Uma investigação da Polícia Federal busca esclarecer quem são os responsáveis e como se deu a organização do assalto a um carro-forte no Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul. Na noite de quarta-feira (19), o veículo era abastecido por malotes de dinheiro trazidos de Curitiba em uma aeronave de pequeno porte. No total, seriam R$ 30 milhões pertencentes a um banco privado. Um grupo, de oito a 10 pessoas, atacou funcionários da empresa de transporte de valores, em uma ação que surpreendeu pela audácia dos criminosos.
Com armamento de guerra, incluindo um fuzil Barrett M82 calibre .50, e fardamento falso, os assaltantes usaram veículos com adesivos da Polícia Federal (PF) para acessar o hangar do aeroporto. O portão 2 foi aberto por funcionários que atuam no aeroporto justamente por acharem que se tratava da PF.
O primeiro confronto se deu entre os seguranças do carro-forte e a quadrilha. Em nota, a empresa Protege afirmou que o ataque "aconteceu de forma desproporcional". Os vigilantes reagiram e ficaram abrigados no carro-forte. Na troca de tiros, um funcionário foi ferido, mas passa bem.
Na sequência, guarnições da BM se deslocaram ao local. Na primeira a chegar no Hugo Cantergiani estava o 2º sargento Fabiano Oliveira, 47 anos. Os policiais foram recebidos com disparos de arma de fogo. Um dos tiros de fuzil atingiu o 2º sargento no tórax e atravessou o colete de proteção balística. Mesmo socorrido e levado ao hospital, o brigadiano não resistiu. Ele deixa esposa e dois filhos.
Funcionários de empresas que atuam no aeroporto foram feitos reféns. Ao menos três pessoas permaneceram sob domínio dos assaltantes por cerca de 30 minutos, até que agentes do Batalhão de Choque conseguiram resgatá-los. Uma das vítimas narra que os criminosos permaneceram calmos durante a ação e não ameaçaram os reféns.
No confronto, após a chegada da Brigada Militar, um dos criminosos foi morto. Ele fugia em uma camionete Frontier, falsamente identificada como sendo da PF. Com ele foram recuperados cerca de R$ 15 milhões, metade do total que estava sendo transportado. O assaltante é natural do Piauí e tem passagens policiais em São Paulo.
A outra parte do dinheiro estaria com os criminosos que fugiram em uma camionete. Segundo o comandante do 12° BPM, tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, os trabalhos ocorrem em toda a região e fora do Rio Grande do Sul. A Polícia Civil também colabora com as buscas.
A troca de tiros atingiu o terminal de passageiros, lojas e locadoras de veículos do entorno do Hugo Cantergiani. Na manhã de quinta-feira (20), o aeroporto ficou fechado. A decisão foi tomada pela Polícia Federal como medida de segurança e para a realização da perícia no ponto onde o confronto aconteceu. Neste período, houve um cancelamento de voo, com o espaço sendo reaberto por volta das 10h30min.
Durante a quinta (20) e sexta-feira (21), a polícia manteve as buscas para localizar os assaltantes, mobilizando agentes de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Três carros utilizados pela quadrilha, todos blindados, já foram localizados. Além da camionete onde estava o assaltante morto, outros dois veículos foram encontrados em um local de mata próximo do acesso ao bairro Villa Lobos, a cerca de três quilômetros da cabeceira do aeroporto.
Nessa sexta, foram presos dois homens suspeitos de envolvimento com o assalto. Eles foram abordados por policiais militares do 24º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M). Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, eles foram encontrados na Rodovia Régis Bittencourt, via que pertence a BR-116. A dupla foi encaminhada ao Departamento de Polícia Federal (PF).
A reportagem de GZH apurou que os criminosos que atuaram em Caxias do Sul são suspeitos de envolvimento com outros três grandes assaltos. Duas dessas ações aconteceram em aeroportos paulistas, sendo eles aeroporto de Viracopos, em Campinas, em 2018; outro no aeroporto de Guarulhos, em 2019. Ainda, há a suspeita que esse mesmo grupo tenha participado do mega-assalto em Criciúma, Santa Catarina, em novembro de 2020. O assalto é considerado o maior já realizado no Brasil, com roubo de R$130 milhões.