Em 19 de fevereiro de 2012, por ocasião da estreia do documentário Adelar Bertussi - O Tropeiro da Música Gaúcha, produzido pela Spaghetti Filmes com direção de Lissandro Stallivieri, o caderno Almanaque publicou uma entrevista concedida à repórter Siliane Vieira na qual o acordeonista, na época com 78 anos, falou sobre a carreira, a parceria com o irmão Honeyde e sobre planos. Confira:
Almanaque: Para o senhor, qual é o segredo do sucesso?
Bertussi: Eu sou do povo. Sou povão. Vi muito artista passar a galopito por mim e nem me abanar a mão. Depois, lá adiante, achei ele com o cavalo estropiado, a pé, sem dinheiro e sem sucesso. E eu, no meu tranquinho, devagarinho, vou sempre para frente. Porque alguns artistas estufam o peito e parecem um sapo inchado. Se for falar com eles, tem que marcar hora. É uma coisa muito doida.
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Almanaque: Qual é o diferencial dos Bertussi? O que tornou a música de vocês tão reconhecida?
Bertussi: No rincão da Mulada, meu pai foi o primeiro italiano que chegou, em 1914, e depois se apaixonou por uma cabocla da terra. Nós aprendemos a vida campeira junto com aquela gente. Aquele lugar era antigo habitat dos índios caingangues, e vieram os paulistas birivas também. Por ser de terras menos acessíveis, ali foram se localizando os paulistas pobres, e vieram os açorianos. Ali para Mulada vieram os pobres. E onde tem este tipo de gente, onde tem pobre, tem alegria, música, cantoria, dança, falatório da vida alheia, briga, encrenca. E foi junto com essa pobreza que nós nos criamos, e estava cheio de gaiteiro ali, tocando aquelas músicas, o Boi Barroso, a Prenda Minha, tinha as folias do Divino Espírito Santo. Fomos criados naquele habitat de luta campeira, luta indígena, floreios de facão, meu bisavô era lutador de capoeira. Então a gente teve uma escola que só Deus mesmo para preparar. Está aí o nosso diferencial.
Almanaque: O Honeyde faz muita falta?
Bertussi: Me faz muita falta sim. Se ele estivesse aqui, poderíamos dividir a história, ele gostava de dar entrevista. Mas nós não tínhamos muita intimidade por causa da diferença de idade. Ele era 10 anos mais velho do que eu e me governava como se fosse meu pai. Mas às vezes era bom também porque ele dizia "Adelar, tu fica aí estudando que eu vou cuidar dos negócios". Então eu podia me dedicar à música.
Almanaque: O que o senhor mais gosta de fazer, atualmente?
Bertussi: Eu gosto muito de fazer pesquisa histórica do Brasil Grande do Sul. Tenho mais de 100 páginas no computador só de pesquisa. Mas sem dúvida, meu hobby mesmo é a gaita. Levanto todo dia, no clarear do dia, inverno e verão, para fazer exercícios de articulação. Inventei exercícios novos e já passei isso em livros. Já tenho dois publicados: Som Bertussi I e II.
Almanaque: O senhor gostou de participar das gravações do documentário?
Bertussi: Gravei 50 horas de depoimento, fiz questão. Também estou dando depoimentos para a (historiadora) Tânia Tonet. Acho muito importante para que, na hora em que eu morrer, a história não morra também.
Almanaque: Quais são os seus planos?
Bertussi: Quero lançar mais dois livros com minhas pesquisas históricas. Ainda este ano quero gravar mais um álbum de músicas gauchescas e pretendo gravar outro de semiclássicos, só instrumental. Depois disso, estou pronto para o Veinho lá de cima me receber.