Presidente da Câmara e disposto a atravessar a Praça dos Três Poderes para comandar o Palácio do Planalto, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) sustenta que o ciclo do PSDB terminou e que o campo de centro-direita precisa de novo rumo. É com esse argumento que ele pretende convencer o próprio partido a bancar a cabeça de chapa, apesar do desempenho ruim nas últimas pesquisas.
Filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, pai de quatro filhos, Rodrigo tem um plano B: se não disputar a Presidência, concorrerá à reeleição e tentará voltar à presidência da Câmara. Embora o DEM faça parte do governo Temer, Maia tenta se descolar da administração emedebista, com críticas à falta de ações na área social.
Com discurso liberal, defende as reformas e maior eficiência do Estado. Na lista da Odebrecht, o deputado aparece como Botafogo. Nesta entrevista na sala da residência oficial, às margens do Lago Paranoá, Maia mostra que está com o discurso de campanha na ponta da língua. A seguir, os principais trechos:
A Câmara aprovou o texto-base do cadastro positivo. Será possível votar outros itens da pauta econômica até o final do ano?
Temos a MP 811, do pré-sal, que é importante. Da agenda mais econômica, vamos conseguir avançar na duplicata eletrônica. Os projetos das agências reguladoras também podem. Outro ponto que acredito que possamos progredir até o final do ano é o distrato para resolver a regulamentação do setor da construção civil, que ficou com muita insegurança jurídica no período da crise.
E a privatização da Eletrobras?
A Eletrobras, o governo está avaliando. Precisa ver quantos votos de fato o governo tem no plenário para aprová-la.
O senhor já criticou algumas vezes o governo porque os projetos chegam sem ter os votos necessários para aprovar. O governo está trabalhando nisso?
Está reorganizando, estava muito solto.
O governo vem perdendo apoio nos partidos da base?
É um período pré-eleitoral e um governo com muito desgaste, que acaba gerando desorganização maior do que o necessário, do que poderia ser. Agora, o papel de comandar essa articulação da base é do governo, não dá para a presidência da Câmara comandar sozinha um processo de uma agenda econômica.
A Câmara ficou a reboque do STF na questão do foro privilegiado?
Alguns partidos acreditavam que o Supremo não ia decidir. Avaliaram errado. Eu tinha convicção que o Supremo iria resolver.
É possível levantar a intervenção federal no Rio de Janeiro por alguns dias para votar o fim do foro?
Não precisa levantar. A intervenção tem que andar mais um pouco. Os resultados ainda estão muito tímidos. O interventor não conseguiu nem organizar a equipe administrativa dele porque não tem os cargos para nomear. Então, não tem equipe administrativa, não consegue usar aquele R$ 1,2 bilhão da medida provisória. O ideal é que a Câmara pelo menos legisle, deixe pronto o projeto do fim do foro para que se vote no final do ano ou no início do ano que vem.
O senhor é a favor do fim do foro? E qual a sua opinião sobre a prisão após condenação em segunda instância?
É importante que se avance. Mas acho que essa decisão sempre passa por uma compreensão do Legislativo. Quando o Supremo decide, acaba decidindo por partes. Em relação à segunda instância, acredito que ou você vai legislar o que é emenda ou que você vai legislar a regulamentação da segunda instância. São dois temas que o Legislativo deveria ter avançado ou até rejeitado. Muitas vezes o Legislativo não faz por decisão política, não querer fazer.
Nos bastidores do Congresso se fala numa terceira denúncia contra o presidente Michel Temer. O senhor teme a votação de mais uma denúncia?
Não, não temo. Não tenho nenhum problema em votar ou não votar. Mas esse não é um assunto da Câmara. Esse assunto só será da Câmara se, por um acaso, a procuradora-geral resolver denunciar o presidente.
Qual seria o maior erro e o maior acerto do governo Temer?
O maior acerto é a discussão da organização das contas públicas, a preocupação em discutir as despesas públicas, a PEC do teto. O maior erro do governo foi não ter uma política focada no cidadão. De que forma você vai criar políticas compensatórias, pensar programas que possam gerar mobilidade social nos brasileiros que estão no Bolsa Família. Acabou que o governo gerou uma expectativa nessa área de geração de emprego, de política social, mas o movimento natural não aconteceu.
O senhor esperava que o governo Temer fosse melhor?
É. Não coloquei na minha conta duas denúncias contra o presidente. Acho que ninguém colocou, só se tivesse bola de cristal.
A sua candidatura à Presidência é para valer?
Estamos trabalhando firme. É pra valer, claro!
O senhor chegou a falar que o seu teto mínimo nas pesquisas deveria ficar em 7% para confirmar a candidatura.
Não disse isso, disse que gostaria. Acho que essa vai ser uma eleição que não vai ser resolvida por pesquisas eleitorais. Você terá que construir um ambiente de articulação, de tempo de televisão, mais palanque estadual para ser um candidato viável nos 45 dias de campanha.
O senhor esteve com o ex-governador Geraldo Alckmin. Há possibilidade dessa reaproximação do DEM com o PSDB?
Não temos nenhuma distância com o PSDB, muito pelo contrário, trabalhamos muito próximos em muitos Estados. Como é legítima a candidatura do governador Geraldo Alckmin é legítima a do DEM. E nós vamos trabalhar dessa forma até o segundo turno. No segundo turno, aquele que conseguir chegar lá terá o apoio do outro.
Há possibilidade de uma união dos partidos de centro-direita em torno de uma candidatura só?
