Candidata a vice-presidente pelo PDT, a senadora ruralista Kátia Abreu (TO) escolheu a independência no segundo turno da eleição para poder exercer uma função considerada estratégica em 2019: tornar-se oposição a qualquer um dos dois candidatos que venha a ser eleito. Aliada de Dilma Rousseff no impeachment, ela não poupa críticas ao PT:
— Não souberam recuar na hora certa e agora vão eleger Bolsonaro. A culpa é deles.
Kátia Abreu também reprova Bolsonaro:
— Ele foge dos debates. Os aliados dizem uma coisa, ele desmente. Não se entende com o vice. Não consegui entender as propostas para o país.
Qual será o seu papel e o do PDT neste segundo turno das eleições?
Não vou apoiar nenhum dos dois candidatos. Não é implicância pessoal com A ou com B, acontece que não vejo neles um projeto de país que possa me encantar. Não é não aceitar as urnas, claro que aceito o resultado. Aliás, o resultado é que os eleitores me deixaram fora, e fico no Senado. E quem quer que seja eleito terá o meu voto para projetos importantes para o país. Mas vou ficar fiscalizando tudo, todas as ações, como boa oposição que fui, inclusive, durante os oito anos do governo Lula. O PDT, por conta da sua história, do passado brizolista, decidiu que não vai se ausentar em um momento delicado e acertou proibição no voto ao (Jair) Bolsonaro, sob pena de expulsão. Como também acho que o outro candidato (Fernando Haddad) não tem um projeto que me agrada. Acho cedo demais eles (o PT) terem voltado por conta das cicatrizes de tudo que aconteceu. Não tiveram a grandeza de se afastar, de esperar as cicatrizes serem curadas.
A senhora fala do PT?
Sim, do PT. Não teve a grandeza de se afastar e de apoiar outro candidato. Por que não apoiaram Ciro Gomes? A questão não é o país? Não, eles estão provando que a questão é o PT. Então, vamos ver o que vai dar. Eles vão dar a vitória ao Bolsonaro. Eles dizem ter tanto horror ao Bolsonaro, mas eles estão escolhendo o próximo presidente da República.
A senhora falou isso ainda no primeiro turno?
Cansei de falar. A realidade teria sido completamente diferente, e falo assim não por adivinhação. As pesquisas diziam isso.
Qual a sua relação com o PT?
Não sou defensora de petista, não. No impeachment, defendi a democracia. Então, defendi Dilma, que é uma pessoa que, na minha avaliação, não é desonesta. Ela errou na política e na economia, mas não havia motivo para o impeachment. Muitos outros erraram assim e não tiveram o mesmo fim. Agora, sobre apoio: se sentisse que um dos dois tivesse um projeto para o país, uma agenda forte para mudar os rumos da pobreza, do desemprego, do déficit público, teria tranquilidade em oferecer apoio. Está havendo muita confusão. Henrique Meirelles, que sabe pouco de política, é experiente economista. Ele decidiu não apoiar nenhum dos dois porque não viu neles um plano consistente de economia. Sobre o de Paulo Guedes, disse que não entendeu ainda. Quanto ao de Haddad, afirma que é igual ao da Dilma. Se ele, que é economista, diz isso, tenho de concordar.
O seu meio, o rural, do agronegócio, vota em peso em Bolsonaro. A senhora não se sente uma estranha no ninho?
Não. Nem todos no agronegócio estão votando no Bolsonaro porque morrem de amores por ele, não. Votam nele porque têm pavor do PT. E para o meu setor, não consegui ver o programa de governo dele. Ele não foi a debates e se recusa a ir neste segundo turno. Sobre as propostas, o vice fala e ele desmente. O economista fala e ele desmente. Onyx (Lorenzoni) falou em reforma da Previdência, à noite o candidato falou outra coisa. Minha agenda é política, não vou agir com paixão. Já os produtores podem tomar sua decisão pensando apenas na questão rural. Agora, os produtores ouvem do Bolsonaro que não vai ter invasão de propriedade, que não haverá demarcação de terra. Não condeno os produtores de apoiarem o Bolsonaro, porque isso sempre foi um martírio nas nossas vidas.
No Senado, a senhora será oposição a qualquer um que for eleito?
Sim, ao Bolsonaro e ao PT. Meu futuro é Ciro Gomes em 2022. Não vamos desistir desse projeto. Quero trabalhar para, em 2020, reforçar a eleição nas prefeituras e preparar o terreno. O PDT não está esruturado nos municípios e isso foi "judiação" com Ciro. Íamos às cidades e não havia candidato apoiando, não tinha ninguém. Por exemplo, em Canoas, tínhamos Jairo Jorge, mas ia para outro município e não havia ninguém para apoiar. E hoje, neste cenário político, o sujeito é de um partido, mas apoia quem era concorrente. A relação de apoios virou casa de cachorro doido. Perdeu a eleição e corre para os braços de quem vai ganhar? Não pode ser assim, por isso que está todo mundo enojado com a política.