Aos 12 anos, Renata Faustino entrou no mundo do esporte. Na comunidade da Chacrinha, no Rio de Janeiro, ela enfrentou as primeiras adversárias do badminton. Contudo, conheceu a palavra vitória muito antes, com poucos dias de vida, quando lutou pela sobrevivência.
Renata nasceu prematura, com apenas cinco meses. Na UTI do hospital teve 17 paradas cardíacas. E ainda teve uma infecção, que a fez perder parte da audição.
— Minha mãe não me deixava fazer esporte, até pela minha dificuldade de falar e ouvir. Quando criança, estava brincando na rua com meus amigos e veio o professor, Sebastião Dias, e pediu se não queríamos jogar badminton. Ele disse depois que eu iria crescer rápido — contou a atleta da seleção brasileira de badminton de 34 anos, que recorda os prognósticos contrários:
— O médico falou que eu não ia conseguir, mas eu consegui, pois Deus me deu o milagre. Foi bem complicado, minha mãe ficou desesperada, ficou preocupada, pois tive 17 paradas cardíacas. Era pequenina. Foi um milagre de Deus mesmo, quase morri — relata Renata.
O significado de felicidade Renata conheceu no esporte. Como diria Vinicius de Moraes nos versos de "A Felicidade", ela "é como a pluma que o vento vai levando pelo ar, voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar." Ventos esses que transformaram a vida de Renata na mesma velocidade que a peteca do badminton atravessa a quadra.
Além de ser atleta, Renata é professora do projeto social Miratus, que a lançou ao mundo na cidade maravilhosa. Apesar de todas as adversidades impostas pela vida, ela não tira o sorriso no rosto ao lembrar que está em sua primeira Surdolimpíada.
— Eu dou aula no projeto de manhã e de tarde. Meu professor dá treino para a gente à noite. Eu participo do campeonato nacional, mas Surdolimpíadas é a primeira vez. Fiquei muito feliz em participar, conhecer as pessoas. Fiquei impressionada com os atletas que jogam no nível da gente. Nunca tinha visto os atletas surdos jogarem uma Surdolimpíada — declarou Renata.
Com o badminton, a carioca conheceu países como Canadá, Peru e Equador, além de treinar na Suíça por três meses. Campeão brasileira com ouvintes em três oportunidades, em 2005, Renata ganhou o Prêmio Brasil Olímpico como a melhor atleta da modalidade naquele ano. Entretanto, para entrar no esporte teve que convencer a sua mãe, Cimara Faustino da Silva.
—Ela ficava preocupada de como as pessoas iam me tratar no esporte. A maioria das pessoas não tinham paciência comigo. Às vezes, comentam que eu falo errado, mas é devido a minha dificuldade. Ela fica preocupada, foi difícil ela aceitar, mas eu disse que era importante para mim. Vou ficar em casa dentro de casa fazendo o quê? — questionou a atleta.
"O ESPORTE MUDOU A MINHA VIDA"
Entre ruas e vielas da sua comunidade, Renata escolheu o caminho do esporte. Mas sabe que nem todas as crianças têm a mesma oportunidade. Ela lembra que a infância foi um período bem duro da sua vida.
— As crianças nas ruas vivem no meio do tráfico. É bom a gente chamar as crianças para conhecer o esporte. A gente tem vários atletas que foram campeões brasileiros, como o Ygor Coelho — contou.
Ygor também começou no esporte na Associação Miratus, ONG criada por seu pai, Sebastião, técnico de Renata no Rio de Janeiro. Hoje ele é a principal referência da modalidade no Brasil. A ONG oferece aulas de badminton às crianças da comunidade. Sobre o técnico, ela brinca, e diz que ele não alivia nos treinos.
— Ele é um cara duro, chato, pega no nosso pé. Todo técnico é assim, mas na verdade ele ajudou muitas crianças, a comunidade toda. Ele conseguiu na pandemia cestas básicas para a comunidade toda. Tem um pessoal pobre na comunidade. Ele é o cara que consegue tudo, ele ajuda muito a comunidade da Chacrinha — destacou a surdoatleta.
Renata fala com orgulho da mãe e dos 12 irmãos. Há cinco anos, a vida ainda lhe reservou outra surpresa. Através de uma mensagem inesperada nas redes sociais, a surdoatleta descobriu quem era seu pai.
— Ela (mãe) é muito importante para mim. Eu encontrei meu pai a pouco tempo, aos 29 anos. Ele me achou no Facebook, mas eu não conhecia ele. Fiquei feliz, emocionada, conheci meus irmãos também, mas eles moram em Duque de Caxias. Conversamos pelo WhatsApp — conta a jogadora.
Renata tem o sonho de conquistar uma medalha na Surdolimpíada. Seria a maneira ideal de converter os anos de sofrimento de uma infância difícil em alegria. O ingrediente principal para essa metamorfose se chama esporte.
— Meu sonho é ganhar uma medalha. Minha mãe batalhou muito para criar os filhos sozinha. Vivemos um momento muito difícil. Quando criança, morávamos em um barraco, comíamos arroz, feijão e angu puro. Até na rua a gente comia. Mas, graças a Deus, depois do esporte melhorou bastante. O esporte mudou a minha vida —finaliza Renata.
A abertura dos jogos individuais e de duplas do badminton ocorrem nesta sexta-feira, no Centro de Iniciação ao Esporte, no bairro São Caetano.
JOGOS DE SEXTA-FEIRA NO BADMINTON
Local: Centro de Iniciação ao Esporte São Caetano
10h20min - Cauã Tadeu Ferreira Da Silva X Mahesh Mahesh (Índia)
11h - Renata Faustino Da Silva X Aurelija Ramaneckaite (Lituânia)
11h - Cynthia Quirino Silva X Aaditya Yadav (Índia)
12h20min - Gabriel Hovelacque De Faria X Benoit Vieira De Carvalho (França)
14h20min - Geisa Vieira De Oliveira X Adriana Rissi (Espanha)
14h20min - Amanda Ferreira Sanches X Finja Rosendahl (Alemanha)
17h - Cynthia Quirino Silva X Soyeong Lee (Coréia do Sul)
17h40min - Gabriel Hovelacque De Faria X Lyudmil Getov (Bulgária)
17h40min - Geisa Vieira De Oliveira X Gauranshi Sharma (Índio)
17h40min - Amanda Ferreira Sanches X Vaiva Zymantaite (Lituânia)