O general da reserva do Exército Antônio Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), rechaçou as acusações de racismo após uma declaração na qual afirma que o Brasil herdou a "malandragem" do negro e a "indolência" do índio. A declaração foi dada durante uma palestra na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, na tarde desta segunda-feira (6).
— Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena, minha gente, meu pai era amazonense. E a malandragem. Edson (da) Rosa, nada contra, viu, mas a malandragem que é oriunda do africano. Esse é o nosso caldinho cultural — disse o general, citando o vereador negro Edson da Rosa (MDB), que posteriormente afirmou não ter visto racismo na fala.
Em entrevista a GaúchaZH, em Gramado, Mourão reclamou que a repercussão da fala foi enviesada.
— Tenho dito isso em todos os lugares. Nós somos uma amálgama de três raças: do branco, europeu, do índio, que já estava na América, e do negro africano que foi trazido escravo para cá. Sou filho de amazonense, meu sangue é indígena total. Cada raça tem suas coisas boas e coisas ruins, que se juntaram na raça brasileira. Falei que o branco gosta de privilégio, mas ninguém comentou isso — declarou o general.
Mourão foi escolhido por Jair Bolsonaro para vice no domingo, construindo uma chapa de dois militares da reserva — o deputado fluminense chegou ao posto de capitão. Em outubro de 2017, Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 50 mil de multa por ofender negros e quilombolas em uma palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro. Ele também enfrenta um processo no STF sobre essas declarações.
— O que deixo muito claro é que eu não sou racista, Bolsonaro não é racista, nós entendemos claramente a raça brasileira, e nós somos isso que se procura hoje, trazer para dentro do Brasil conflitos que nós não temos. Não temos o conflito racial como há em outros países — disse o general.
Confira na íntegra as declarações do candidato a vice-presidente Antônio Mourão
Sobre uma fala que o senhor fez agora em Caxias, ela repercutiu internacionalmente...
Já estou sabendo. Isso aí é alguém que puxou o ponto da forma do viés. Sabe que interpretação é interpretação. Eu tenho dito isso em todos os lugares. Nós somos uma amálgama de três raças: do branco, europeu, do índio, que estava na América, e do negro africano que foi trazido escravo da África para cá. Eu sou filho de amazonense, meu sangue é indígena total. Cada raça tem suas coisas boas e coisas ruins, que se juntaram na raça brasileira. Eu falei que o branco gosta de privilégio, mas ninguém comentou isso. Então, infelizmente, nós estamos em uma campanha política, e as pessoas buscam pinçar coisas, óbvio que nos olham aqui, Bolsonaro e a mim, são homens autoritários, homens de direita, oriundos do Exército, todos aqueles estigmas e paradigmas que buscam colocar em cima da gente que nesta hora as pessoas tentam cristalizar. O que deixo muito claro é que eu não sou racista, o Bolsonaro não é racista, nós entendemos claramente a raça brasileira, e nós somos isso que se procura hoje, trazer para dentro do Brasil conflitos que nós não temos. Não temos o conflito racial como há em outros países.
O senhor não achou discriminatório?
Não jamais, jamais. Eu vivi em um país que discrimina, e sei como é.
O senhor passou a ser muito visado. Vai procurar medir um pouco mais as suas falas?
O meu pensamento tem que ser exposto, as pessoas têm que me conhecer. Muitas vezes, as pessoas me carimbam sobre determinadas coisas sem jamais terem conversado comigo, sem procurar entender a forma como eu penso. Isso às vezes é até uma deslealdade intelectual. É até um estigma: "É general, é do Exército, esse cara é torturador, é isso, é aquilo" e não é assim que as coisas funcionam.