabalhista, que também é dos compromissos da nossa candidatura, deve diminuir o chamado déficit da Previdência – que, a bem verdade, ninguém sabe exatamente de quanto é, porque se perguntar para o governo federal ele vai dar um número, se perguntar para os senadores que participaram da CPI vão dar outro número. Então, também existe o tema de auditar o déficit da Previdência para sabermos qual é o déficit real, qual é o tamanho da sonegação dos novos pagadores da Previdência, para sabermos de que número estamos falando.
Agora, é óbvio que existe um envelhecimento da população e há necessidade de fazermos um pacto no país que tem a ver com a aposentadoria, mas também com o mundo do trabalho. A gente tem um povo que trabalha uma jornada elevada, e com o trabalho intermitente aprovado pela reforma trabalhista trabalhará ainda mais, que se desloca e leva um tempo não computado no seu trabalho, mas que, às vezes, chega a uma hora meia para ir, uma hora e meia para voltar. A gente está falando que esse trabalhador se aposentará ainda mais tarde? Na nossa interpretação não. Precisamos combater privilégios na Previdência, aqueles que extrapolam o teto, por exemplo, e não esse trabalhador que recebe o salário mínimo.