Atração turística de Caxias do Sul desde 1973, o relógio floral de São Pelegrino é um símbolo pouco lembrado até pelos próprios moradores da cidade. Projetado pelo empresário Remo Gianella a partir de um pedido do pároco Eugênio Giordani, o relógio começou a ser idealizado no início dos anos 1970 - época em que também passaram a funcionar a pleno os mostradores das horas nas quatro faces da torre.
A ideia seria que o relógio floral de Caxias fosse o primeiro do gênero no Brasil, mas o atraso nas obras impediu a inauguração para a Festa da Uva de 1972 —ano em que surgiram modelos semelhantes em Poços de Caldas (MG), Petrópolis (RJ) e Curitiba (PR). O próprio padre Giordani relatou o ocorrido em uma crônica publicada no Jornal de Caxias de 7 de dezembro de 1973:
“O que houve foi apenas a concretização de um adágio italiano que diz: “tra il dire e il fare, c´e in mezzo il mare” (Entre dizer e fazer, há o mar no meio). Somente isso. E, enquanto as dificuldades de toda sorte iam se avolumando, uma cidade de São Paulo e a capital do Paraná nos tolheram a primazia, inaugurando o seu relógio floral”.
Remo Gianella e Orlando Lazarin
Entregue à comunidade caxiense em 16 de dezembro de 1973, o relógio foi executado na oficina do Lanifício Gianella, por intermédio do então diretor Remo Gianella e do mecânico Orlando Lazarin. Matéria do Jornal de Caxias de 27 de julho de 1974 trouxe mais detalhes de todo esse processo:
“Ao completar Bodas de Prata, Remo Gianella e sua esposa, Mary Pezzi Gianella, viajaram pela Europa e, a pedido do padre Giordani, observaram e fotografaram relógios florais do Velho Mundo. Ao retornarem, Remo iniciou os primeiros desenhos, os primeiros cálculos de engrenagem e os estudos sobre a melhor maneira de acionar a parte mecânica. Concluído o projeto, ele foi executado na oficina do Lanifício Matteo Gianella, por intermédio de Orlando Lazarin. O trabalho foi finalizado em seis meses. O motor é de uma indústria paulista”.
Detalhes
:: Ao invés de números, o mostrador traz as 12 letras que formam o nome da paróquia: São Pelegrino.
:: O relógio possui cerca de 5 metros de diâmetro, com engrenagens e maquinário instalados em um túnel, no subsolo.
:: A estrutura está assentada sobre a silhueta do mapa do Rio Grande do Sul, moldada no canteiro. Foi o primeiro do gênero no Estado. Em 2017, foi inaugurado um modelo no município de Vila Flores.
:: Além de Curitiba, Petrópolis e Poços de Caldas, existem relógios de flores em Garanhuns (PE), Aparecida do Norte (SP) e Blumenau (SC).
Vandalismo no “Jardim das Horas”
Não foram poucos os episódios envolvendo depredação e vandalismo no relógio e no entorno da igreja. Matérias do Pioneiro do início dos anos 1990 já destacavam a preocupação da paróquia com os ataques.
Em maio de 1992, por exemplo, os ponteiros amanheceram retorcidos, obrigando o conselho administrativo a providenciar sua substituição. Conforme depoimento do então pároco Mário Pedrotti ao Pioneiro da época, “somente o relógio sofreu quatro investidas”.
O vandalismo, porém, remete ainda à época do surgimento da atração. Matéria do Pioneiro de 5 de janeiro de 1977 noticiava a prisão de um jovem de 20 anos “por ter quebrado os ponteiros do relógio floral da Igreja Matriz de São Pelegrino, fato que causou grande tristeza à comunidade católica do bairro”.
Na sequência abaixo, o relógio atualmente, fazendo vizinhança com a Via Lucis instalada na lateral da igreja.