
Aproveitando o lançamento do documentário sobre a propriedade rural dos Bertussi, em São Jorge da Mulada, distrito de Criúva, destacamos parte da trajetória de seu Fioravante Bertussi (1901-1990). Foi ele quem “comandou”, a partir da década de 1920, o casarão-símbolo da trajetória musical da família — lá nasceram os filhos Honeyde (1923-1996), Walmor, Wilson e Adelar. O imóvel foi a posterior residência de Adelar (1933-2017) e hoje é administrado pela terceira geração de descendentes.
Toda essa tradição musical, que ultrapassa os 100 anos, foi resgatada pelo colega jornalista Marcelo Mugnol, em uma reportagem especial da revista Almanaque, publicada em 26 de abril de 2008 — e cujos trechos reproduzimos a seguir.
Descendente de imigrantes italianos, Fioravante Bertussi nasceu em São Sebastião do Caí, em 1901. Clarinetista, mas com domínio de vários outros instrumentos, aos 17 anos ele já comandava a Banda da Criúva, para onde se mudou por volta de 1910. O “cargo” de maestro foi herdado de Oswaldo Cornelius, indicado em 1914 pelo então governador Borges de Medeiros para ser o regente de uma pequena orquestra a ser formada em Criúva.
A essa altura, conforme relatou Mugnol na reportagem de 2008, o jovem Fioravante havia se tornado o melhor “partido” daquelas plagas — além de conduzir o gado pelas coxilhas, era galanteador e tinha a sensibilidade da música.
— Na madrugada de 10 de novembro de 1920, dia do aniversário da Juvelina (Medeiros de Siqueira), que viria a ser a minha mãe, o Fioravante reuniu a Banda da Criúva e foi na janela dela tocar uma serenata. Era uma valsa que ele chamou de Juvelina. Não deu outra. Casaram dois anos depois — recordou Adelar em 2008, quando tinha 75 anos.

Dois Purungos Acoierados
Impossível dissociar a música do cotidiano na fazenda da Mulada.O patriarca Fioravante Bertussi possuía uma coleção de óperas em casa e incentivava os filhos a aprender música.
No começo, porém, Fioravante tinha certo receio. Não gostava muito da gaita – um instrumento de pouco prestígio na época – e preferia que os filhos não fizessem da música uma profissão.
Mas quando Honeyde comprou seu primeiro acordeon, aos 18 anos, e, após 40 dias, já se pôs a animar bailes, Fioravante arrefeceu. E se empolgou. Tanto que montou um conjunto com os filhos, chamado Dois Purungos Acoierados.
Pouco depois, em 1949, Honeyde e Adelar montaram a dupla Irmãos Bertussi – o resto dessa história, todo mundo conhece...

Era uma vez...
- 1901 - Em 8 de junho nasce Fioravante Bertussi, descendente dos imigrantes italianos João Bertussi Filho e Marieta Pozzer, em São Sebastião do Caí.
- 1915 - Já morando no distrito de Criúva, Fioravante passa a ter aulas de música com o maestro Oswaldo Cornelius, natural de São Leopoldo.
- 1918 - Fioravante Bertussi assume a função de maestro da Banda da Criúva, permanecendo no seu comando até 1928.
- 1920 - Fioravante compra a fazenda pertencente ao pai, João Bertussi, e mantida até hoje pela família.
- 1928 - O cinema mudo chega a Vacaria. Fioravante Bertussi é contratado para tocar ao vivo a trilha sonora dos filmes. Sai de Criúva e fixa residência por lá até 1932, quando chega na cidade o cinema falado.
- 1937 - É instalada uma pequena estação de geração de energia elétrica na Fazenda Bertussi, na Mulada. No mesmo ano é adquirido um rádio, que transforma o cotidiano de todos na vizinhança.
- 1938 - O padre de Criúva pede que Fioravante devolva os instrumentos da antiga banda da localidade. Até que isso ocorra, os filhos Honeyde, Valmor, Wilson e Adelar passam a manusear os instrumentos.
- 1941 - Honeyde compra seu primeiro acordeon. Vinte dias depois, faz o primeiro baile. Um ano depois, Fioravante acaba criando uma banda na família, a Dois Purungos Acoierados.
- 1945 - Honeyde começa a estudar música fora de casa.
- 1946 - O jornalista Jimmy Rodrigues convida Honeyde para tocar em um programa da Rádio Caxias. O sucesso é tão grande que o músico se tornou um convidado assíduo.
- 1948 - Adelar, então com 15 anos, é chamado para tocar em um baile no lugar do irmão, e “não faz feio”. Honeyde fica sabendo e decide comprar uma gaita para Adelar. Era o início da trajetória que transformaria os irmãos em ícones absolutos do acordeon e da música gaúcha - a partir dali, universal...
Linha do tempo reproduzida da matéria publicada pelo Pioneiro em 2008.

O filme
Dirigido por Fabrício Giaboenski, o documentário Fazenda Bertussi é apresentado por Gilney Bertussi, filho de Adelar e também acordeonista, como o pai e o tio Honeyde. O filme pode ser conferido no Instagram @fazendabertussi, no Facebook Fazenda Bertussi e no YouTube.
O projeto foi viabilizado pelo Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, executado pela Fundação Marcopolo com recursos da Lei Aldir Blanc.
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