O PSDB não pode ser centro, porque o PSDB é a origem da polarização PT-PSDB. Então, centro é um ambiente em que as pessoas conseguem dialogar com todos os partidos. O PSDB não consegue.
O senhor já comentou da grande resistência que se tem hoje ao PSDB.
O PSDB faz parte de um ciclo, junto com o PT, que está se esgotando. O PT sobrevive um pouco melhor porque tem a popularidade do presidente Lula. E como a crise do presidente Michel (Temer) é muito forte, a narrativa do período Lula-Dilma-Michel tem um vácuo hoje na cabeça da sociedade, que é o governo Dilma. A sociedade tem na cabeça o Lula e o Michel. A Dilma saiu dessa narrativa. E o governo atual não tem força para reorganizar a narrativa de forma correta. Já no PSDB não sobrou ninguém com ativo pessoal para liderar o partido.
A corrupção também não pesa nessa conta?
Conta tudo. É o fim do ciclo. Esse fim do ciclo tem uma variável que é a corrupção, tem uma variável que é a polarização, o radicalismo que cansou a sociedade. É o radicalismo que gerou avanços menores do que a sociedade precisava e merecia receber.
Até que ponto o peso da impopularidade de Temer não vai atrapalhar a campanha de candidatos do PSDB e do DEM à Presidência? Vocês integram o governo.
Nós tivemos responsabilidade pela decisão do impeachment da presidente Dilma, que era um governo que cometeu crime, que gerou a pior recessão da história do Brasil. A partir do momento que a gente fez parte disso, a gente tem responsabilidade por essa transição. O meu partido tomou conta do Ministério da Educação, com muita competência, com o ministro Mendonça Filho e aprovamos a reforma do Ensino Médio. Mas eu, por exemplo, nunca tive relação histórica com o MDB. Ao contrário, fui adversário do MDB no Rio a vida inteira quase.
Mas como é a sua relação com o Palácio do Planalto?
Aqui em Brasília sempre tive uma boa relação com o presidente Michel quando era presidente da Câmara, mas nunca fui próximo a ele. Nem ao ministro Moreira (Franco), que é casado com a minha sogra, nunca tive uma relação política. No Rio, sempre fomos adversários. Então, são histórias políticas distintas.
O senhor levaria o Temer para o seu palanque?
Eu levaria o Temer? Não. Poderia levar o MDB que entendesse que nós queremos construir um projeto para o futuro. O Temer no palanque podia simbolizar a necessidade da defesa do passado.
O senhor eleito mantém o Bolsa Família?
Claro que sim. Mas vou construir um outro programa que vai se chamar Poupança da Criança. A gente precisa criar um programa que garanta mobilidade social para as famílias do Bolsa Família.
O senhor defende a reforma da Previdência?
Com certeza. A reforma mais importante é acabar com a distorção entre os sistemas público e privado. Essa que a sociedade apoia que vai gerar o primeiro controle do crescimento da dívida pública. Porque quando tem déficit na Previdência, aumenta a dívida pública. Quando aumenta a dívida pública, o brasileiro paga juros maiores, não tem jeito. Essa pressão sobre os juros bancários, elas sempre virão quanto maior for a dívida brasileira.
E se por acaso a sua candidatura não se viabilizar, o senhor pretende voltar a ser presidente da Câmara?
Se não for candidato a presidente da República, o que eu vou ser? Quero fazer parte de um projeto que represente transformação no Brasil, principalmente com a coragem de enfrentar a discussão das despesas públicas, que são concentradoras de poder. Então, o que quero é construir esse projeto. Se não estiver no segundo turno, a gente apoia aquele que a gente entenda que tenha essas condições. Mas se por algum motivo o partido entender que eu não deva ser candidato a presidente, serei candidato a deputado.
Até quando o seu partido define a sua candidatura?
Para mim, já está definido.
O presidente do partido, prefeito (de Salvador) ACM Neto, disse que até 15 de junho se define se o senhor será ou não candidato. Esse é o prazo?
Mas não é ele quem define. Ele não tem a convenção. Talvez eu tenha mais força do que ele na convenção. Sou candidato a presidente!
A saída do Joaquim Barbosa beneficia alguma candidatura?
Acho que beneficia todo mundo. Acho que o Joaquim Barbosa era uma candidatura que poderia ser o novo no processo eleitoral. O novo que eu digo que simbolizasse, de fato, a mudança do ciclo, esse ciclo de desgaste. Então, quem vai ter que organizar isso é a própria política. Da mesma forma que na redemocratização o Tancredo e o PFL entenderam que chegava o fim o ciclo dos militares e organizaram uma transição de um sistema para o outro.
Como o senhor encara o fato de não ter o apoio do único deputado federal do DEM do RS? Onyx Lorenzoni já anunciou que apoiará Jair Bolsonaro.
A gente vai construir outros apoios, vamos ter paciência. Esse ambiente mais ao centro-direita vai ter um espaço a ser ocupado e esse espaço não é do Bolsonaro. Acho que o espaço do Bolsonaro já começou a diminuir. Você vê que no Norte, por exemplo, ele tinha 32%, já está com 16%. Ele abriu a campanha antes com um discurso muito radical e que chamou a atenção da sociedade. Acho que ele vai ficar do tamanho que tem um candidato mais à direita nos valores e não na economia. Porque na economia ele não é de direita, não é liberal. Na economia, o Bolsonaro é de esquerda, essa que é a verdade. O eleitor vai querer um candidato que consiga ter maior capacidade de diálogo e de unificar o Brasil, não para continuar dividindo o país.