Inaugurada em agosto do ano passado, a imagem em ferro de São Pelegrino, que com a mão esquerda estendida e dobrada para dentro convida os passantes da Avenida Rio Branco, ganhará companhia na área externa da Igreja de São Pelegrino, no bairro homônimo de Caxias do Sul. A Via Lucis (Caminho da Luz, em latim), conjunto de 14 estações que narram o mistério da ressurreição de Cristo, deve ser inaugurada durante a celebração da Páscoa.
Desenvolvidos em ferro pelo artista plástico radicado em Caxias Rogério Baierle _ que também é autor do monumento ao santo _ os quadros de aproximadamente 80 centímetros de altura por 50 de largura e 20 quilos cada foram patrocinados pela comunidade, sendo que cada benfeitor teve direito a receber uma réplica da peça patrocinada. Idealizador do projeto, o padre Leonardo Inácio Pereira conta ter se inspirado no Caminho da Ressureição presente na Catacumba de Calisto, em Roma. Parte de um projeto elaborado pela arquiteta Celina Galiotto Furlan, a intenção é, além de oferecer um novo espaço de oração e acolhimento, tornar o entorno do templo tão atraente quanto a deslumbrante área interna.
— A sugestão original era colocar os mistérios do rosário. Mas como estes já estão na Catedral e no Santuário de Caravaggio, pensei que seria mais original fazer a Via Lucis, que retrata o mistério central da fé cristã, que é a ressurreição. Futuramente, queremos imprimir um livreto, que trará um texto bíblico, uma pequena meditação e uma oração para cada estação. Desta forma o visitante, em mais ou menos 30 minutos, poderá passear por toda a obra e fazer suas orações — explica.
Artista que há pelo menos cinco anos se dedica exclusivamente à arte sacra, com especial atenção à temática franciscana, Rogério Baierle recebeu o convite para fazer a imagem de São Pelegrino como uma provocação do padre Leonardo, em resposta a sua sugestão de doar um Santo Antônio para uma rifa:
— Santo Antônio já está em tudo quanto é lugar. Por que não fazer um São Pelegrino para nos ajudar a divulgá-lo? — recorda o padre.
O resultado agradou tanto que o convite para emprestar seus traços à Via Lucis foi uma extensão natural da parceria entre Baierle, o padre e a arquiteta Celina, responsável pelo projeto arquitetônico. Para municiar o artista, cujo atelier fica a poucos quarteirões da igreja, o padre ofereceu algumas fotos da obra instalada na Catacumba de Calisto, tiradas por um colega que mora em Roma.
Para Baierle, é impossível fazer a arte sacra sem um profundo estudo do tema.
— A arte sacra exige um preparo muito grande, precisa ter muito respeito. Sem estudar a fundo, não tem como fazer. Neste tipo de arte, a inspiração está no estudo muito profundo do tema — destaca o artista.
Baierle também ressalta o papel evangelizador da arte.
— Da mesma forma que na missa o padre fala e as pessoas escutam, a obra de arte pode ter o papel de despertar a atenção de uma criança, por exemplo. É um complemento à palavra, como uma semente plantada no coração. Nestes tempos difíceis, se faz ainda mais importante ressaltar a paz. Ensinar a viver com menos orgulho e menos egoísmo, estender a mão ao próximo. Eu jamais vi um homem que estende a mão ou um agasalho passar frio, nem fome. Essa é a grande mensagem deste trabalho. Um dia nós não vamos mais estar aqui, mas o nosso louvor será eterno — filosofa.
Peças prontas já podem ser conferidas
O modelo utilizado pela paróquia para viabilizar a Via Lucis é semelhante ao de quando o padre Eugênio Giordani encomendou ao pintor italiano Aldo Locatelli as estações da Via-Sacra, cuja inauguração foi em 22 de maio de 1960.
Cada uma das 14 telas que retratam o flagelo de Jesus Cristo foi patrocinada por um paroquiano, incluindo casais, viúvas e irmãos. O padre Leonardo Pereira, contudo, brinca que há uma diferença fundamental nos dois processos.
— Quando Aldo Locatelli pintou a Via-Sacra, ele queria total autonomia e por isso todo o processo foi sigiloso, nem o padre Giordani podia ver. Tanto que até o dia da inauguração as telas ficaram cobertas por panos escuros. Desta vez, as pessoas podem acompanhar todo o progresso do desenvolvimento da obra. Mas não é uma diferença que a gente tenha provocado, foi coincidência mesmo — justifica o religioso.
A expectativa é de que a instalação da Via Lucis ocorra próximo ou durante a celebração da Páscoa, em 1º de abril. Em março, os quadros ficarão expostos na Casa da Cultura. As seis primeiras estações estão exibidas junto à Pietá, do lado esquerdo da entrada da Igreja de São Pelegrino.
As 14 estações
Primeira:
A ressurreição de Jesus (Mt 28,5-7)
Segunda:
Os discípulos encontram o sepulcro vazio (Jo 20,6-8)
Terceira:
O Ressuscitado aparece para Maria Madalena (Jo 20,14-16)
Quarta:
O Ressuscitado caminha com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-17.26-27)
Quinta:
O Ressuscitado é reconhecido ao partir o pão (Lc 24, 28-32)
Sexta:
O Ressuscitado aparece aos discípulos (Lc 24,36-40)
Sétima:
O Ressuscitado e o dom do perdão (Jo 20,21-23)
Oitava:
O Ressuscitado aparece a Tomé (Jo 20,26-29)
Nona:
O Ressuscitado na beira do lago (Jo 21,1-2.4-7)
Décima:
O Ressuscitado confere a missão a Pedro (Jo 21,15)
Décima Primeira:
O Ressuscitado envia os discípulos em missão (Mt 28,19-20)
Décima Segunda:
A ascensão de Jesus (At 1,9-11)
Décima Terceira:
Com Maria, à espera do Espírito Santo (At 1,12-14)
Décima Quarta:
O Ressuscitado envia o Espírito Santo (At 2,2-4)