Primeiro colunista social do jornal Pioneiro, o jornalista e escritor Christiano Carpes Antunes (1934-1967) também teve atuação no lendário Boletim Eberle, informativo interno editado pela metalúrgica entre 1956 e 1965.
Christian, como ficou conhecido posteriormente, era responsável pela seção “Ruas de Caxias do Sul”. Tratava-se de um delicioso relato com observações do que o colunista enxergava durante seus passeios pela área central, a evolução da cidade, o comércio, as casas e os modernos edifícios que iam surgindo a partir dos anos 1950 e 1960.
No Boletim Eberle de janeiro de 1959, Christian destacou a Rua Alfredo Chaves, cujo texto reproduzimos em parte a seguir:
“Os anos vão se sucedendo, a cidade vai crescendo no seu aspecto urbanístico e suas ruas vão se tornando mais belas, mais cheias de edifícios, casas comerciais e residenciais. Essa fenomenal fase de progresso pode ser verificada também na Rua Alfredo Chaves, que até há bem pouco tempo era uma das ruas mais inexpressivas em nossa Caxias do Sul. Essa via pública inicia defronte ao Estádio do Esporte Clube Juventude, cruzando a Rua Ernesto Alves e outras vias preferenciais, apresentando sempre um regular calçamento e subindo em boa elevação, até atravessar a Av. Júlio de Castilhos e a Rua Sinimbu.
Desde o seu início até o ponto onde se cruza com a Av. Júlio, não apresenta mais que casas residenciais, construções em madeira e alvenaria, simples e luxuosas. Ao atingir a citada avenida, na esquina à esquerda deparamos com a magnífica construção da Firma Metalúrgica Gazola Ltda, onde encontra-se instalada a firma Brazex Aços Máquinas Ltda. Na esquina fronteira encontramos o imponente Edifício Pizzamiglio, abrigando várias casas comerciais: farmácia, casa de máquinas para escritórios etc.
Prosseguindo em nosso passeio, em um prédio bastante antiquado, encontramos uma indústria: é a Fábrica de Confecções Sul-Brasileira Ltda (Banrisul). Essa quadra, até seu término, apresenta somente residências particulares. Na quadra fronteira, encontramos um Cartório de Notas (Balen), uma marcenaria e, na esquina com a Rua Sinimbu, a Cooperativa dos Trabalhadores Caxienses (residência da família Gobetti e atual Sorella Calçados). Atravessando a preferencial Sinimbu, encontramos ainda uma vulcanizadora e uma empresa transportadora de cargas (Expresso Cairú)”.
Trechos eternizados em fotos
Nas imagens desta página, vários dos pontos citados, como o Edifício Pizzamiglio – primeiro prédio residencial com elevador da cidade – e a antiga Brazex Aços Máquinas (Edifício Brazex, ainda com apenas três andares), ambos na esquina com a Júlio (acima).
Na foto abaixo vemos a sede e os caminhões do lendário Expresso Cairú de Transportes, além dos casarões das famílias Pauletti e Iotti – que, pouco a pouco, sucumbiram para dar lugar a prédios como o do Palácio do Comércio (na esquina com a Sinimbu).
Que outros locais, prédios e residências você identifica no trecho?
Chorões e lagos artificiais
A partir do cruzamento com a Sinimbu, as observações de Christiano recaem sobre o trecho “mais famoso” da Alfredo Chaves:
“Notamos, agora, que o calçamento em asfalto substitui os paralelepípedos. À nossa esquerda, deparamos com a Chácara Eberle. À nossa direita, após passarmos um edifício situado na esquina e onde encontra-se instalada a C.E.E.E. de Caxias do Sul e mais quatro casas residenciais, o panorama que descortinamos é maravilhoso. Vislumbramos os pavilhões da Festa da Uva de Caxias do Sul. Primeiramente, nos deslumbramos com os passeios do Parque da Exposição, verdadeiros tapetes verdes, recortados por estradas circulares, que nos levam a admirar, entre frondosas árvores e chorões, dois lagos artificiais, onde cisnes, marrecos e outras aves marinhas alegremente ali reinam com todo o seu esplendor.
No mesmo local, a garotada caxiense delicia-se com uma praça de esportes, balanços, gangorras e outros brinquedos espalhados por todos os lados. É dos pontos mais pitorescos da cidade. Agora, nos encontramos diante do Restaurante da Exposição. É um enorme pavilhão de madeira em estilo colonial. Em seguida, um enorme pórtico, sustentado por colunas e encimado por mastros reluzentes, serve de moldura para admirarmos os magníficos pavilhões da Feira Agroindustrial e os jardins floridos que enfeitam o auditório da Exposição.
Depois, atravessamos a preferencial Rua Tronca e, então, a Rua Alfredo Chaves, ao atingir esse ponto, não apresenta mais calçamento e, pouco a pouco, vai perdendo seu aspecto de via pública. É o fim, ou melhor, chegamos ao término da rua”.