O médico Rafael Lessa anunciou, nesta quinta-feira (23), seu desligamento do Caxias. O profissional, que trabalhava no clube desde 2015, afirma que o técnico Rafael Jaques e o gerente de futebol Ademir Bertoglio exigiram que ele não participasse mais dos jogos. A decisão foi acatada pelo presidente Paulo Cesar Santos e o doutor confirmou sua saída.
Rafael Lessa cobrou a vacinação contra a covid-19 do técnico Rafael Jaques, já que o protocolo do clube exigia isso. Inclusive, o doutor fez uma postagem nas suas redes sociais na semana passada. O treinador e o gerente de futebol não gostaram da repercussão e, segundo o médico, pediram o seu afastamento das partidas do clube na Série D.
— Fui comunicado, no final da tarde desta quarta-feira (22), pelo presidente e pelo vice presidente do Departamento Médico da S.E.R. Caxias, que foi exigido pelo gerente de futebol e pelo técnico, Rafael Jaques, que eu não realizasse mais jogos pelo clube. Na verdade, nas palavras do Paulo Cesar, a quem nutro respeito, carinho e amizade, foi dito: “Eles me chamaram no quarto do hotel, viram sua postagem com a cobrança e disseram que não querem mais que você faça os jogos. Disseram que você pode continuar a trabalhar no clube e até frequentar o vestiário se for da sua vontade, mas que fazer jogos não” — disse Lessa no comunicado.
O técnico Rafael Jaques foi diagnóstico com a covid-19 no início do mês de agosto. O treinador, mesmo com idade para tomar a primeira dose da vacina, não recebeu. Jaques, inclusive, precisou ser internado por conta da doença. No retorno às atividades, ele ficou 20 dias afastado. Segundo o médico, sua determinação, que seguia nota técnica da Anvisa, foi questionada e foi até chamado para "briga" pelos profissionais do clube.
— A partir deste momento, um calvário se formou e, mesmo que outro médico possa atestar o contrário, fui extremamente questionado por seguir a Nota Técnica GVIMS / GGTES / ANVISA N 07/2020, que classifica em gravidade e determina o prazo de isolamento dos pacientes com covid-19. A determinação, com base em tal documento e no perfil de sua internação, de que o treinador deveria ampliar o isolamento até completar 20 (vinte) dias foi recebida como uma afronta ou um desejo de prejudicar a equipe. Fui rigoroso sim, enfrentei (a palavra é esta mesmo: enfrentar - por que fui chamado até para briga, além de ter sido caracterizado com os adjetivos de mais baixo calão) quando me sugeriram não respeitar as diretrizes de saúde pública — afirmou Lessa.
Cobrança
Rafael Lessa afirma que a postagem nas redes sociais aconteceu após várias cobranças junto ao presidente Paulo Cesar Santos e o gerente de futebol Ademir Bertoglio quanto à vacinação do treinador, e os mesmos nada fizeram.
— Ressalto, a minha postagem somente ocorreu depois de longo período em que eu vinha cobrando um posicionamento tanto do presidente do clube, Sr. Paulo Cesar, quanto do gerente de futebol, Sr. Ademir Bertoglio, sobre o assunto - o que não fizeram e permitiram que o treinador se comportasse de forma inadequada em entrevistas, dando exemplo público do que não fazer — comentou o médico.
Em entrevista coletiva, o técnico Rafael Jaques não quis comentar o assunto e passou para a direção a responsabilidade.
— É uma decisão que não é da minha competência. É da competência da diretoria. Não posso falar nada sobre isso — comentou Jaques, que após o jogo contra a Portuguesa confirmou, em entrevista coletiva, que se vacinou no dia 14. No entanto, não havia informado ao departamento médico do clube.
Confira a nota do médico à imprensa
Assunto: Rafael Jacques proíbe que o médico do S.E.R. Caxias que o cobrou da vacina faça jogos pelo clube.
Fui comunicado, no final da tarde desta quarta-feira (22/09), pelo presidente e pelo vice presidente do Departamento Médico da S.E.R. Caxias, que foi exigido pelo gerente de futebol e pelo técnico, Rafael Jacques, que eu não realizasse mais jogos pelo clube. Na verdade, nas palavras do Paulo César, a quem nutro respeito, carinho e amizade, foi dito: “Eles me chamaram no quarto do hotel, viram sua postagem com a cobrança e disseram que não querem mais que você faça os jogos. Disseram que você pode continuar a trabalhar no clube e até frequentar o vestiário se for da sua vontade, mas que fazer jogos não”.
Aqui, lembro que, desde fevereiro de 2015, tenho participado de todas as campanhas do clube sem qualquer retorno financeiro, nem mesmo com o fornecimento de material esportivo (roupas), as quais eu compro na loja Bravo35. Isto é, qualquer despesa com passagem aérea, hospedagem, gasolina ou roupas, foram custeadas por mim em virtude de uma dedicação ao clube ao longo destes anos. Dedicação esta que não recebe, neste momento, qualquer consideração por parte da direção que aceita os mandos e desmandos daqueles que solicitaram a minha ausência.
