Na sua primeira declaração pública após as declarações preconceituosas em 28 de fevereiro contra os baianos, o vereador Sandro Fantinel (sem partido) voltou a ocupar a tribuna da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul nesta quarta-feira (22). Durante o espaço chamado de Grande Expediente, ele falou por 10 minutos e reiterou por diversas vezes suas desculpas à Casa, aos colegas vereadores e aos baianos pelas suas falas.
Cabisbaixo, Fantinel iniciou sua declaração agradecendo aos cerca de 30 apoiadores pela presença no plenário e pediu desculpas aos colegas pela exposição da Câmara e aos baianos e nordestinos pelas falas preconceituosas.
— Depois daquele dia fatídico, triste, esse lugar me assusta. Mas eu preciso proferir essas palavras que há vários dias estão presas na minha garganta, da minha família e de muita gente. Quero reiterar do fundo do meu coração as minhas desculpas a essa Casa, a todos os meus colegas, independente de partido, de ideologia, sei o que passaram por minha causa, me perdoem, do fundo do coração. Renovo também os meus mais sinceros pedidos de perdão ao povo baiano e nordestino, que tenho apreço, e pelas infelizes palavras que, por um lapso, proferi num triste momento da minha vida — declarou.
Na sequência, Fantinel destacou seu projeto solidário de distribuição de alimentos e afirmou que 1,2 mil cestas básicas foram distribuídas no último final de semana "para as mais variadas raças, etnias e nacionalidades que precisam e que vivem na nossa cidade, e que são muito bem-vindas":
— Esse é o Sandro que não faz diferenças. Se ele erra, é porque ele é humano, e pessoas humanas erram. A minha vida toda foi pautada em ajudar pessoas. Nunca tive uma sequer passagem pelo Fórum, na delegacia, na polícia, por motivo algum. Nunca tive uma briga com um vizinho, com um colega de escola. Quarenta anos de trabalho honesto destruídos em dois dias. Um nome destruído, uma construção destruída pelo tribunal da internet que foi totalmente avassalador junto com parte da imprensa.
O vereador continuou sua manifestação e garantiu que não "terminou com a sua vida" porque pensou na sua família e nas pessoas que o amam, além dos "pobrezinhos que dependem de mim e do meu trabalho". Ele ainda relatou dificuldades encontradas por seu filho e sua esposa a partir de ameaças de morte que receberam após a repercussão das falas de Fantinel na Câmara, em fevereiro.
Aqueles que não cometeram nenhum erro, me julguem e me condenem. Vou aceitar a condenação, desde que ela seja feita por quem nunca errou.
SANDRO FATINEL
Vereador de Caxias do Sul
— Porque não atacaram a mim? Fui eu que errei. E por que eu errei? Porque eu sou humano e humanos erram. Aqueles que não cometeram nenhum erro, me julguem e me condenem. Vou aceitar a condenação desde que ela seja feita por quem nunca errou. Eu errei. Aqui não tem justificativa. Por que a gente erra? Não somos perfeitos. Errar e ser errado é não reconhecer aquilo que tu fez. Pedi para retirar dos anais porque naquele exato momento eu já estava arrependido, eu já sabia que tinha dito o que não devia — afirmou Fantinel.
Na sessão do dia 28 de fevereiro, Fantinel acordou em retirar trechos dos anais da Câmara de Vereadores após solicitação do vereador Lucas Caregnato (PT).
Por fim, ele agradeceu ao apoio de lideranças do agronegócio e políticos que o ligaram "na hora que eu mais precisei". Além disso, pediu Justiça para o seu julgamento:
— Eu preciso apenas, única e exclusivamente, que seja feita Justiça, coisa que no nosso país não vem acontecendo. Justiça é só o que estou pedindo. Quem nunca errou aqui dentro que me condene.
Ao final do discurso, Fantinel foi aplaudido por apoiadores que estavam no auditório da Câmara de Vereadores. Após pedido de entrevista pela reportagem, o vereador afirmou que está instruído pelos seus advogados a não se manifestar.
Confira o discurso na íntegra:
Retorno após 21 dias afastado
Na sessão de terça-feira (21), Fantinel já havia comparecido à sessão ordinária da Câmara de Vereadores, mas não falou. Ele não participava mais das atividades no local desde 28 de fevereiro, quando proferiu falar preconceituosas em pronunciamento referente ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em situação análoga à de escravidão em Bento Gonçalves.
A fala motivou a abertura de um processo de cassação de mandato contra Fantinel. A comissão processante tem o prazo de 90 dias para concluir o processo de cassação, contabilizado a partir do dia 3 de março, quando Fantinel foi notificado da abertura da ação contra ele. O período se encerra no dia 1º de junho, e o processo se encontra atualmente na fase de instrução. Nesta etapa, a comissão realiza atos, diligências e audiências, quantas se fizerem necessárias para apurar a acusação.
Fantinel também foi indiciado, no dia 13, pela Polícia Civil pelo crime de racismo pelas declarações feitas. O crime de racismo prevê pena de dois a cinco anos de prisão. O Ministério Público (MP) recebeu o indiciamento da Polícia Civil e no momento está analisando o inquérito. A estimativa é de que já na próxima semana o MP conclua a análise e se manifeste à Justiça, com uma denúncia, pedido de arquivamento ou de mais diligências a respeito do caso.