Se a chegada do pavilhão próprio da Festa da Uva na Rua Alfredo Chaves, em 1954, marcou a fase de modernização do evento, o novo espaço pôs fim a outro ícone daquele ponto da cidade. Falamos da lendária Colina Fantasma, gramado que recebeu centenas de jogos do campeonato municipal e do certame varzeano de futebol entre a metade dos anos 1940 e o início da década de 1950.
O estádio, na verdade, era o campo pertencente ao Grêmio Esportivo Fluminense, antigo Grêmio Atlético Eberle, e entrou para a história do esporte caxiense por sediar vários Flu-Jus (Fluminense x Juventude), Fla-Jus, entre Flamengo (SER Caxias) e Juventude; e Fla-Flus. Também ficou eternizado pelas partidas entre os times amadores do Juventus, Pombal, Az de Ouro, Aymoré, Tupy, Gianella, Cruzeiro do Sul, Gaúcho, Floriano, Vera Cruz, Bangu e Cinematográfico.
Finaleira em 1953
A preocupação dos desportistas com o fim da Colina Fantasma teve início assim que começaram a pipocar as notícias do novo pavilhão da Festa da Uva. Artigo de Dorval D’Agostini no Pioneiro de 10 de janeiro de 1953, um ano antes de o prédio ficar pronto, já alertava para a necessidade de um “Campo Municipal” para os clubes amadores, que sofriam com a ausência das praças de esportes.
“Possuímos na cidade apenas cinco estádios, dos quais prevemos para breve o desaparecimento do tapete verde da Colina Fantasma, local em que serão construídos os Pavilhões da Festa da Uva. Dessa forma, os clubes esportivos de Caxias, em número superior a 15, legalmente filiados – sem contarmos entidades esportivas não filiadas e associações recreativas –, contam com apenas quatro estádios. Quatro praças esportivas aparelhadas somente para futebol, sem disporem de locais adequados à prática de outros esportes".
A saber: à época, Caxias contava com mais quatro espaços: a Baixada Rubra (Estádio Centenário), a Quinta dos Pinheiros (Alfredo Jaconi), o Campo do Gianella (Chacrinha) e o Campo do Tupy.
O Grêmio Atlético Eberle
Acima e abaixo, dois registros de atletas e jogadores do Grêmio Atlético Eberle junto ao gramado da Colina Fantasma, em meados dos anos 1940 – exatamente onde hoje situa-se o jardim da prefeitura. Na primeira foto, a equipe de atletismo, formada por funcionários da fábrica – onde vê-se a Catedral, o Carmo e o São José ao fundo.
Abaixo, o time de futebol, onde identificamos alguns nomes. Agachados, da esquerda para a direita, estão os jogadores Lambança, Ampilio Chiaradia, Tena Adami (goleiro), Julio Longhi e Cipriano Torresini. Em pé, a partir da esquerda, o presidente José Mocelin, Castelhano e os jogadores Osvaldo Vanoni, César Frizzo, Primo Gastaldello, Arlindo May, Fortunato Brocca, Alcides Bedin, um jogador não identificado, Rubens Bortagaray, Setembrino Reis, Dambroz e Décio Nabinger. À direita, de terno, os diretores de futebol Egídio Peletti e Eduardo Torresina.
Reformas em 1950
Conforme matéria do jornal “O Momento” de 14 de janeiro de 1950, o espaço também receberia melhorias para a Festa da Uva de 1950.
“O Grêmio Esportivo Fluminense introduzirá grandes melhoramentos no estádio da Colina Fantasma. Entre esses, construirá um pavilhão que poderá acomodar grande massa de povo”.
No total, a Colina Fantasma comportava cerca de 4 mil pessoas.
No telhado em 1948
Um episódio curioso que teve a Colina Fantasma como cenário foi a transmissão do jogo entre Grêmio Esportivo Fluminense e Juventude feita pela equipe da Rádio Caxias a partir de um telhado, em 19 de setembro de 1948.
A peripécia foi recordada pelo radialista Nestor Gollo à historiadora Tania Tonet em 2003 – e figurou no livro Rádio Caxias - 70 Anos: Memória e Identidade, de Marcos Fernando Kirst:
“Proibiram-nos (Gollo, Jimmy Rodrigues e Osvaldo de Assis) de entrar no estádio porque os diretores do Fluminense achavam que, nos programas de esportes que fazíamos durante a semana, enaltecíamos mais o Flamengo e o Juventude, deixando o Fluminense mais ou menos na lanterna. Irritaram-se e reclamaram para o Nestor Rizzo, mas os programas continuaram. Então, eles acharam que aquilo era um desaforo e disseram: ‘No nosso estádio, vocês não entram’!”.
Dito e feito: sem poder acessar o campo, o trio fez a transmissão de cima do telhado de uma casa na Rua Dom José Barea, em frente à Colina Fantasma. Castigo ou não, o Fluminense perdeu por 2x1.
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