Ressalto ainda que, em especial, desde o retorno das atividades esportivas, quando redigi, de próprio punho, o protocolo do clube para retomada do futebol, tenho sofrido, calado, "engolindo sapos", as mais variadas ofensas ao meu trabalho quando a decisão médica contraria aqueles que comandam o futebol. Deixo claro que são decisões médicas de caráter técnico e nunca de cunho pessoal. Relembro, por último, que fomos o primeiro clube do interior gaúcho a redigir tal documento e que fomos amplamente elogiado por seu conteúdo.
Contextualizando o momento, ele tem início no diagnóstico de Covid19 do treinador Rafael Jacques, no início do mês de agosto. Naquele tempo, se tornou pública que tal profissional tinha optado por não se vacinar e, desde então, esta polêmica tem sido uma constante no dia a dia do clube e na sua relação com a impressa, com falas recheadas por sarcasmos. Infelizmente, o Sr. Rafael Jacques, necessitou de internação hospitalar, como é de conhecimento público. A partir deste momento, um calvário se formou e, mesmo que outro médico possa atestado o contrário, fui extremamente questionado por seguir a Nota Técnica GVIMS / GGTES / ANVISA N 07/2020, que classifica em gravidade e determina o prazo de isolamento dos pacientes com Covid19. A determinação, com base em tal documento e no perfil de sua internação, de que o treinador deveria ampliar o isolamento até completar 20 (vinte) dias foi recebia como uma afronta ou um desejo de prejudicar a equipe.
Fui rigoroso sim, enfrentei (a palavra é esta mesmo: enfrentar - por que fui chamado até para briga, além de ter sido caracterizado com os adjetivos de mais baixo calão) quando me sugeriram não respeitar as diretrizes de saúde pública. É de conhecimento público que a S.E.R. Caxias possui inúmeros respeitosos médicos no seu departamento; assim como é de conhecimento público que eu, Rafael Lessa Costa, era o responsável por todo assunto relacionado aos cuidados em virtude da pandemia. Por isso, assumi toda a responsabilidade, expus o correto e tenho sido julgado por isto. Desde aquele período, as minhas cobranças se tornaram constantes em relação à imunização, entretanto, parecem nunca terem sido levadas a sério por quem tem o poder de cobrar o funcionário do clube.
Na última semana, o presidente do clube, Paulo César, em entrevista, disse que o assunto “imunização do Rafael Jacques” estava a cargo do departamento médico. Ora, mesmo com todas as cobranças, inclusive na semana anterior, ainda estava a cargo do departamento médico que nada podia fazer além de pedir. A direção do clube, sim, tinha o poder de cobrar de forma mais enfática. A cronologia da história deixa claro que, somente após o meu desabafo público, no Twitter, é que o Sr. Rafael Jacques decidiu parar de dar show sobre a vacinação, com respostas do tipo “próxima”, quando já tinha se vacinado e escondeu isto, até mesmo, do departamento médico do clube. Ressalto, a minha postagem somente ocorreu depois de longo período em que eu vinha cobrando um posicionamento tanto do presidente do clube, Sr. Paulo César, quanto do gerente de futebol, Sr. Ademir Bertoglio, sobre o assunto - o que não fizeram e permitiram que o treinador se comportasse de forma inadequada em entrevistas, dando exemplo público do que não fazer.
Reforço que são estes exemplos e entrevistas como aquelas que acostumamos a escutar nos últimos meses após os jogos que afasta não somente o sócio da S.E.R. Caxias, mas investidores e patrocinadores, porque expõe um ambiente descontrolado. Por cobrar neste momento em que um técnico tomou a direção do clube em suas mãos em virtude da classificação do último sábado, fui proibido, conforme solicitação do Sr. Ademir Bertoglio e do Sr. Rafael Jacques, com a concordância do presidente do clube, Sr. Paulo César, de participar dos jogos; sendo me dado a opção de “frequentar o vestiário” caso fosse meu desejo. A partir do momento que o meu trabalho passa a ser questionado, a partir do momento em que eu corro o risco de deixar de ser exemplo aos meus alunos e residentes, chega a hora de tomar uma medida mais ríspida, como foi o texto publicado no Twitter e, hoje, de me desligar do clube.
A partir do decepcionante posicionamento da direção do clube, quando, mais uma vez se acovarda diante do correto, desligo-me da S.E.R. Caxias. Acredito que o futebol é importante, mas não a ponto de precisar deixar seus princípio e valores de lado. Se para chegar lá você precisa prejudicar outra pessoa, já está completamente perdido. Você até se torna um ótimo jogador, treinador ou dirigente, mas é um ser humano desprezível. Eu não fui criado para ter meu caráter e minha honra questionados quando luto pelo correto.
Cordialmente, Rafael Lessa Costa