Atire a primeira pedra quem não acendeu um ou, pelo menos, não tomou contato com aqueles espirais verdes que serviam — e servem até hoje — como repelentes de mosquitos e insetos.
Um dos tantos clássicos do veraneio gaúcho - em especial das praias “dos gringos” —, o famoso “Boa Noite” teve parte de sua história resgatada pelo colega Leandro Staudt, que também adora revirar o baú das memórias afetivas. Reproduzimos a seguir o texto original, publicado no último dia 29 de dezembro:
“O repelente em formato de espiral, de cor verde, ficava queimando na nossa volta. A fumaça tomava conta do acampamento ou da varanda da casa na tentativa de afastar os mosquitos. Certamente, o Boa Noite ou produtos de outras marcas também fizeram parte dos verões de vocês. Talvez, ainda façam. O repelente em espiral é fabricado por várias empresas, com diferentes nomes”.
A partir dessa lembrança, Staudt percorreu o caminho trilhada pela empresa Sul Química, surgida há mais de 70 anos, em Porto Alegre:
“A luta contra os mosquitos fez Oswaldo Ewaldo Streibel, saindo da faculdade de Engenharia Química, fundar a Sul Química Ltda. A pequena fábrica funcionava inicialmente na Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre. O primeiro produto, em 1948, foi o Matador, um repelente em forma de pirâmide, que era aceso e provocava fumaça. No livro Indústria de Ponta - Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul, Eduardo Bueno e Paula Taitelbaum contam que Streibel adquiriu, na mesma época, a marca Boa Noite de uma empresa argentina. Lançou o repelente diferente de tudo que se conhecia. Não precisava ser pulverizado, mas queimado. Se comparado com o cheiro dos produtos concorrentes, parecia incenso. O nome ficou Bôa Noite. Assim mesmo, com acento. Martin Streibel, filho de Oswaldo, lembra da fábrica já operando na Avenida Alberto Bins, vizinha da antiga sede da Sogipa. Ele me contou que o repelente em espiral também foi vendido com as marcas Matador e Sono Bom, mas o maior sucesso foi mesmo o do Boa Noite”.
Nas imagens acima e abaixo, duas versões da embalagem. E não é preciso dizer qual ilustração desperta mais lembranças. Como esquecer dos desenhos da primeira, com o “vivente” na cama de duas formas: dormindo tranquilamente, com o Boa Noite; com o chinelo a postos e um pernilongo inconveniente, sem o Boa Noite.
Variações e concorrência
Em 1978, com a fábrica já em Cachoeirinha, a empresa Sul Química lançou o repelente em pastilha, em um aparelho ligado na tomada. Com desenvolvimento tecnológico, o Boa Noite ganhou outros concorrentes. Mesmo assim, continua até hoje no mercado.
A Sul Química foi comprada pela goiana Hypermarcas (atual Hypera Pharma), em 2007, e a produção saiu do Rio Grande do Sul pouco tempo depois. O Boa Noite, que perdeu o acento, é produzido atualmente pela Flora, empresa do Grupo J&F, holding que também controla a JBS.