Ponto de referência sócio-cultural da comunidade de Galópolis, o degradado prédio do antigo Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, em frente à praça, entrou 2022 com duas boas notícias: o provável tombamento pelo Patrimônio Histórico do Município - solicitado pela Associação de Moradores, em novembro -, e a indicação da Câmara de Vereadores para que R$ 1 milhão dos R$ 11 milhões devolvidos pelo Legislativo ao Executivo seja aplicado na recuperação de sua estrutura.
Além disso, na terça (11), o prefeito Adiló Didomênico autorizou um estudo de reforma do telhado como medida preventiva a maiores danos no prédio, comprometido de alto a baixo Desde 2011, o complexo pertence à prefeitura.
Enquanto todas essas definições não se concretizam, recordamos um pouco da história do prédio, que abrigou a última sede do Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, atrelado ao Lanifício São Pedro - e, entre 1980 e 1999, a sede administrativa do Lanifício Sehbe.
Trajetória
O Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos funcionou inicialmente junto a uma edificação de madeira com características da arquitetura colonial italiana tardia – com destaque para os clássicos lambrequins.
Construído para abrigar o Círculo de Leitura, fundado em 16 de novembro de 1929, o casarão localizava-se na esquina das ruas Ismael Chaves e Antônio Chaves e sediava a Cooperativa de Consumo, a Caixa de Socorro Mútuo, os grupos de bolão, bocha e futebol, o cinema e uma biblioteca, constantemente ampliada. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem, fundado em 1939, também se estruturou ali, antes de receber sede própria, em 1951.
Em 1939 uma nova edificação começou a ser construída, agora na esquina das ruas Pedro Chaves e Ismael Chaves. A sede operacional de serviços assistenciais passou a receber o ambulatório médico e farmácia, o jardim de infância (onde as mulheres deixavam seus filhos durante o trabalho na fábrica) e a Cooperativa de Consumo. Já a estrutura da antiga edificação de madeira foi destruída na primeira metade da década de 1950, em decorrência da construção de uma edificação maior, em alvenaria, para abrigar a sede social.
Erguida entre 1953 e 1955, a nova estrutura foi inaugurada somente em 1964, no quarteirão compreendido entre as ruas Pedro Chaves, Ismael Chaves, Hércules Galló e Praça Duque de Caxias. Nas fotos desta página, três momentos do prédio que dialoga com o cotidiano de diversas gerações de galopolenses: a construção, em 1958; quando foi sede administrativa do Lanifício Sehbe, nos anos 1980; e à época da interdição, em 2019.
Inauguração em 1964
O edifício de três pavimentos abrigava três salões de festas, um restaurante, barbearia, salas de jogos, aposentos para a família do ecônomo e quartos destinados a atender estagiários do lanifício.
Conforme reportagem do jornal Pioneiro, os associados festejaram a inauguração do moderno ambiente em outubro de 1964. Porém, antes da inauguração, em maio daquele ano foi realizado o jantar comemorativo aos 50 anos de casamento de Marieta Mazzuchini e Antônio Rigon.
Entre os convidados esteve João Laner Spinato, então gerente do Lanifício São Pedro e um dos fundadores do Círculo Operário no ano de 1929. Na imagem acima vê-se Spinato em pé, durante seu discurso, enaltecendo a satisfação de participar de um encontro festivo e familiar no salão do Círculo. À mesa estão o padre Adelino Schneider, João Spinato, a esposa Luiza e o casal Antônio e Marieta.
Múltiplas ocupações
Durante a administração Sehbe, de 1979 a 1999, o espaço do antigo salão de bailes foi transformado em atacado de tecidos. Na parte térrea, permaneceram a cozinha e o restaurante. Já as demais dependências do prédio viraram escritórios da empresa.
Porém, desde a aquisição do prédio pelo Poder Público, em 2011, até hoje, o local passou por uma série de ocupações e, principalmente, desocupações, que impediram a execução do projeto de revitalização. A ideia é transformá-lo na sede do Centro Comunitário e Cultural Galópolis, atendendo às demandas da comunidade que surgiram logo após a aquisição do espaço pelo município.
A saber 1: mesmo da compra do espaço pelo poder público, a Associação de Moradores de Galópolis, ainda que informalmente, já utilizava o espaço para armazenamento de materiais utilizados para os eventos organizados no bairro, como a Semana de Galópolis e o Natal no Vale Iluminado.
A saber 2: além da sede da AMOG, o prédio abrigou o Clube de Mães La Mamma, O Grupo de Artesanato Galoarte, o Ponto de Cultura Fortalecendo Laços. Com a interdição pelo Corpo de Bombeiros, em 2019, todas as atividades ali foram suspensas - algo que a comunidade espera reverter com o pedido de tombamento do prédio e um plano de recuperação e conservação por parte do Município.