Pouco mais de seis anos após sua inauguração, em 19 de março de 1939, o Seminário Nossa Senhora Aparecida sofreu um violento incêndio em parte do refeitório e da despensa. Foi em 11 de dezembro de 1945, quando o prédio do distante Arrabalde de Santa Catarina sediava o retiro anual do clero.
O sinistro estampou uma ampla reportagem no semanário “O Momento” de 29 de dezembro de 1945, conforme o rebuscado texto original a seguir:
“No dia 11 do corrente, às 2 horas da madrugada, verificou- se um grande incêndio no Seminário N. S. Aparecida, onde se achava reunido, desde a tarde do dia anterior, o clero secular da Diocese, para o retiro anual. Avisado, compareceu com toda a presteza ao local do sinistro o corpo de bombeiros, o qual infelizmente, apesar de todos os esforços empregados, por falta de funcionamento da bomba, se viu na impossibilidade de lutar contra o terrível elemento.
Impelido por forte vento, o fogo não tardou a assumir proporções assustadoras, alastrando-se pelo piso térreo da ala sul, invadindo com violência o piso superior e ameaçando envolver, dentro em breve, o resto do edifício.
Diante de tão grave perigo, foi retirado às pressas o SS. Sacramento da capela, sendo conduzido para a orla da mata, onde os sacerdotes mais idosos ficaram prostrados em profunda oração, suplicando, por entre lágrimas a Nosso Senhor, que salvasse o seu e o nosso Seminário”.
REMO GIANELLA
Conforme a reportagem da época, não houve vítimas fatais, mas vários seminaristas tiveram de ser hospitalizados. Segue o texto original:
“Sem desanimar, os demais sacerdotes, os seminaristas e numerosos populares do bairro Santa Catarina, tendo à frente o sr. Remo Gianella. continuaram a lutar heroicamente, por entre chamas e turbilhões de fumo, num supremo esforço para salvar o estabelecimento da completa destruição. Várias firmas industriais da cidade forneceram prestimosamente os extintores de incêndio de que dispunham, os quais foram aplicados com os melhores resultados. A ação benéfica dos extintores foi auxiliada não menos decisivamente pelo copioso e incessante emprego da água, carregada em baldes por longas filas de populares, seminaristas e sacerdotes, de maneira que, às 4 horas da madrugada, o incêndio estava completamente dominado.
Vários sacerdotes praticaram verdadeiros prodígios de bravura e arriscaram a vida, no afã de circunscrever e abafar o incêndio. Alguns deles saíram feridos e tiveram de ser hospitalizados. O fogo destruiu completamente a despensa do Seminário e a parte superior em que se achava localizado o refeitório dos professores - e danificou numerosas peças contíguas. A população da Diocese de Caxias dirigiu ao sr. Bispo (Dom José Barea) um caloroso apelo no sentido de auxiliar o seminário a reparar os grandes danos causados pelo incêndio”.
A saber: o laudo pericial concluiu que “em nenhuma parte da instalação elétrica foi verificado qualquer sinal de curto-circuito, atribuindo, por fim, que o incêndio foi casual. Verificou o perito, ainda, que o prédio não estava segurado, estimando os estragos entre 80 e 100 mil cruzeiros”.
AUSÊNCIA DE FOTOS
Não conseguimos localizar fotos do incêndio em si, tampouco dos danos no prédio após o incidente. Caso você disponha de alguma imagem, entre em contato pelo e-mail do alto da página. A foto que abre a matéria integra o acervo do Museu dos Capuchinhos (Muscap).
FREIS CAPUCHINHOS
Dirigido pelos Freis Capuchinhos de 1939 a 1953, o Seminário Nossa Senhora Aparecida foi uma iniciativa do primeiro bispo de Caxias do Sul, Dom José Barea (1893-1951). Contando com 80 alunos naquele primeiro ano, o seminário teve, ao longo das décadas, fundamental importância no desenvolvimento e formação de centenas de jovens de Caxias e região, oferecendo lições de filosofia e teologia, além de atividades na agricultura, teatro e música.
A saber: em 2018, o seminário deixou de formar jovens para a vida religiosa.
OUTRO SINISTRO
Conforme destacado na reportagem de 29 de dezembro de 1945, “à mesma hora do incêndio no seminário, irrompeu outro incêndio de grandes proporções no centro da cidade”. Este foi melhor detalhado na edição de 16 de dezembro de 1945 do jornal “A Época” (reprodução acima):
“O outro incêndio, registrado na mesma madrugada, teve início nos fundos do Instituto Ruy Barbosa (do curso prático de guarda-livros) e, segundo o perito, teve como causa um curto-circuito. Além do edifício onde está aquele instituto - de propriedade do dr. José Agostinelli e sito à Rua Bento Gonçalves -, o fogo destruiu os dois prédios vizinhos: um de madeira, do sr. Cidio Muratore; e o outro de alvenaria, recentemente reformado. Os prejuízos nestes três prédios foram totais”.