A comunicação entre surdos e ouvintes muitas vezes esbarra na dificuldade que um tem para transmitir o que quer falar para o outro — principalmente, quando o ouvinte não domina a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10 milhões de pessoas dominam a língua no Brasil.
No entanto, nessas Surdolimpíadas, que ocorrem em Caxias desde o dia 1º de maio e vão até o dia 15 do mesmo mês, a comunicação entre atletas e árbitros muitas vezes é prejudicada pela impossibilidade de fala entre jogador e arbitragem. É como se fossem duas pessoas de países diferentes.
Não bastasse isso, ainda que os juízes tenham passado por um período de aprendizado para apitarem em um evento desse tipo, eles não estão acostumados a lidarem com a situação no dia a dia. Além disso, outros instrumentos entram para o uso durante os jogos, seja no futebol em que o árbitro central usa, além do apito, também uma bandeira, ou no basquete que sinais luminosos nos cantos das quadras são acionados a cada infração e/ou pedido de tempo.
Apesar das dificuldades iniciais, os juízes têm se adaptado às peculiaridades de apitar partidas para surdos. Francisco Dias, árbitro da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), revelou que a adaptação é diária.
— O futebol tem uma linguagem universal e através de gestos, de expressões corporais, nos comunicamos com eles. A regra é a mesma. O árbitro usa muito a fala para se comunicar dentro de campo. Aqui, no caso, está sendo com a bandeira. A gente gesticula, fala no olho no olho, porque eles acabam entendendo o que a gente quer— relata Dias, que completa:
— No primeiro dia, não sabia com que mão pegava o apito, com que mão pegava a bandeira. Pegava o cartão para anotar, caia o apito, porque é muita coisa, tem um adereço a mais. Estamos nos adaptando.
No basquete, ainda que o uso do apito seja feito (para o público no ginásio e para os próprios árbitros), os atletas, por óbvio, não escutam os sinais sonoros. Então, os avisos luminosos têm de ser claros — são quatro, um em cada canto da quadra.
— A diferença básica é o sinal luminoso. Como todos são surdos, não adianta usar o apito, é usado normalmente para o público, mas os sinais são muito importantes. Quando o árbitro apita, existe um dispositivo na mão do cronometrista, que é acionado no mesmo instante, e essas luzes estão nos cantos da quadra. E eles sabem o que fazer. É um estímulo visual, o que pode acontecer é ele continuar, se não enxergar. Por isso, o espelho dos outros árbitros é muito importante, eles entram na frente do jogador — relata Fernando Serpa, coordenador de arbitragem de basquete nas Surdolimpíadas.
Em outras modalidades, as adaptações também existem. Na natação, por exemplo, sinais visuais também são utilizados para marcar a largada: ao lado do bloco de saída, há um equipamento luminoso que indica aos atletas o momento da largada. O aparelho sempre é colocado ao lado esquerdo dos atletas e acende uma luz verde no momento da largada. Assim como o atletismo, que conta com bandeiras substituindo os tiros para dar início às provas.