Os criminosos que cometeram o maior assalto da história gaúcha, cerca de R$ 30 milhões levados de um carro-forte no aeroporto Hugo Cantergiani (de Caxias do Sul) na noite de quarta-feira (19), são suspeitos de terem atuado em pelo menos dois outros ataques milionários. Possivelmente, três. Caso sejam somados, esses quatro assaltos resultaram em R$ 302 milhões levados por ladrões. A possível ligação entre esses episódios é levantada por policiais que investigam o caso caxiense, a partir da identificação de um dos bandidos, que morreu em troca de tiros com a Brigada Militar.
Dos R$ 30 milhões roubados em Caxias, os quadrilheiros fugiram com metade. A outra metade do dinheiro foi apreendida pela BM numa caminhonete, na qual foi morto o assaltante. Ela e outro veículo similar estavam pintadas de forma idêntica a viaturas da Polícia Federal (PF). Foram usadas como disfarce para os bandidos poderem chegar perto do carro-forte. O blindado estava carregado com dinheiro transportado por um avião que chegou de Curitiba, com valores de um banco com sede em São Paulo. E a quadrilha estava bem informada a respeito dessa transferência milionária.
O homem morto na troca de tiros portava uma Carteira Nacional de Habilitação em que consta ser nascido em Raimundo Nonato, cidade do interior do Piauí. Mas, por meio de fotos, foi identificado por policiais como um conhecido assaltante de São Paulo, também de origem nordestina (um dos nomes usados é igual ao da CNH). Ele seria batizado (filiado) da maior facção criminosa do país, a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
Na troca de tiros morreu também um PM, o sargento Fabiano Oliveira, cujo colete balístico só suportaria impactos de pistola, mas foi atingido por disparos de fuzil.
O ladrão que morreu tinha 38 anos e chegou a ter a prisão preventiva decretada pela Justiça por participação em dois dos maiores assaltos da história do Brasil, mas acabou absolvido na fase judicial do processo. Os dois casos são roubos cometidos contra aeroportos paulistas. O primeiro, Viracopos (Campinas), em 2018. O segundo, Cumbica (Guarulhos), em 2019. Em ambas ocasiões, bandos com mais de uma dezena de assaltantes usaram caminhonetes clonadas de serviços de segurança, atacaram vigilantes, estacionaram as falsas viaturas ao lado de aeronaves e arrombaram contêineres que tinham dinheiro e metais preciosos.
No caso de Campinas, em março de 2018, pelo menos 18 bandidos atuaram com carros pintados com emblemas das equipes de segurança aeroportuária. Eles arrombaram contêineres carregados de dinheiro e ouro. No caso de Guarulhos, em julho de 2019, os quadrilheiros usaram falsas viaturas da PF, renderam vigilantes e roubaram 31 malotes carregados com barras de ouro, que seriam carregadas em dois aviões.
Em Guarulhos o assalto rendeu o equivalente a R$ 117 milhões. Em Campinas, R$ 25 milhões. Em ambos os casos, alguns criminosos foram identificados, capturados e condenados. Entre os sentenciados estão dois integrantes do PCC.
Os policiais que investigam o roubo em Caxias do Sul também checam se a quadrilha é a mesma que atuou num outro mega-assalto, ocorrido em Criciúma (Santa Catarina) em novembro de 2020. Cerca de 30 bandidos participaram da ação. Armados com fuzis — inclusive um capaz de derrubar helicópteros —, eles cortaram a luz de parte da cidade, atacaram a tiros um quartel da PM, explodiram uma agência do Banco do Brasil e fizeram 15 reféns, levando muito dinheiro. Duas pessoas ficaram feridas, entre elas um PM, com gravidade, que até hoje sofre com sequelas. A quadrilha usou 18 veículos na fuga, roubando um total estimado em R$ 130 milhões. Foi o maior roubo da história catarinense e um dos maiores já realizados no Brasil.
Após o assalto em Criciúma, 18 pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil. Inclusive dois homens foram presos na cidade gaúcha de Gramado, ambos ligados ao PCC, ainda com dinheiro do assalto em Santa Catarina. É pelo envolvimento da mesma facção e pelo gigantismo das ações que a investigação suspeita de que alguns integrantes do bando possam estar envolvidos no ataque em Caxias do Sul.
Ouvidos pelo colunista, policiais experientes e que já atuaram em investigações semelhantes acreditam que a investigação de casos como o de Caxias do Sul deveria ser liderada por uma força-tarefa. Legalmente constituída e com tarefas e responsabilidades bem-definidas.