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O velho casarão de madeira localizava-se na Rua Os Dezoito do Forte, quase esquina com a Marechal Floriano, e fazia vizinhança com a Praça Dante Marcucci e a primeira sede da Importadora Comercial Ltda, ainda quando esta era conhecida pelo nome dos fundadores: os empresários Armindo De Carli, Ottoni Zatti Minghelli, Eustáquio Mascarello Neto e Darvile Croda.
Essa breve descrição situa geograficamente um dos tantos estabelecimentos marcantes do bairro São Pelegrino nas décadas de 1940 e 1950: a Pensão Farroupilha – lembrada por ter sido também o embrião do famoso Excelsior Hotel, na Rua Sinimbu, a poucos metros dali.
Quem ajuda a recontar parte dessa história é Delso Storchi, ou melhor, seu Nei, 82 anos, filho caçula de Fernando Storchi – que, em 1947, associou-se a Evaristo Dalla Rosa e, logo na sequência, passou a tocar o negócio com o auxílio da família. Daí compreende-se a dedicação dos filhos ao ramo hoteleiro pelas seis décadas seguintes.
– Ajudava a servir as mesas, como garçom, levando a comida em tabuleiros de madeira – recorda Delso, à época com menos de 10 anos.
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História em livro
Conforme destacado na publicação "Hotel Excelsior – 50 Anos de Pioneirismo e Tradição", lançada em 2009, pensão e residência da família situavam-se lado a lado, em terrenos pertencentes ao jovem Girólamo Magnabosco (1923-2018).
Dotado de 33 quartos, o estabelecimento abrigava desde viajantes, mascates e colonos até trabalhadores da rede elétrica e hóspedes permanentes, além de oferecer refeições a funcionários da vizinha Companhia Vinícola Riograndense e a moradores do bairro.
Nesse trabalho, logicamente, toda a família auxiliava. Entram aí dona Maria Albé Storchi e os seis filhos do casal – além do caçula Delso, a prole era completada por Dário Carlos, Ladyr Dinarte, Dalvo João e pelas irmãs Elma Ida e Hélia Antônia, todos na imagem abaixo, captada no Studio Geremia na segunda metade da década de 1940.
– Na hora do almoço, costumávamos bater uma sineta que ficava na entrada do restaurante, para avisar que a refeição estava pronta”, recordou Dalvo na publicação de 2009.
Padre Giordani
Espécie de ponto de encontro para viajantes, comerciantes e comunidade do bairro, a pensão também era destino obrigatório do padre Eugênio Giordani, pároco de São Pelegrino.
Conforme seu Nei, “ele vinha tanto para abençoar o estabelecimento quanto para confraternizar com a família Storchi nos jantares de final de ano, aniversários e casamentos”.
Na sequência abaixo, alguns desses momentos, como o jantar das bodas de prata de Fernando e Maria, nos anos 1940.
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Origens em Ana Rech
Conforme detalhado na publicação de 2009, Fernando Storchi (também chamado de Ferdinando), a esposa e os filhos moraram inicialmente nas proximidades do Faxinal, em Ana Rech. A partir de 1930, Fernando manteve um curtume e, posteriormente, uma selaria – ambos localizados na “Zona Alegre”, como a comunidade costumava se referir ao Faxinal.
Exímio artesão de guaiacas, cintos, laços e badanas, Fernando viu crescer as vendas e o interesse das casas de comércio da área urbana por seus produtos. Resolveu, então, em 1943, deixar a zona rural e mudar com a família para o bairro São Pelegrino. A selaria veio junto, mas foi a hotelaria que acabou norteando o futuro da família a partir de 1947...